Fernando Tavares é licenciado em gestão de empresas pelo ISE (atual ISEG - Universidade Técnica de Lisboa). MBA em Inglaterra e várias pós graduações de gestão em universidades europeias e americanas. Uma vida profissional com vários cargos de direção, de administração e de docência em Portugal, Espanha, Inglaterra, França, Bélgica e Estados Unidos.
Antes de abraçar o seu atual projeto profissional, como acionista e CEO da MAKEFOOT, uma empresa de Marketing e Comunicação no Desporto, o gestor que era estranhamente acusado por Domingos Soares de Oliveira de “não saber fazer contas”, foi com sucesso Administrador Financeiro para a Ibéria de uma empresa multinacional que faturava 12 biliões de euros por ano.
Gestor com formação desportiva.
Para além de ter estado envolvido na seção de basquetebol do Benfica durante 2 anos, impedindo o encerramento da modalidade, foi Vice-Presidente responsável pelas modalidades durante 5 anos e Vice-Presidente da Federação Portuguesa de Basquetebol durante 1 ano.
Atualmente, para além de CEO da MAKEFOOT, onde colabora com diversas organizações desportivas, preside ao Comité de Desporto do LIDE (Organização de Lideres Empresariais) e por convite do Secretário de Estado do Desporto e Juventude é embaixador da Ética no Desporto colaborando com o Plano Nacional de Ética no Desporto. Neste momento, prepara o processo de internacionalização da MAKEFOOT, assim como a seleção da universidade entre as diversas opções em Portugal e no estrangeiro para se lançar no próximo passo académico:
Doutoramento em Gestão Desportiva ou Marketing Desportivo. Com 52 anos, casado e com dois filhos é o sócio número 8396 do Sport Lisboa e Benfica. Sócio Fundador do novo estádio e o ADN do Benfica corre-lhe nas veias.
"Regresso ao Passado"
Comecemos pelo passado. Há quem diga que Fernando Tavares "virou as costas" ao SLBenfica. Era importante esclarecer, quais os motivos que levaram a que abandonasse a Direcção do Benfica?
Ao Benfica nunca se vira as costas. Quando saí, não meti o Benfica na gaveta. Saí por imperativos de consciência e por considerar que já não conseguia influenciar positivamente o presidente do Benfica em relação à minha intervenção no clube. Tinha ideias claras sobre o caminho que as modalidades em particular e o Benfica em geral deviam seguir. O presidente decidiu não me dar cobertura institucional e eu saí. O presidente tinha toda a legitimidade para o fazer e eu total legitimidade para entender que a demissão era, naquele momento, a melhor solução para o Benfica. Não tenho feitio para ser peça decorativa, só porque isso me dá um estatuto especial. Não fazia sentido continuar, já que as minhas decisões não se sobrepunham às decisões de membros não eleitos do Benfica. E isso, num clube como o Benfica, não me parece tolerável. Em rigor sinto que a minha saída permitiu uma maior proximidade do presidente à realidade das modalidades e isso no fundo beneficiou o Benfica. Tenho pena que essa proximidade não tenha existido durante a minha governação. Recuando no tempo considero que podia ter feito as coisas de forma diferente criando uma desejável plataforma de envolvimento por parte do presidente. No entanto, orgulho-me de ter servido o Benfica e depois da minha saída a militância continuou como um simples sócio que não exerce funções de governação.
Ponderou alguma vez aceitar a hipótese de rever o seu modelo de gestão e aceitar fazer as coisas como queriam que fizesse, ao invés de sair por não se rever?
O problema não teve a ver, em rigor, apenas com modelos de gestão. Teve igualmente a ver com a interferência de pessoas que atuam na área de influência do presidente e que, desde há muito tempo, têm uma estratégia clara de tomada de poder no clube e na SAD. Eu era um membro eleito pelos sócios, portanto, a minha soberania no clube devia ser total em relação a essas pessoas, que são profissionais do clube e que nunca se submeteram a sufrágio. Também não podiam, já que algumas delas nem sequer são benfiquistas.
