Ontem foi um dia histórico. Eis que após cinco anos a discutirmos neste blogue o tema da formação, eu sou capaz de explanar ideias que são velhas e que defendo há anos, e merecer do GB um comentário: Estás carregadinho de razão companheiro.
Mas no fundo também, apesar de divergências antigas, eu estou com ele na tristeza de não podermos ver jogadores como Bernardo ou Cancelo (sim, porque este também vai), ter pelo menos a oportunidade de jogar dois ou três anos com a nossa camisola. Para mim, o problema nunca foi a nacionalidade nem a origem, é o mérito e a qualidade, e para mim, quando ela existe, como parece ser o caso nestes dois jogadores, tem de haver forçosamente um lugar entre nós, no seu devido tempo evidentemente.
Aquilo que eu espero que o GB tenha percebido com o meu post de ontem Ofical: Benfica vence a Liga dos Campeões dos euros, é que a grande divergência não se deve à formação em si, mas às consequências práticas da sua aplicação. A meu ver, e eis aquilo que sempre defendi, esta história do Benfica Made in Benfica nunca passará de um sonho lindo, mas com escassíssimas hipóteses de aplicação real.
Um Benfica Made in Benfica será sempre um Benfica mediano, simplesmente porque os melhores saem ao fim de 10 jogos. Sai o Bernardo, sai o Cancelo, saiu o André, e sairá o Guedes dentro de pouco tempo.
Uma coisa é falarmos num Barcelona Made in Barcelona, onde, havendo Messis e Iniestas, são formados para ficar em Barcelona a vida toda. Outra coisa é sermos um Benfica ou um Peñarol, clubes que fruto da sua situação financeira e até de grandeza no panorama internacional, estão condenados a perder as suas pérolas (nacionais ou estrangeiras) ao fim de uma boa época.
Mas há mais:
Também ontem, o GB escreve um post comentando a recusa da renovação de contrato por parte de Baldé, vendo ele neste caso um exemplo com probabilidades fortes de se tornar a regra para outros jogadores.
Mas também isso não é novo e aqui anuncio há anos, como uma consequência óbvia desta bandeira do Benfica Made in Benfica que alguns líricos atiram para o ar.
É muito mais fácil ir buscar um Di Maria à Argentina aos 18 anos, pagar-lhe um ordenado jeitoso, oferecer-lhe um contrato de 5 anos com uma cláusula de rescisão de 45 milhões, do que ter um Di Maria nos nossos juniores, que aos 17 anos anda a brilhar em montras como as Ligas dos Campeões para miúdos, jogadores a quem fruto da idade o Benfica só pode oferecer contratos de 3 anos (ou seja, até aos 20 anos de idade), e que têm já mais de meio mundo atrás de si prontos a fazer a cabeça aos empresários e a deitar-lhes a mão à primeira oportunidade!
Isto, aliás, é o que segundo me parece anda a acontecer com o Gonçalo Guedes. O moço já fez 18 anos, anda a jogar na equipa principal e segundo consta ainda não renovou contrato. Mantém aquele que tinha assinado aos 17 anos e que termina aos 20 anos, e tem o empresário a anunciá-lo a meio mundo e a adivinhar que pode vir a ser melhor que Cristiano Ronaldo (aqui). Que força negocial tem o Benfica em casos destes? Pouca ou nenhuma!
E neste aspeto não faço distinções. Edgar, Miguel, Manuel Fernandes, Hugo Leal, Maniche ou Jorge Ribeiro já me mostraram que quando toca a falar de euros na conta bancária, o facto do coração ser benfiquista ou "Pañarolense", não faz os corações bater de maneira diferente.
E neste aspeto não faço distinções. Edgar, Miguel, Manuel Fernandes, Hugo Leal, Maniche ou Jorge Ribeiro já me mostraram que quando toca a falar de euros na conta bancária, o facto do coração ser benfiquista ou "Pañarolense", não faz os corações bater de maneira diferente.
