O futebol dos assobios e dos estádios vazios

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الثلاثاء، 12 مارس 2013

O futebol dos assobios e dos estádios vazios


Ponto 1. Sou completamente contra os assobios à nossa equipa durante o jogo. Sou contra porque não ajuda, sou contra porque só prejudica, sou contra porque serve para galvanizar o adversário, sou contra porque é um atitude egoísta e que resulta da frustração pessoal. 

E quero neste contexto, relembrar um caso paradigmático de um jogador do Benfica a quem a arte do assobio assassinou, e que tornou a sua presença no clube totalmente insustentável. Esse jogador chamava-se Abel Xavier, e se muitos se recordam, simplesmente não podia tocar na bola sem ser imediatamente cilindrado pelo pelotão de fuzilamento do terceiro anel. Poderão alguns dizer, Abel Xavier era um mau jogador. Mas de facto não era, e a prova disso é que depois de ser escorraçado do Benfica pelos próprios sócios e adeptos, este “tosco” prosseguiu carreira em clubes como Bari, Oviedo, PSV Heindhoven, Everton, Liverpool, Galatasaray, Hannover, Roma, Middlesbrough e Los Angeles Galaxy, o que prova que o “tosco” não era tão tosco assim. 

Admito também que nos finais dos jogos também nunca assobiei o meu Benfica mas, acho esse tipo de assobio muito mais legitimo. Aliás, ao contrário do que alguns dizem, em Inglaterra também se assobia no fim. Mas em Inglaterra também acontece o oposto, os adeptos aplaudirem de pé a sua equipa que perde contra um adversário que foi melhor desde que deixe a pele em campo. 

Agora, o que eu acho é que o problema do assobio é bem mais profundo do que alguns querem fazer crer. O problema é que não se pode dissociar a arte do assobio do facto dos estádios em Portugal estarem cada vez mais vazios. 

Há um argumento que diz que os estádios só enchem quando a equipa vai na frente. Ora, como vemos, o Benfica vai em primeiro lugar, e nem por isso o nosso estádio tem estado sequer perto do máximo da sua lotação; 

Há um outro argumento que diz que os estádios estão vazios por causa do preço dos bilhetes. Este argumento explica, claro, parte da coisa mas, não explica tudo. Aliás, eu sou daqueles que acredita que mesmo que os bilhetes fossem de borla, nenhum estádio em Portugal lotaria, salvo num ou noutro jogo mais importante. 

Importa portanto escalpelizar as razões pelas quais os estádios não enchem. E na minha opinião, entre outras razões, a principal é que os espetáculos são pobres, os oponentes são fracos, os artistas têm mais pinta de carpinteiros, a vitória não está em causa, ninguém espera um jogo renhido, Benfica e Porto têm os jogos resolvidos aos 20 minutos e o resto do tempo é apenas gerir. 

Em resumo, o adepto que vai à Luz ver o Bordéus até percebe o contexto atual e até percebe o desgaste desta altura da época. Percebe a necessidade da rotação do plantel e o poupar de energias para as próximas batalhas. O adepto percebe isso tudo mas, não aceita, porque o adepto paga bilhete para assistir a um espetáculo, e quando paga o seu bilhete tem o direito de exigir um espetáculo digno, em que os jogadores corram e se esforcem, não quer pagar 20 euros para passar 90 minutos a ver 11 jogadores a trocar a bola em ritmo de treino. 

É o mesmo que pagar 50 euros para ir ver um concerto dos U2 mas, nesse dia, em vez de 25 só tocam 13 músicas, porque a digressão tem sido longa e no dia seguinte há um concerto importante que vai ser gravado para DVD. Em suma, eu aceito que em certos jogos o Benfica vai correr menos, mas o Benfica vai ter de aceitar que nesse dia eu vou escolher ficar em casa. 

Algumas notas breves: 
1. Certos espetáculos não justificam o preço do bilhete, tal como certos espetáculos da Broadway estão vazios exatamente pela mesma razão. O público é sempre soberano; 

2. Eu também adoro cinema mas não gasto dinheiro para ir ver um mau filme; 

3. Eu adoro espetáculos musicais ao vivo, mas só vou ver as bandas que me agradam e que me garantam um retorno emocional que justifique o meu investimento; 

4. Quantas vezes, mesmo em casa a ver um jogo de futebol do campeonato português, não dou comigo a bocejar e a ter de ir buscar uma cerveja ao frigorifico para que consiga aguentar o martírio até ao fim; 

5. Alguns dirão: Então tu és um mau adepto. Discordo. Eu sou adepto de muitas coisas na vida, e posso escolher gastar os meus 20 euros num jogo de futebol no estádio, posso gastá-los numa ida ao cinema, posso gastá-los num concerto de uma banda que gosto, posso gastá-los a comprar um livro, ou posso gastá-los numa noite de borga com os meus amigos a ver o mesmo jogo de futebol de borla num tasco qualquer. 

O que falta então para que os estádios voltem a encher? 
1. Jogos ao Sábado ou Domingo à tarde era importante. 

2. Mais dinheiro no bolso dos portugueses também ajudava. 

3. Mas fundamentalmente faltam bons espetáculos com emoção. E para haver emoção é necessário que haja equilíbrio, que haja incerteza no resultado, que hajam artistas, que hajam adversários que nos façam arregaçar as mangas e correr até ao último minuto, que hajam Sportings, Boavistas, Guimarães, Marítimos, Belenenses e Farenses como havia no passado. 

O adepto paga bilhete para gritar golo, para berrar, para roer as unhas, para quase morrer de ataque cardíaco, para dar cabo de um maço de cigarros em hora e meia, para libertar as angústias do dia a dia, para se deliciar com uma onda num estádio cheio, para sentir adrenalina, para celebrar golos aos pulos no último minuto abraçado a um qualquer desconhecido. 

O que se vê hoje em Portugal? Uns vão ao estádio e acreditam que os árbitros estão comprados e que é tudo uma farsa; uns vão aos estádios e aborrecem-se; outros vão ao estádio e assobiam para ver se não adormecem; outros acham que a maioria dos espetáculos que se vêm não valem o dinheiro que pedem e preferem ver o mesmo jogo no conforto do sofá ou no tasco do sítio. 

Assobios no futebol? O problema é bem mais profundo que isso.

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