Mas também teve a ver com modelos de gestão. Por exemplo no Benfica confunde-se instrumentos com finalidades. Em qualquer organização de excelência um orçamento é um instrumento ao serviço da gestão e não uma finalidade em si mesmo. Se para ganhar um campeonato de uma determinada modalidade necessito, a meio da época desportiva, de fazer a troca de um jogador que vai ter um impacto orçamental de 20,000 euros anuais e por questões orçamentais não posso fazê-lo então eu digo que o orçamento passou a ser a finalidade. Para mim a finalidade é ganhar. Apesar de tudo cabe-me a responsabilidade de tentar mitigar esse impacto criando receitas extraordinárias. Mas não posso, dentro dos limites da razoabilidade, estar condicionado até ao último euro por um orçamento de 700,000 euros alocado a uma modalidade e deixar de ser competitivo por causa de 20,000 euros. Estou a dar um exemplo real. Podia dar muitos mais. Isto é um problema de gestão após a aprovação de um orçamento e já com a época desportiva a decorrer. Podia dar outros exemplos que têm que ver com a fase de construção orçamental na pré-época. Os financeiros do Benfica não conhecem a noção de investimento marginal. Eu questiono o que será melhor: gastar X euros e correr o risco de perder ou gastar X mais 3% (o tal investimento marginal) criando mais opções na fase de construção de uma equipa e aumentar significativamente a probabilidade de ganhar?
Tem conhecimento de outros dirigentes ou ex-dirigentes cuja autonomia tivesse sido colocada em causa, mas que tenham optado por permanecer, mesmo contra os respectivos modelos de governação para o qual foram eleitos pelos sócios?
Não posso falar pelas as outras pessoas. Falo por mim. Se outras pessoas se sentiram alguma vez desautorizadas no Benfica e seguiram o caminho de se manterem é um problema que não me diz respeito. Pessoalmente no lugar do presidente valorizaria quem dentro do Benfica sempre atuou com a convicção das suas ideias do que em alternativa estar rodeado por quem sistematicamente me diz que eu tenho razão. Os projetos crescem e desenvolvem-se na diversidade e no debate de ideias. Enquanto responsável das modalidades sempre preferi estar rodeado por pessoas que, de uma forma aberta, questionavam as minhas posições.
Na equipa de gestão que integrou apareceram pela primeira vez os "profissionais". Aqueles que foram apresentados aos sócios como mais-valias profissionais, independentemente da sua afinidade clubistica. Alguma vez sentiu que eles estivessem a mais no SLBenfica ou que poderiam vir a tornar-se um problema?
Antes de mais afirmar que nunca fui contra a profissionalização do Benfica. Pelo contrário, tive oportunidade de profissionalizar as modalidades. Seria impossível governar o Benfica sem profissionais. Por outro lado, direi que é possível profissionalizar com benfiquistas. Outra questão é o modelo de governo, ou seja, que tipo de interação tem que ser criada entre os órgãos eleitos e os profissionais. Senti esse problema a partir do momento em que passaram a condicionar o presidente do Benfica nas suas decisões e sobretudo quando essas decisões não eram as que mais defendiam os interesses do clube. E repito, decisões tomadas por pessoas sem filiação ao clube, sem uma relação emocional com o Benfica e que passaram a ter uma influência decisiva na tomada de decisões no clube e na SAD.
Muitos lhe apontam algumas decisões polémicas e, á primeira vista prejudiciais, como o despedimento de dois treinadores campeões: Beto Aranha e Alexander Donner. Quer comentar?
