As expectativas de Vieira e de Jesus

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Monday, January 5, 2015

As expectativas de Vieira e de Jesus


Eu não tenho duvidas que Jesus e Vieira gostariam de continuar a trabalhar juntos nas próximas temporadas. Tenho também poucas dúvidas que Jesus seja o melhor treinador que o SLBenfica pode ter, ou melhor que pode pagar (é possível pagar menos, mas também são inferiores... é possível pagar mais e nem assim ter melhor).

Não tenho, por outro lado, qualquer dúvida que se Vieira decidir quebrar o vínculo com Jesus é bom que haja um motivo muito forte para assumir o risco de substituir um treinador há seis anos no clube.

Sim, é verdade que há muitos momentos em que Jesus nos irrita profundamente e se tenta transformar a si próprio num "todo poderoso" que ainda não percebeu que só prejudica o seu trabalho.

Também é verdade que havia Benfica ganhador antes de Jesus, e continuará a haver vitórias e Benfica depois de Jorge Jesus sair do SLBenfica seja lá isso quando for.

Mas que não haja dúvidas, vamos passar pelo mesmo que o Manchester United está a passar... Um ou dois anos de necessidade de introdução de novas formas de pensar, estar e trabalhar o treino e o jogo. Porém não tenho dúvida que possivelmente iremos também ganhar de forma breve noutros aspectos, porém menos relevantes para o que os adeptos realmente querem: vitórias.

Do meu ponto de vista a situação é a seguinte:

- Luis Filipe Vieira gostaria de manter Jesus no Benfica por muitos mais anos, mas não tem capacidade para lhe melhorar o contrato nem para lhe melhorar a possibilidade de trabalhar com jogadores de craveira europeia já cimentada e que lhe permitirão fazer mais nas provas europeias, nomeadamente na Champions, ou mesmo nas fases mais adiantadas da Liga Europa. Por outro lado, os sócios, a estrutura e o público em geral reclama pela concretização da estratégia de aproveitamento do Caixa Futebol Campus não apenas a nível financeiro, mas principalmente a nível desportivo.

- Jorge Jesus também acredito que queira ficar muito mais anos no SLBenfica porém, legitimamente, ambiciona trabalhar com jogadores consagrados durante dois ou três anos e poder ambicionar a ir longe nas Liga dos Campeões ou, no mínimo, ir à terceira final da Liga Europa, mas desta vez com sucesso. Não tendo isso, uma melhoria salarial era benvinda. Ao nível da formação, Jesus nunca escondeu que tem outras ideias.

- Os benfiquistas, genericamente, creio não estar a fugir muito à realidade se disser que também preferiam manter Jorge Jesus do que ver a substituição do treinador. Porém demonstram incómodo na dimensão "galáctica" do vencimento e reclamam pela oportunidade aos jogadores da formação, especialmente quando vêem chegar à Luz todos os anos jovens de 19/20 anos estrangeiros ou ouvem o treinador dizer sobre alguns desses jogadores que "estão a aprender".

Já repararam o ponto onde estamos?

Esta conjugação de vontades não é fácil de conseguir! Jorge Jesus sabe disso e, por esse motivo, "chutou" para o final da temporada a discussão deste tema, segundo referiu Vieira, na expectativa de que outros interessados possam alterar a posição do Presidente. Já Vieira sabe que não tem capacidade para dar mais dinheiro ao treinador (nem para ele, nem para jogadores) e "carrega o tom" na utilização dos jogadores da formação.

Eu diria que dificilmente alguma situação alterará a posição de Luis Filipe Vieira, mesmo acreditando que talvez o próprio gostasse para poder encerrar este dossier de forma favorável para todos. A única via possível talvez fosse, a este nível, aumentar os prémios de jogo em caso de vitória de competições.

Porém, do lado de Jesus há um cenário a ter em conta: Tal como o próprio refere, sem conquistas europeias e pelo contrário com uma bastante má prestação na Champions, as portas da Europa de topo com dinheiro fecham-se - e eu acredito que os mercados "abertos" a Jesus já não fossem muitos (Espanha, França e Itália). Dito isto,  Jesus pode perfeitamente acreditar que é preferivel aceitar um "novo projecto" no SLBenfica para formar jogadores do clube e ir buscar alguns até à fasquia dos 4 ou 5M€ que possa também trabalhar, apontando a uma ou outra contratação mais sonante... do que ir para campeonatos menos atractivos tipo os da Ásia, onde poderá ser bem pago.

