Vamos pôr as coisas como elas são, o Presidente não tem jeito para aquilo. O Presidente, ao fim de 14 anos de clube, continua a ser tímido e a não transparecer confiança quando fala em público, mesmo quando o faz na sua casa, ou se quisermos, na sua própria televisão.
O Presidente não vai a debates eleitorais por causa disso, porque ele sabe, como eu sei, que se houver do outro lado da mesa alguém que o aperte em assuntos chave, rapidamente se evidencia uma óbvia falta de habilidade tão característica nos políticos de contornar as perguntas difíceis.
A entrevista de ontem era uma entrevista de esclarecimento, suponho. Na entrevista excelentemente conduzida (que não foi ainda melhor porque o Presidente não permitiu) foram dadas vozes às muitas preocupações que os últimos meses provocaram na nação benfiquista.
Há benfiquistas preocupados (onde me incluo), e algumas respostas ambíguas a certas perguntas de ontem preocupam-me ainda mais. Porque eu não aceito que depois de várias perguntas sobre o BES (e cujas respostas me deixaram com ainda mais dúvidas – algumas delas já explicadas pelo Benfica Eagle), Luís Filipe Vieira tente exibir um certo ar fanfarrão (tentando mostrar uma confiança que não tem), perguntando qual é a camera que está a filmar, e diga apenas um “Confiem em mim, não se preocupem, e blá, blá, blá.”
Reparem, o Presidente não dá aos sócios e adeptos os esclarecimentos que eles exigem, de modo a merecer a sua confiança. Ele faz o contrario: ele exige primeiro que confiem nele porque ele sabe o que está a fazer, mesmo que se ache no direito de não revelar praticamente nada nas questões mais importantes. É o chamado cheque em branco.
Eu já sei que este Presidente nem sequer considera que uma eleição no nosso clube merece um debatezinho que seja com um outro candidato, sei lá, para que os adeptos possam exercer o seu direito de voto ligeiramente mais informados, sei lá, digo eu. Ontem mesmo o disse: “Eu já tenho 65 anos, e há coisas para as quais já não tenho paciência, de estar sempre a esclarecer. A obra está feita. Vejam-na.”
E depois claro, lá vem o habitual: “O Benfica estava destruído há 14 anos, e nem tinha campos para treinar, e hoje o Benfica honra a sua história, e réu teu teu pardais ao ninho.”
Este é pois o Presidente que temos:
Um Presidente com obra feita, muita coisa bem feita (outras más também) e muitas vezes aqui escrevi para o elogiar. Mas um Presidente também com uma necessidade muito grande de se auto-bajular, que não deixa a história do seu legado construir-se por si. Ele faz sempre questão de ser ele a lembrar-nos do legado que deixa e como quer ser lembrado.
E depois, claro, sempre aquela sensação que ele até traduz em palavras: “Estou no Benfica em sentido de missão.” Interesses pessoais também? Está mais rico hoje do que há dez anos atrás? Nãaaooo, nada disso. Ele está lá apenas para nos servir, a nós e ao Benfica, até em prejuízo da sua família que tanto sofre (até da boca dos taxistas) e nós só temos de lhe estar eternamente agradecido por isso. Ahh granda Presidente, que o Benfica sem si há muito que tinha desaparecido.
Num ano também em que a BenficaTV foi a novidade, maciçamente suportada pelos adeptos, e em que ontem teria sido uma excelente oportunidade para trazer alguns números a público (os adeptos mereciam saber o benefício do seu esforço), a resposta, mais uma vez, foi um evasivo: “Os números não interessam, interessa é que os adeptos continuem a confiar e a apoiar, porque o Benfica é deles, e mais uns quilos vendidos de banha da cobra.”
Este é o homem que diz, que as contas do Benfica são transparentes e um livro aberto, que basta ir ao seu gabinete no Estádio da Luz e tudo nos é facultado. Mas em público, na estação televisiva do seu clube, na hora de apresentar contas, nada!!
Por último a formação:
É por causa de afirmações como as que fez ontem, que depois temos pessoas como o GB legitimamente a colocar em causa Jorge Jesus pela não aposta na formação, quando o Presidente diz que a aposta será (OBRIGATORIAMENTE) feita. É o Presidente que ingenuamente cria essa guerra com o treinador, que depois serve de arma de arremesso na boca dos adeptos.
Em primeiro lugar, obviamente que os miúdos da Luz foram este ano emprestados com opção de compra. Se não houvesse opção o presidente teria dito. Não o disse, e mais uma vez fugiu à pergunta com um evasivo “...naturalmente há algumas cláusulas nos contratos.”
Em segundo lugar:
Se há cláusulas de opção de compra, como pode ele pretender o regresso dos jovens no próximo ano? Porquê então colocar nos contratos essas cláusulas se o interesse não for a venda (Rodrigo foi emprestado ao Bolton sem cláusula)? Porquê perder o poder no destino dos jogadores? Como garante ele a aposta na formação no próprio ano? Ele já conhece (e avaliza) os craques que vão sair da nova fornada?
Quem é Luís Filipe Vieira para GARANTIR aos sócios que a sua aposta na formação irá dar os frutos com a qualidade suficiente para representarem a equipa A do Benfica?
Luís Filipe Vieira é treinador?
Luís Filipe Vieira poupará Jorge Jesus ao despedimento se, tendo sido este obrigado a apostar em jogadores em quem não reconhece qualidade, o Benfica terminar em quarto lugar no campeonato?
A aposta na formação será feita, mesmo que ponha em causa a competitividade da equipa, ou o sucesso desportivo continuará a ser o principal fator a ter em conta na hora de se formar o plantel?
Luís Filipe Vieira responsabilizar-se-á pelo eventual insucesso desportivo da equipa, se resultado da obrigatoriedade na aposta na formação por parte do treinador?!
Seria importante que também lhe perguntassem isto.
Desculpem mas, isto é ver o Presidente entrar num campo que não domina, que não é seu, e que só cria anti corpos desnecessários no próprio clube.
Uma coisa é o Presidente dizer algo como:
“Nós, Direção, estamos a fazer um esforço muito grande para que o futebol jovem do Benfica produza os talentos com qualidade suficiente para representarem a equipa principal, até porque não teremos capacidade financeira para continuar a contratar todos os anos jogadores de 10 milhões de euros, e temos de encontrar alternativas. Mas naturalmente, não sou treinador e essa avaliação final não é feita por mim, e a qualidade do produto final não é garantida por artes mágicas.”
Outra coisa bem diferente é fazer o que o Presidente fez: ser ele a dar o certificado de qualidade aos jovens, quando ele não tem competência para o fazer, e a pôr então nas mãos do treinador o ónus da culpa pela sua não utilização.
Enfim, mais uma vez os pés pelas mãos, muita coisa bem dita na entrevista também, mas os aspetos negativos deixam-me sempre um amargo na boca.
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