Quando as pessoas, por má-fé ou desconhecimento, pretendem menosprezar o trabalho que deixei feito no Benfica, atiram-me com essas decisões de ter prescindido com dois treinadores campeões no clube. O que posso dizer, a esta distância, é que voltaria a fazer o mesmo. Em ambas as situações fui confrontado com situações muito difíceis de gerir, em que, de um lado está um plantel inteiro e do outro está o treinador. Perante situações semelhantes de radicalismo, tive de optar entre manter as equipas de andebol e de futsal ou manter os treinadores. Optei por manter as equipas. Especialmente no caso de Donner, porque se trata de uma pessoa com imenso prestígio nacional e internacional não direi nada que possa manchar esse prestígio. Fui responsável pela contratação do treinador e responsável por não ter renovado o seu contrato. Com a informação que tinha naquele momento senti que aquele ciclo tinha terminado e o Andebol do Benfica necessitava de uma mudança mais orientada para um modelo de construção onde a formação tivesse um papel crucial. Foram muitas as pessoas que tiveram igualmente responsabilidade na conquista daquele campeonato principalmente os jogadores que em momentos de grande dificuldade souberam superar os problemas. Isso aconteceu porque existia uma retaguarda por mim liderada que foi essencial para a conquista do campeonato. Essa retaguarda desapareceu com a minha saída e o Professor José António que sucedeu ao treinador campeão esteve sozinho no leme para além dos problemas profissionais que teve com a Universidade onde lecionava e que são do conhecimento público. Será que Rito, treinador atual de Andebol, não está à altura do Benfica? Claro que está pois trata-se de um dos melhores treinadores portugueses. Mas Rito não pode atuar sem uma estrutura que o apoie. Esse é um dos problemas atuais das modalidades. Apesar do elevadíssimo investimento não ganham mais porque esqueceram-se de profissionalizar a estrutura de apoio às equipas de alta competição. Sobre Beto Aranha foi tudo tão mau que me recuso a falar. A propósito ninguém questiona porque razão André Lima que tudo ganhou ao serviço do Benfica como jogador e treinador foi dispensado apesar de ter conquistado a mais importante competição de futsal (UEFA CUP)?
Como chegou à Direcção do SLBenfica?
Cheguei à direção do Benfica, porque o presidente do clube conhece-me há mais de quarenta anos, porque havia uma cumplicidade muito grande entre nós e porque ele reconheceu que eu podia ajudar no seu projecto de tornar o Benfica, de novo, a maior potência desportiva do país. E depois do primeiro mandato, tudo levava a crer que iriamos conseguir o nosso objectivo.
Quais as decisões mais marcantes do seu percurso de dirigente do SLBenfica? Arrependeu-se de alguma?
Quando servimos o Benfica todas as decisões são marcantes. Todas as decisões que tomei foram no sentido de defender os superiores interesses do Benfica e com a informação que dispunha em cada momento. Não me arrependo de nada porque as mesmas foram tomadas com sentido de responsabilidade. No entanto, gostaria de referir uma das decisões mais críticas que foi a retirada do Benfica da Liga de Basquetebol. Na altura as pessoas não compreenderam – aliás, para surpresa minha, algumas pessoas continuam a não compreender – mas que se revelou decisiva para fazer implodir a Liga, que estava montada para prejudicar o Benfica. Eu sabia que o Benfica voltaria à principal competição da modalidade. Era uma questão de tempo conforme se provou. Lembro-me bem da conversa que tive na altura com alguns dos jogadores que optaram por ficar por terem a convicção que aquela era a estratégia correta e o Benfica voltaria rapidamente ao convívio dos grandes. Foi essa polémica decisão que permitiu que o Benfica tivesse ganho três campeonatos nas últimas quatro edições do campeonato nacional.
A propósito, acho caricato que os mesmos que me criticam não façam qualquer referência à minha intervenção para viabilizar na altura a Liga de Andebol e colocar o Benfica a jogar na principal competição. Lembro que quando fui eleito o Andebol do Benfica encontrava-se a disputar a segunda divisão do andebol português. Com a minha intervenção foi possível juntar à principal competição clubes como o Sporting Clube de Portugal, o Sporting da Horta e o São Bernardo em conjunto com o Benfica. A Liga de Andebol era dirigida por um grande homem (António Salvador) e não tinha “truques”. Ganhava-se e perdia-se competindo. O Benfica perdeu na primeira edição da “nova” Liga e teve a felicidade e a honra de ganhar a segunda edição contra um grande ABC, depois de 17 anos desde a conquista do último campeonato.
"As modalidades"
Que balanço faz do trabalho feito nas modalidades amadoras no Benfica desde a sua saída do clube?
Acho que o Benfica devia ter ganho mais do que ganhou com o investimento que tem feito nas modalidades. Ganhámos pouco para o que devíamos ganhar. E repare-se, nesta altura, é mais fácil fazê-lo, porque clubes que distorciam toda a lógica financeira do mercado desinvestiram nas respetivas modalidades. Clubes como Ovarense, Oliveirense, Hóquei de Barcelos, ABC, Espinho, Guimarães, Freixieiro e muitas outras operam com orçamentos muito mais baixos. Hoje, devia ser mais fácil ao Benfica ganhar nas modalidades do que era há alguns anos atrás. Há mais investimento do clube e, pelo contrário, mais desinvestimento dos outros.
