Sim... porque o Benfica tem milhões investidos no departamento de formação e prospecção jovem. Logo, a ausência nacional de medidas de fomento à aposta em jogadores da formação é e deveria ser uma medida prioritária de rever na Liga e na FPF.
Vou repetir o que todos dizem e parece óbvio, mas que há ainda muitos inconscientes que parecem não perceber: O Futebol Português possivelmente irá sucumbir em menos de 10 anos se mantivermos este rumo. E isso vai começar a notar-se brevemente, quando a selecção começar a ter cada vez piores classificações, assim termine a "Ronaldodependência".
Muitos dos que comentam neste blog e que acompanham o futebol dizem "que se lixe, nessa altura logo se muda, agora quero é gajos a chegar à Portela e ter orgasmos cada vez que vender por 30M€ um desses".
Boa! É de atrasados mentais assim que os "patrões do futebol nacional" se aproveitam para montar os seus esquemas e negócios de enriquecimento. Eles agradecem que haja muita gente a querer ver chegar aos seus clubes "camiões de jogadores". Do Benfica ao Arrentela, todos os anos é a mesma coisa... são quatro brasileiros, dois argelinos, um argentino... parece a sociedade das nações!
Na verdade, pouco interessa os motivos que levaram esses miúdos a acreditar que valia a pena deixarem os seu países e depois passarem, em grande parte dos casos, vários meses sem receber ordenados. Pouco interessa se no final dessa temporada esses jogadores acabarão por ir embora, uns com dividas a receber, outros que nunca verão a cor do dinheiro... mas os empresários e amigos dos dirigentes, e muitas vezes os próprios dirigentes, esses já estarão orientados no respectivo bolso.
Todos os anos entrarão em Portugal mais de 50 novos jogadores vindos do estrangeiro por cada das ligas profissionais. Outros tantos saem porque é preciso "alimentar a máquina", pelo caminho a felicidade de dirigentes e empresários e, pasmem-se, dos adeptos mais ainda que cada jogador que vêem chegar é um craque que acreditam "este é que vai ser". Quantos de nós, mesmo os mais péssimistas como eu, já não desejaram para si que o Karnezis seja melhor que o Oblak? É sempre assim...
Quando se diz que não se percebe porque não se aposta na formação... é preciso perceber que quem manda tem muito a perder nas teias de negociações que se fazem por essas centenas de jogadores. Enquanto não houver uma nova vaga de dirigentes mais preocupados com os clubes do que consigo próprios e com os benefícios (legais, vamos acreditar) que tiram destes negócios...
Mudar é muitíssimo simples... assim houvesse vontade. Vejamos 10 medidas rápidas que nem sequer foram muito estruturadas e que me lembrei assim do nada (o que quer dizer que poderiam ser melhoradas):
1) - Limitação do número de estrangeiros não comunitários (há leis que não podemos fugir) nas camadas jovens. Salvo residência e emprego dos pais em Portugal, não seriam aceites jogadores extra-comunitários até à maioridade.
2) - Limitação de inscrição de estrangeiros não comunitários nas equipas profissionais: Em Itália só podem inscrever, penso, um novo extra-comunitário por temporada desportiva. Em Espanha há limitação de extra-comunitários. Em Inglaterra há regras muito rígidas. Na Russia também... Enfim, em todo o lado, mas em Portugal... free pass! Não pode ser. Deveriamos não só limitar a dois novos extra-comunitários por temporada, como não permitir que cada equipa tivesse mais que 20% de extra comunitários, ou seja, nunca mais que 5 extra-comunitários inscritos (dado o advento das equipas B e para evitar "esquemas" seriam 5 atletas na soma das duas equipas).
3) - Aumentar o numero obrigatório mínimo de jogadores formados em Portugal, em cada equipa (mesmo tendo em contas as equipas B). Cada jogador formado em Portugal que igualmente fosse formado no clube, teria um rácio de 2:1, ou seja, se o numero mínimo de atletas formados em Portugal fosse de 12, bastaria inscrever 6 formados no clube.
Alterar o focus em jogadores formados no clube para jogadores formados em Portugal, permite que os clubes mais modestos e sem grandes recursos para formação, possam beneficiar de empréstimos e dispensas de clubes que formam jogadores e depois não podem aproveitar todos.
4) - Eliminar a possibilidade de escrever a equipa sem cumprir o factor da alínea anterior. Ou seja, o plantel tem obrigatoriamente que ter esses jogadores e não podem inscrever a equipa deixando essas vagas em aberto, como é possível hoje.
5) - Incentivos fiscais da parte do Estado a equipas que superassem os rácios mínimos obrigatórios para jogadores formados em Portugal.
6) - Obrigatoriedade de incluir nos 18 convocados um jogador formado no clube em cada jogo oficial da Liga de Clubes
7) - Analisar legamente o fim do estatuto de igualdade dos cidadãos brasileiros em Portugal. Não faz qualquer sentido um jogador brasileiro contar como português do Brasil. Em Portugal não há falta de jogadores e no Brasil há excedente... isso rebenta com as vagas nos planteis em Portugal ocupadas por jogadores brasileiros. Só o Benfica tem 9 brasileiros... o Braga tem 11, depois a média nacional é de 5 a 7 por plantel.
8) - 10% do valor das mais-valias obtidas com transferências de jogadores estrangeiros deveria ser obrigatoriamente canalizado para suporte, manutenção ou desenvolvimento de infra-estruturas e recursos afectos à formação (custos com treinadores, prospecção, campos, etc.). Este processo deveria ser auditado anualmente por um entidade externa com supervisão da FPF.
9) - Alterar o formato da Taça da Liga para Taça da Liga Jovem, onde na prática funcionasse com as equipas da duas principais divisões dos campeonatos de Juvenis e Juniores e onde teriam obrigatoriamente que jogar 4 jogadores com mais de 23 anos. Ou seja, inverter totalmente o conceito! Passar a ser uma taça para jovens a partir dos 16 anos, mas em que tivessem que ter o suporte de jogadores do plantel principal. Seria uma espécie de "montra" dos jovens para os clubes com maiores possibilidades.
10) - Implementar um taxa de impostos mais reduzida para transferências de jogadores formados no clube vendedor, na prática um benefício fiscal que ajude a aumentar o valor líquido das transferências para o clube, caso o jogador vendido seja da formação. Assim 10M€ de um jogador da formação poderiam representar um valor líquido superior a uma receita igual na venda de outro jogador.
Alguma destas 10 medidas impedia o Benfica, por exemplo, de ter contratado Markovic, Enzo Perez, Gaitan ou Garay? Não! Algumas destas medidas obrigava o Jesus a manter no plantel alguém? Não...
Simplesmente obrigavam o Benfica, e todos os outros, a pensar primeiro na formação e só contratar jogadores que fossem efectivamente muito melhores que os da formação, poupando imenso dinheiro, fomentando o futebol português e criando valor para a selecção nacional. Num cenário destes qualquer um dos jogadores que vez a diferença no SLBenfica teria vindo para o Benfica de qualquer das formas... simplesmente haveria muitos outros, que pouco ou nada acrescentaram, que nunca teriam vindo para o SLBenfica, sendo esse espaço ocupado por jogadores jovens da formação.
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