O treinador tem "a faca e o queijo na mão" no que diz respeito ao futuro! Talvez Vieira "perca a cabeça" se Jesus lhe entregar, como todos desejamos, o bi-campeonato e entrar na "galeria dos notáveis" mas as finanças "estão curtas" para isso e o potencial de ir buscar jogadores que rapidamente entrem na rota dos muitos milhões, num mercado europeu que está a contrair cada vez mais.... também dificultam essa via.


Em suma, quando estiverem realmente irritados com o Jesus pelas suas atitudes, lembrem-se que o SLBenfica desta temporada vai na frente porque os jogadores estão a executar na perfeição um trabalho "de casa" notável do treinador que impõe aos seus jogadores um domínio muitíssimo exigente das várias variáveis do jogo ou, como ele costuma referir "dos momentos do jogo". É verdade que, apesar das limitações, é legítimo pedir mais à qualidade do jogo, porém como dizia o Trapattoni, se não conseguimos ganhar como gostaríamos, é importante que pelo menos ganhemos.

Este "trabalho de casa" tornou-se num modo de treinar, estar e jogar em campo por parte dos jogadores. Podem render mais uns que outros, mas Jesus EXIGE que todos saibam em campo o que ele quer, o que pensa, o que ele define. Se o souberem, a probabilidade de vencer é grande... se o souberem e forem grandes jogadores... vencemos com nota artística.

É por isto que, apesar de tudo o que me irrita em algumas decisões do Jorge Jesus, eu sei que esta vertente transforma a mudança de treinador num processo que, como todos os outros, se ultrapassa com maior ou menor dor e impacto conforme o sucessor escolhido... mas se eu tiver como evitar, então prefiro isso, porque mais do que me identificar com o treinador... eu identifico-me com as vitórias do Sport Lisboa e Benfica, que amo incondicionalmente.

Sabendo que a aposta na formação é um imperativo da Direcção, pelos motivos já expostos pelo Presidente, espero que esse motivo não seja forte o suficiente para Jesus não aceitar um "novo projecto" na Luz para trabalhar a matéria prima existente no Seixal.

Notem bem que, tal como tem sido várias vezes mal interpretado, o que está em causa não é fazer um 11 com jogadores da formação /equipa B, num exercício muito básico, se isso tivesse sido aplicado este ano, seria termos alguns destes exemplos:

João Teixeira ao invés de ter investido 6M no Cristante. O suplente do Maxi ser o Cancelo ou o André Almeida ter sido a escolha que evitava o investimento de 10M€ em Samaris. O Rui Fonte ou o Nelson Oliveira ter sido a escolha para o lugar de Derley. O Ivan Cavaleiro ser o suplente rotativo de nas alas atrás de Gaitan, Salvio ou mesmo Ola John. Lindelof ser o 4º central ao invés de César. Bernardo Silva disputar oportunidades como alternativa nos suplentes para a esquerda ou atrás do avançado juntamente com Talisca.

Ou seja, estamos a falar de não ter ido buscar Cristante, Benito, Derley, César e Bebé, nem feito regressar Jara. No limite não ter contratado Samaris.

Será que o SLBenfica num projecto onde as segundas linhas sejam prioritariamente escolhidas a partir da formação (eu disse prioritariamente e não exclusivamente), seria assim tão mais fraco do que temos tido esta temporada? Entre Jara, Cristante, Benito, Derley, César e Bebé estão acumulados cerca de 2.500 minutos. Qualquer coisa como cerca de 420 minutos por jogador... não chega sequer a 5 jogos completos (4,6 concretamente) a cada um... quando já se disputaram cerca de 25 jogos.

Agora façam as contas, num cenário desses, a aproximadamente 6+2+1+2+3M€=14M que estão investidos nestes jogadores este ano (fora salários). Possivelmente dariam para contratar um jogador de qualidade na Europa por ano para colmatar saídas estratégicas ou para fortalecer a equipa.

Não creio que a estratégia advogada pelo Presidente seja abdicar de ter jogadores titulares como Gaitan, Enzo, Luisão, Maxi, Julio Cesar, Rodrigo, Ramires, etc. mas sim que as alternativas a estes sejam trabalhadas para renderem desportiva e financeiramente quando houver oportunidade, fomentando essas oportunidades e evitando a necessidade de contratações para o banco ou para a bancada.

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