Na sua opinião o que devia ser feito para terminar com a hegemonia do Porto no hóquei (conseguida com estratégias semelhantes ás usadas para conseguir hegemonia no futebol)? Concordaria com o terminar da modalidade, ou a descida da divisão durante os anos para estrangular financeiramente o "Sistema" estabelecido no hóquei tal como fez no básquete?
O caso do hóquei é diferente. Enquanto a decisão no basquetebol empurrou o principal quadro competitivo para a esfera da federação no hóquei isso não seria possível a não ser que a opção passasse pelo abandono definitivo o que eu não recomendaria. Quando fui eleito o hóquei do Benfica jogava para não descer. Optei por recrutar os jogadores que considerava representarem a próxima geração de vencedores. Apesar da primeira época ter dado excelentes indicações sobre o crescimento competitivo das jovens promessas o tempo veio a demonstrar que algumas das apostas não se afirmavam ao nível esperado. Com o regresso de Carlos Dantas ao Benfica tentámos em conjunto fazer os ajustamentos necessários que permitissem não desperdiçar o investimento anteriormente feito. O que se passou é que não tive a cobertura necessária do Benfica para o fazer. Com as decisões por mim e pelo Carlos Dantas preconizadas o Benfica teria recuperado a hegemonia da modalidade. Estranho que após a sua saída algumas dessas medidas tenham sido implementadas. Tenha que reconhecer que algo positivo foi feito nos últimos dois anos e neste momento o nível competitivo do Benfica equiparou-se claramente ao do Porto e o Benfica tem todas as condições para ganhar o campeonato nacional.
Na sua opinião, a que se devem os insucessos constantes no Andebol, com um orçamento galopante?
Este é um exemplo que conheço bem e tenho de reconhecer que o nosso adversário está muito adiantado ao Benfica no andebol. Têm um projecto de formação que será, talvez, o mais avançado de Portugal, em todas as modalidades, que os faz estar muito à frente do Benfica e do resto dos clubes. Aliás, todos os anos o FC Porto faz questão de libertar jogadores para o Benfica, que lhes paga muito bem, enquanto o nosso adversário os substitui por outros jogadores ainda melhores. Conclusão, o Benfica continua a investir e o FC Porto a ganhar. E eles divertem-se a fazer isto. O problema, no andebol, ataca-se com mais formação e menos investimento. Para além da questão da profissionalização da retaguarda desportiva anteriormente referida. O caso particular do andebol sofre igualmente com a interferência de alguns financeiros do Benfica que pensam tudo saber sobre a modalidade e nada sabem.
Qual a sua opinião sobre o João Coutinho, o seu sucessor, e sobre o seu trabalho?
Eu apenas o posso avaliar em função dos resultados. E os resultados do Benfica, nas modalidades estão aquém do que seria exigível para o nível de investimento. No entanto, esta época poderá ainda ser bastante positiva face à possível conquista dos campeonatos de hóquei e de futsal.
Fomos recentemente campeões nacionais de basquetebol, em mais um episódio lamentável com o FCPorto. Quer comentar esta conquista e os episódios que a envolveram?
A conquista foi mais do que merecida. Os acontecimentos foram lamentáveis, contudo e a bem da modalidade não deviam ter sido excessivamente dramatizados. E nestes episódios não há inocentes. Um clube que não assegura que o seu adversário consiga receber a taça de campeão no recinto de jogo, não tem moral para atacar a atitude que pode ser considerada irrefletida do nosso treinador mas que pode ser explicada pela carga emocional que sempre envolvem estes jogos. Conheço bem o Carlos Lisboa. Trata-se de um campeão e agora alguns mensageiros tentam destruir a sua imagem. Para mim, o que é mais grave de tudo, nesses episódios, é que aos campeões não lhes tenha sido dada a oportunidade de receber o troféu no recinto do jogo. Tudo o resto é folclore e mau perder. O presidente do Benfica, apesar do discurso inflamado, que era na minha opinião evitável, defendeu o nosso treinador e fez bem, mas, mesmo assim, se eu fosse vice-presidente já teria dado uma resposta cabal aos moralistas de algibeira que têm atacado o Carlos Lisboa.