Tudo isto, repito, não são argumentos CONTRA a formação. São argumentos que no meu entender são a consequência prática dessa aposta, e a razão pela qual esse sonho que nos anunciam não passa de fumaça da grossa. O Benfica, queira-se ou não, será tão formador como um Peñarol! Formador sim! Mas formador para outros clubes usufruírem dos jovens talentos. Muito pouco tempo ficarão entre nós!
E agora importa perguntar? Qual a solução para resolver estes problemas? Só há duas no meu entender:
1. Capacidade financeira do Benfica para segurar estes miúdos dois ou três anos, e não depender financeiramente destas vendas, o que pelos vistos não acontece;
2. Que hajam de facto apostas do Benfica em alguns miúdos da prata da casa, para que aqueles que veem atrás, vejam ali um exemplo que lhes mantenha o sonho aberto, e que sintam que são parte do projeto. Não creio que vender Bernardos ou Cancelos antes de jogarem uma época sequer de águia ao peito seja motivador para Baldés nem para ninguém. Os jogadores para ficarem têm de querer jogar no Benfica e sentir que esse sonho é uma possibilidade. Se não sentem, a prioridade passa a ser resolverem a sua vidinha o quanto antes.
E isto leva-me para Cancelo. Vi a sua pé-época na Luz este Verão e não gostei. Vi um jogador com medo de ter a bola nos pés. Não duvido do seu potencial mas duvidei da sua mentalidade.
Há três semanas vi-o fazer 45 minutos formidáveis contra o Almeria, num jogo grande, num jogo de homens. Não vi um Cancelo melhor nem pior do que já conhecia. Todos sabem que a atacar Cancelo é bestial, a defender é que é o problema, e nesse grande jogo, Cancelo não foi posto à prova defensivamente.
Mas mentalmente vi um jogador diferente, confiante, a pedir a bola no pé, a ir sem medos para cima do adversário. E isto levou-me a perceber o quanto um ambiente propício, um incentivo dos treinadores, uma prova de confiança num jogo difícil, pode mudar o ship mental de um jogador.
Foi o mesmo que vi em André Gomes na final da Liga Europa, quando a maioria o rasgou de alto a baixo, quando a maioria confirmou o quanto estava feliz com a sua venda, e o jogo em que eu vi (e escrevi): O dia em que vi nascer um grande jogador de futebol, situação que hoje se confirma. Que grande jogador André Gomes tem sido em Valência!
Arrisco hoje a dizer o mesmo de João Cancelo: Vai ser grande!
E como acho que ele vai ser grande, e como acho que este jogador seria ouro nas mãos de Jorge Jesus, é essa a razão porque acho que estas vendas dos putos não têm nada a ver com Jorge Jesus. São decisões diretivas, justificadas em balanços mas não em matrizes de caráter desportivo.
João Cancelo é a cara de Jorge Jesus: Um jogador rápido, de tração à frente, desequilibrador, com algumas dificuldades em defender. Mas ainda assim, defende seguramente melhor do que Fábio Coentrão ou Melgarejo quando foram adaptados à posição de lateral esquerdo.
Se Jorge Jesus é capaz de ensinar Coentrão a defender em 6 meses, para Cancelo 3 ou 4 chegariam. Esta venda anunciada é decisão de Jorge Jesus?! Simplesmente não acredito!
E por isso, é o que digo:
Este Benfica Made in Benfica é uma fantochada, é o Cash Made in Seixal que também há muito anunciei.
O que não tem nada de errado, diga-se. Se calhar também aqui LFV foi inovador e encontrou no Seixal uma enormíssima fonte de receitas, tal como ao longo dos anos foi capaz de encontrar outras.
Talvez os miúdos continuem incapazes de viver o sonho de jogarem com a camisola principal do Benfica... Mas também aí, não mudará nada... O Benfica continuará o seu percurso como até aqui, e em abono da verdade, nunca dependeu deste filão para construir a sua gloriosa história.
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