A chegada de José Mourinho ao Chelsea em 2004 marca sem dúvida alguma uma época no futebol. O Chelsea tinha sido adquirido por Abrahmaovic um ano antes, os grandes investimentos no clube tinham-se iniciado no clube, Cláudio Ranieiri tinha feito uma época assim-assim, e Mourinho chegou ao clube para ganhar e exigiu investimentos de acordo com a sua ambição.
E investiu. E muito. Na primeira época de Mourinho foram investidos em jogadores 143 milhões de libras (quase 200 milhões de euros).
Quem esteja mais atento a estas coisas vai achar piada ouvir falar José Mourinho este ano na treta do Fair Play financeiro por causa do Manchester City. Se ele não tiver memória curta (e não tem seguramente), vai saber muitíssimo bem que não há memória na Premiership de nenhuma época em que o desfasamento do nível de investimento entre um clube e os adversários fosse tão grande, como aconteceu em 2004!
Para se ter ideia do que digo, nesse mesmo ano de 2004/2005, o Manchester United, clube que dominava a Premiership como queria, investiu apenas 50 milhões de libras (contra os 143 do Chelsea), e praticamente tudo na compra de um só jogador, Wayne Rooney.
Na época seguinte, o Manchester United investiu... 28 milhões de libras contra os 81 do Chelsea, e em 2006/2007, outros curtos 27 milhões de libras contra outros 80 do Chelsea *(fonte:transfermarkt)
Não querendo aqui de maneira nenhuma retirar o mérito a José Mourinho nas conquistas do Chelsea, mas a realidade era esta – a realidade Abrahamovic – que alterou o paradigma da Premierhip por completo. Não mais a gestão dos clubes se faria por paradigmas de receitas e despesas. Havia agora a possibilidade que clubes sem história nenhuma “comprassem” grandeza e títulos, não através da gestão das receitas que o clube gera, mas através da fortuna pessoal de uns quantos magnatas que não sabem onde gastar o dinheiro.
Resultado: O Chelsea ganhou a Premiership nos primeiros dois anos de Mourinho, e Alex Ferguson e o Manchester United foram os primeiros a perceber que se queriam competir com o Chelsea, a solução só podia ser uma: acompanhar o Chelsea no investimento, porque a grandeza do Manchester United apenas, não chegava!
Na época seguinte, em 2006/2007, e já cansado de ver o Chelsea correr sozinho no mercado de transferências, Alex ferguson disse basta! E o Manchester investou 91 milhões de libras em jogadores...
...E os outros clubes que ambicionavam títulos tiveram também eles de ir atrás... E investiram também.
Os magnatas do petróleo lembraram-se de brincar ao futebol, compraram o West Ham, o Manchester City, o Portsmounth, o Birmigham, e tantos outros, e o futebol virou um jogo descontrolado onde se investe aquilo que os clubes têm e não têm e as receitas que não geram, tudo em nome de uns quantos latões nas vitrinas e da felicidade dos adeptos...
...E quem não gastou ficou para trás... E foi gozado, como o Arsenal tem sido gozado constantemente por José Mourinho, clube que pelo menos teve a decência de não entrar neste circo, e manter equipas competitivas a vender muito, a comprar pouco, porque durante 5 anos a prioridade foi pagar o estádio novo que construíram (e pagaram)!
Extrapolando toda esta história para o caso português, o que eu gostava era que cada Benfiquista aqui refletisse nas politicas que defenderiam, SE, um qualquer Abrahamovic se lembrasse por exemplo de investir uma qualquer fortuna pessoal num clube como o FCPorto.
O que defenderia cada um como rumo para o clube? Abdicar dos títulos em nome do controlo do passivo? Investir aquilo que se tem e o que se não tem, porque um clube como o Benfica vive sobretudo de títulos e da paixão dos adeptos?
Iriam aqueles que hoje defendem a maioria da SAD no clube mudar de opinião e defender que também o Benfica deveria ser vendido a um qualquer magnata de camelos, para que pudesse disputar competições em Portugal e na Europa?
Bem, eu tenho a minha opinião...
A racional, que me diz que o Benfica é dos sócios, que o Benfica tem de ter contas equilibradas e que deve lutar com as armas que tem...
E a emocional que me diz, que se f&$a isso tudo! Eu quero é ganhar títulos, eu quero é gritar Benfiiicaaaaa bêbado no Marquês, eu quero é ver os tripeiros sofrer com as nossas alegrias, e se é o magnata dos camelos que me dá isso, pois que se jogue com a foto de um camelo na camisola!
Retirando aqui agora este hipotético cenário Abrahamovic no FCP e falando de um modo mais realista, Luís Filipe Vieira já anunciou a necessidade de redução de custos na próxima época, e um investimento mais limitado no futebol.
O SCP foi o primeiro a fazê-lo, o Benfica parece vir a seguir (uma ideia que no papel qualquer Benfiquista aplaude), mas... E se o FCP não o fizer?
E se o FCP, por artes mágicas, continuar a ter soluções para investir no mercado e construir planteis bem mais fortes que o nosso?
E se o FCP continuar a ter mais condições para ganhar?
O que dirão então os Benfiquistas? Grande LFV que foi capaz de equilibrar e estancar o crescimento do passivo? Ou “Vai para a rua LFV, que contigo foram apenas 3 campeonatos em 20 anos?!”
Esta é pois a pergunta em que tem de se refletir...
Eu continuo a pensar como sempre pensei: O Benfica vive de títulos, e se quer ambicioná-los, a ÚNICA solução é encontrar soluções para continuar a investir ao nível dos outros candidatos!
Não há outra solução! Não há cá falinhas bonitas de o que importa é o passivo, porque um Benfica que não ganhe não é um Benfica equilibrado, é um Benfica que perde receitas de televisão, de vendas de jogadores, de quotas de sócios, de merchandising, estádios mais vazios, ano após ano!
Num ano em que se anuncia redução de custos e em que os fundos de jogadores parecem ter os dias contados, projetar um Benfica de ambições europeias parece-me uma utopia de todo tamanho...
Podiam até ter razão alguns críticos de que com Jesus o Benfica nunca será um Benfica Europeu!
Podiam até ter razão alguns críticos de que Jesus só é bom contra os Penafiéis e as Académicas!
Como sabem eu discordo dessa visão, mas ainda que assim fosse, eu sou dos que acha que até mesmo para ser bom com Académicas e Penafiéis é preciso ter arte! E nem todos a têm! Se é Jesus que me garante campeonatos nacionais com regularidade, aquilo com que acho realisticamente ser possível sonhar neste momento, digam-me onde assino, que eu assino já.
E ainda assim... Apenas até ao dia em que um qualquer Abrahmovic pegue no FCP... E obrigue o Benfica a ir atrás...
Sim,
A politica desportiva do Benfica será sempre um camaleão, e estará sempre dependente daquilo que os seus rivais fizerem...
O caminho do Benfica é APENAS E SÓ GANHAR, com o Vieira, com o Quintino ou com o Abrahamovic, com sócios ou clientes, com receitas dos bilhetes ou das prostitutas da Albânia...
A missão de LFV é encontrar receitas que tornem a ambição dos Benfiquistas um sonho possível de alcançar...
No dia em que não conseguir, no dia em que os sócios tiverem de optar entre balanços equilibrados e golos, será sempre quem for capaz de garantir os golos, o candidato que falará mais alto ao coração dos Benfiquistas.
LFV saberá seguramente isso como ninguém.
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