"Estatutos e comunicação"
Segundo declarações prévias suas, considera que o clube atravessa um período de venezuelização. Pode explicar esta afirmação?
A expressão pode ser considerada excessiva. Não pretendi atacar pessoalmente o presidente do Benfica, mas tão só a estratégia vigente no clube de personalizar tudo na figura do presidente. Aliás, é rara a entrevista de um atleta ou de um treinador do Benfica que não elogie o presidente, porque, de facto, tornou-se um elemento central da comunicação do clube, o elogio do presidente, quer faça ou não sentido. Esta estratégia é redutora do próprio Benfica e perigosa para Luís Filipe Vieira, porque leva a uma situação de extremos. Quando o Benfica ganha, o mérito é de Vieira, quando o Benfica perde, a culpa é de Vieira. Não há debate sereno sobre o Benfica, porque o ruído à volta do presidente sobrepõe-se a tudo.
Qual a sua opinião sobre os estatutos do Benfica aprovados após as eleições de 2009? Considera que os novos estatutos contribuem para essa venezuelização do clube?
Foram um golpe institucional que prejudicou gravemente a imagem do Benfica, como clube democrático. Não se entende que a elegibilidade de uma candidatura a presidente do Benfica seja mais restritiva que a de Portugal em relação ao Presidente da República. Por outro lado, como assegurar que com esta restrição não afastamos do caminho figuras com capacidade para assumir a governação do Benfica?
Como se sente, na qualidade de ex-dirigente, um benfiquista que quando dá voz a um crítica ou desacordo face ao statu quo, é logo apelidado de abutre, papagaio, oportunista...? Como acha que foi possível chegar-se a este ponto de "com o Presidente ou contra o Benfica"?
Tem a ver com a excessiva personalização do poder em torno do presidente. É uma estratégia errada que divide os benfiquistas. Se o clube ganha, está tudo bem, mas se o clube atravessa dificuldades nos resultados, esta estratégia vira-se contra o presidente. É uma espécie de feitiço que se vira contra o feiticeiro e espanta-me como o presidente do Benfica ainda não percebeu que não ganha nada em hostilizar outros benfiquistas. É a estratégia dos não-benfiquistas da SAD, que encurralam o clube numa guerra sem sentido e impedem que se crie um ambiente de unidade e concórdia no clube. E sobretudo, impede que todos percebam que o verdadeiro adversário do Benfica não está entre os benfiquistas.
Acredita que com os estatutos blindados como estão será possível o aparecimento de candidaturas alternativas a uma linha de continuidade? Seguramente que uma lista liderada por um benfiquista com mais de 25 anos de sócio e cujos membros de Direcção têm que ter mais de 15 anos de sócio será uma alternativa sólida.
Será sólida do ponto de vista do seu benfiquismo. Mas terá de ser escrutinada do ponto de vista da competência. Uma das coisas que acho horrível, hoje em dia, no Benfica é que se tenha estabelecido uma espécie de “ou eu ou o caos” à volta do atual presidente do Benfica, por causa do medo que os sócios do clube têm que apareça um novo Vale e Azevedo. Pois bem, isto é quase um ultraje à história do Benfica, porque o nosso clube tem mais de cem anos de história e Vale e Azevedo apenas houve um. Como todos sabemos, o presidente do Benfica não é eterno e ele próprio saberá reconhecer isso mesmo. E posso garantir, não será o caos no clube depois de Vieira. O Benfica continuará a ser o maior clube português, o clube que já teve presidentes como Borges Coutinho, Fezas Vital, Ferreira Queimado, Fernando Martins e João Santos.
Nunca teve receios de se afirmar defensor do projeto de José Veiga para o futebol. Talvez tenhamos oportunidade de o questionar um dia diretamente, mas até lá, o que o faz acreditar que José Veiga seria uma mais-valia para o SLBenfica?
