Em relação ao jogo na Choupana, depois de ler as críticas ao otário do Proença, os comentários sobre o nosso JJ, a verborreia do presidente do futebol corrupto do porto (com a sua hilariante referência às escutas) e a diarreia mental do presidente do Nacional, posso agora, a frio, tecer os meus próprios comentários. Só vi a segunda parte, numa daquelas transmissões via net mas deu para perceber a desorientação, a falta de ambição, a falta de organização, os erros estúpidos do JJ (como o deixar ficar o Sálvio e tirar o Urreta, entre outros) e aquilo que todos vocês já leram e escreveram. Como a transmissão teve alguns cortes, posso não estar a ser totalmente justo na apreciação do jogo, mas deu também para relembrar como era o futebol sofrível do Benfica antes do JJ. Apesar de também eu ser crítico dele, reconheço que nestes últimos 3 anos e meio o Benfica jogou muuuuuuuuito melhor do que em largos anos que precederam o “mestre-das-tácticas”. E aqui é que entra o que senti e o que me lembrei após o jogo. E esta sim, é a razão deste post.
O meu pai, uma das pessoas que mais admiro na vida, levou-me desde cedo a visitar o velhinho Estádio da Luz. Lembro com saudade os tempos em que ia com ele à bola, em horários decentes, munido com a almofada para o rabo, uma bandeira maior do que eu e um cachecol. E claro, quando chuvia era indispensável ou um guarda-chuva, daqueles pequenos que apesar de não o ser eram descartáveis tal o abuso de que eram alvo, ou uma capa. Ele levava também o rádio para ir acompanhando os outros jogos, e ia explicando tudo o que se passava. Claro está, eu absorvia tudo. Eram tardes espetaculares!
Entretanto, ao tornar-me mais velho, passei a ir à bola umas vezes com ele, e outras com os meus amigos. Algo perfeitamente natural. Foi nesta altura que ele passou à reforma e começou a frequentar mais vezes os jogos de sueca lá no bairro e a conviver mais com a “velha guarda”. Foi também mais ou menos nesta altura que o Artur Jorge desfez a equipa do Benfica. E foi também nesta altura que eu percebi que via o Benfica de forma diferente da dele...
Não sei se antes, quando ele apenas me levava ao estádio para passar um bom bocado comigo, ele já tinha a sua visão diferente da minha. Calculo que sim. Mas o facto de ele levar com doses industriais de visões antiquadas e até rancorosas de outros adeptos (quase todos benfiquistas e sportinguistas) nos seus convívios de cartas, coincidir com a formação da minha própria opinião sobre o nosso Glorioso marcou indelevelmente a nossa relação pai-filho benfiquista. Ele, agarrado ao passado, entrou na onda da crítica constante, própria de quem viveu os tempos mais gloriosos do nosso clube e se vê confrontado com Damásios, Vales e Azevedos, Artur Jorge, e escumalha semelhante que quase conseguiram destruir o Benfica. Claramente ele estava a ser influenciado pelas seus parceiros de “vício”. Até determinado ponto eu cheguei a concordar com ele, mas pensei cá com os meus botões: não é assim que damos a volta. Não é a crítica constante e o “bota-abaixo” que nos vai ajudar a sair deste buraco. E foi a partir daí que qualquer jogo que eu visse na companhia dele, as nossas opiniões colidiam.
Ao longo do tempo, os comentários passaram a ser de bota-abaixo em relação ao Benfica e a Portugal, mas pior do que isso era aquilo que me irritava particularmente: o reconhecimento da “superioridade” do fcp. Ao que eu ripostava: “Mas não vês que aquilo é tudo baseado em corrupção? Que eles só conseguiram chegar onde chegaram de forma suja?” e ele logo dizia: “Sim, mas jogam muito mais e até parece que comem a relva…”. É certo que eles, durante todos estes anos, jogaram sempre com mais determinação do que nós, talvez baseando-se na amarelinha do póvoas, ou apenas simplesmente à custa do ódio que nutrem pelo Benfica, mas nada disso me faria reconhecer a tal “superioridade” que ele defendia. Passou a ser insuportável vermos jogos juntos, e inevitavelmente deixei mesmo de o fazer. Entretanto casei e as nossas discussões sobre o Benfica passaram a ser pelo telefone e apenas:
- Eu: “Então, viste o jogo?”
- Pai: “Vi. Não jogam nada”
- Eu: “Então e de resto, está tudo bem?”…
Acabo sempre por desviar o assunto, pois nem o Benfica nem nada nesta vida irá beliscar a minha relação com o meu Pai.
Não tenho dúvidas do seu benfiquismo, tal como não tenho dúvidas do meu. Sei também que 95% dos comentários que ele faz sobre o Benfica vêm da sua frustração/irritação de, após ter vivido o que viveu, ver o Benfica a jogar tão mal quanto jogou nos anos pós João Santos. Agora ele até já nem liga muito se o Benfica ganha ou perde. Acho que é um mecanismo de auto-defesa para não se chatear a sério com o futebol. Prefere canalizar as suas energias para os netos.
Não sei se este tipo de benfiquismo foi ou é vivido por mais alguém, mas acho que no meu caso as formas diferentes de ver/viver o Benfica que eu e o meu pai temos não são as melhores. Foi isto que me lembrei depois de acabar o Nacional-Benfica. Foi uma forma de jogar antiga e foram velhas discussões sobre futebol, com o meu Pai, que me vieram à memória.
Tenho saudades de ir à bola com ele…
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