Gostei de ver e achei totalmente merecidos os aplausos com que os adeptos benfiquistas brindaram a sua equipa no jogo de ontem à noite. E gostei do agradecimento de Jorge Jesus, ficou-lhe bem e talvez só ele saiba como esses aplausos foram importantes naquela altura para o crescimento dos seus jogadores.
Eu confesso que desconfio sempre destes momentos e da ambivalência dos adeptos. Recordo por exemplo a final da Liga Europa de há dois anos com o Chelsea, e a receção calorosa que a equipa teve no regresso a Lisboa, depois de uma derrota de todo imerecida.
Mas esses foram também os adeptos que pouquíssimos dias depois incendiaram as bancadas do Jamor de revolta e ira, naquela tarde de final de taça de Portugal que Jorge Jesus classificou de um dos dias mais negros da sua vida.
Pessoalmente, prefiro jogadores frios que não liguem muito a ambientes. Prefiro jogadores capazes de em campo ser indiferentes aos aplausos, porque serão também esses os que serão imunes aos assobios. Gosto de jogadores que sob um coro de assobios não se escondem do jogo, nem que precisam de uma bancada inteira a cantar o seu nome para expressarem em campo o melhor lado de si.
Quando se fala de apostas falhadas por parte dos treinadores, especialmente num mercado como é o do Benfica e que é o mercado de jogadores de 19, 20 anos, essa é a variável que aos treinadores é impossível controlar. Porque os treinadores já perceberam a capacidade individual do jogador, já perceberam aquilo que são capazes de fazer num ambiente favorável em clubes mais pequenos e nos quais são tratados como ídolos e principais figuras...
Mas aquilo que não viram ainda é como reagem esses jogadores quando chegam a um grande clube, quando chegam como aprendizes onde têm de subir a escada a pulso e sujeitar-se ao escrutínio de seis milhões de adeptos... Essa sim, é a etapa da evolução que mata muitas outrora promessas que nunca hão-de singrar ao mais alto nível.
E por isso me rio quando vejo criticas a contratações falhadas, quando leio argumentos do tipo: “Ah e tal, se em vez de contratarmos 10 jogadores, devíamos ter contratado só os 3 que acabaram por singrar.” Como se estes iluminados fizessem sequer a ideia da margem de erro que está associada ao mercado que no fundo é aquele em que o Benfica se abastece.
Sonho com o dia em que estes iluminados expliquem aqui, como é que se distingue aos 19 anos um Di Maria de um Olá John, ou como se distingue um Witsel de um Djuricic. Que expliquem como é que se percebe o seu processo mental antes de ter os jogadores connosco, como se deteta onde está um Di Maria que, assobiado pelos adeptos, não se esconde do jogo, pede a bola e tenta de novo, e onde está um Olá John, que aos primeiros assobios da bancada ou ao primeiro ralhete de Jorge Jesus, amua e baixa os braços e não mostra vontade nenhuma de estar ali...
Como se distingue um Sidnei de um David Luís? Um Djuricic de um Witsel ou um Di Maria de um Olá John ou um Rodrigo de um Nélson Oliveira? Arrisco-me a dizer que o que os distingue não é tanto a sua capacidade individual mas a atitude que trazem com eles.
Por isso, sim, gostei dos aplausos do final do jogo de ontem. Gostei porque tivemos vontade, tivemos atitude, e os adeptos perceberam que a equipa merecia o benefício da dúvida, e que se calhar ontem tinha mesmo de pagar pelos erros da pré-época...
Erros como chegar a esta partida com Samaris e Cristante em regime de pré-época e aos quais não se pode exigir mais de momento, erros como ter visto Rodrigo e Cardoso partirem e ter cá ficado um jogador que na frente não faz golos, e ter chegado um Jonas que não pode jogar Liga dos Campeões.
Erros também de casting, como se ter já percebido que para substituir Garay chegaram Lisandro e César e parecer que nenhum serve, e porque não, e para que não digam que Jorge Jesus da minha parte não merece nunca qualquer critica, eu já ter visto, pelo menos 4 vezes, Vilas Boas dar um banho de bola a Jorge Jesus, jogando sempre da mesma maneira, com Hulk sempre com a mesma função e no mesmo lado do campo, e nesses mesmos 4 jogos ter visto Hulk ser sempre o melhor em campo e banalizar o Benfica em muitos momentos do jogo.
Por isso sim, souberam bem e foram merecidos os aplausos de ontem, mas que não se duvide que a cobrança será maior daqui para a frente... Como o Shadows bem disse, foi uma lição de realidade, que tenha servido para aprender, para crescer e tirar ilações importantes para o futuro...
É preciso um central mais rápido que Luisão ou Jardel, é preciso que Samaris e Cristante entrem rapidamente nas rotinas de jogo, Rúben Amorim faz muita falta, Artur é bem mais problema que solução, tal como faz falta um avançado que faça golos...
Mas aqui também, talvez os aplausos do final do jogo de ontem tenham significado apenas, e sem melindre de qualquer espécie, o reconhecimento da parte dos adeptos de que o Benfica neste momento não tem nível de Liga dos Campeões.
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