O conhecimento que tem do futebol, das forças que o dominam, e que não deixam que o Benfica tenha maior protagonismo, pela liderança, pelo carisma, pela disciplina e, por fim, pelo seu benfiquismo. Continuo a pensar que seria a pessoa ideal para liderar o processo de transformação do futebol do clube e digo isso porque o conheço pessoalmente e porque o vi trabalhar no Benfica. Ao contrário da esmagadora maioria das pessoas que fala sobre José Veiga sem o conhecer, eu não. Conheço-o bem, vi-o trabalhar e vi sobretudo uma pessoa que se dedicava 24 horas por dia e sete dias por semana ao Benfica. Trabalhar com José Veiga no Benfica é desistir de ter vida própria e vida familiar, porque ele sacrifica tudo ao seu trabalho. Esta é a pessoa que o Benfica precisa de ter para liderar o futebol.
Se é para nós uma vergonha ter um Presidente com 24 anos de sócio do FCPorto, não considera que o passado de José Veiga ligado à Casa do Porto do Luxemburgo, as distinções que foi alvo, etc são igualmente pouco condizentes com o cargo de dirigente do SLBenfica?
Conheço há mais de quarenta anos o presidente do Benfica e posso garantir o seu benfiquismo. Conheço pessoalmente José Veiga e posso garantir, também, a sua predileção pelo Benfica. Aliás José Veiga é sócio do Benfica e não tenho conhecimento que seja ou tenha sido sócio do Porto ou do Sporting. O que move José Veiga no Benfica não é uma vingança pessoal contra Pinto da Costa. Pelo contrário, eu sei que o presidente do FC Porto ocupa uma parte irrelevante na vida de José Veiga. Eu sei que ambos são motivados pelo desejo de ver o Benfica a ganhar, tanto como qualquer outro sócio ou adepto do clube. Foi uma lástima que outras pessoas tivessem conseguido minar a relação entre Vieira e Veiga, porque a esta hora o Benfica já teria recuperado a hegemonia do futebol português. E não seria necessário desonrar o clube, como não foi necessário em 2005, quando vencemos o campeonato.
No nosso blog temos apontado várias vezes caminhos mal escolhidos, na nossa opinião, na comunicação do SLBenfica. Concorda que é uma das áreas onde o SLBenfica estará, possivelmente, mais desajustado dos desafios que se impõem?
Já disse e repito. O Benfica não tem comunicação, tem propaganda. E creio que o próprio presidente do clube já se começa a sentir incomodado com isso, porque essa estratégia não tem resolvido os problemas do clube, pelo contrário, arrasta mais problemas. Eu acredito que o presidente do Benfica se sinta, atualmente, cansado e uma das razões desse cansaço tem a ver com a desastrosa política de comunicação que tornou Vieira a sua peça central. Neste contexto torna-se urgente transformar a política editorial da Benfica TV. Uma plataforma de comunicação também usada para atacar benfiquistas. Existe um claro desalinhamento entre a política editorial e a grandeza do clube, com uma falta de elevação na abordagem dos conteúdos, uma linguagem pouco institucional e uma fraca expressão visual quando comparado com outros canais como o do Real Madrid ou o do Manchester United.
O que defende que deveria de ser feito de diferente na Comunicação do clube?
Quase tudo. A comunicação do Benfica é um desastre maior do que o seu futebol. Aliás, parece consensual que o Benfica começa a perder o campeonato após uma entrevista de Luis Filipe Vieira a um canal televisivo quando afirma que tudo está bem com a arbitragem. O presidente do Benfica devia ter sido aconselhado a não dar essa entrevista e a não ter dito algumas das coisas que disse e que o tornaram, mais tarde, refém de si próprio. É assim que a comunicação do Benfica tem tratado o seu presidente e o clube, por tabela. E principalmente todos percebem que muito do que diz o presidente do Benfica não é escrito pelo seu punho nem sai da sua cabeça. E isso traz um grande desconforto a Vieira e um prejuízo à imagem institucional do clube. E, claro, o Benfica é o único clube do Mundo onde o seu diretor de comunicação é protagonista, em vez de ser discreto. Por outro lado, esta forma evidente de pretender controlar as notícias que saem nos órgãos de comunicação social, próprio de políticas totalitaristas, não credibilizam nem honram o Benfica.
(CONTINUA DA PARTE DA TARDE) AQUI
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