Se há coisa que imagino que seja dificílima de gerir num clube como o Benfica, e que se torna muitas vezes nas chaves do sucesso ou insucesso de cada época, é a chamada “Gestão de Expectativas”.
Gestão de expectativas é gerir as expectativas no Universo Benfica, as expectativas dos adeptos, dos jogadores, dos treinadores. E quando se fala em expectativas, gerir a dos jogadores é o mais difícil, porque é a deles que afecta a expectativa de tudo o resto.
Nos clubes grandes, nos clubes REALMENTE grandes (ou com muito dinheiro nos bolsos), essa gestão é um problema que raramente se põe. Pode haver um caso esporádico, de alguém como Cristiano Ronaldo por exemplo, que um dia decide que quer sair de Manchester para Madrid para concretizar um sonho de criança.
E mesmo num grande clube como o Manchester United, este esporádico caso abala e deixa mossa, quando se vê o seu melhor jogador sair, por questões de... coração, que nem têm nada a ver (como acontece em clubes como o Benfica) com questões financeiras. No Benfica, casos como este são o prato do dia!
Nós vivemos num futebol global. Nós vivemos num futebol em que qualquer miúdo que aos 18 anos saiba dar um pontapé na bola, tem as portas abertas em qualquer clube do mundo. E neste caso, nem importa se é português ou estrangeiro...
...Mas com os estrangeiros particularmente... Um jogador como Di Maria ou Markovic que chega à Luz com 18, 19 ou 20 anos, não chegam à Luz para cumprir sonhos de criança. Chegam à Luz como chegariam ao Porto, a Paris ou a Munique, movidos por sonhos de carreira, financeiros e de fama, que não têm nada a ver com escolhas de coração.
E quando assim é e se reconhece isso, eu sei que às vezes é fácil aos adeptos criticar certos acontecimentos, quando os jogadores forçam a saída, ou quando exigem revisões de contratos, é fácil acusá-los de ingratidão. Mas o horizonte é o que fica quando a carreira acaba, essa é a realidade, e a realidade é entender que estes miúdos que deixam família e amigos nos seus países tão novos e se lançam à aventura de tentar a sorte no futebol europeu, não vêm para ser mobília em clubes que nada lhes dizem. Sabem que têm 10 anos para construírem tudo. E nessa realidade é importante não deixar o coração interferir nas importantes decisões de carreira, de vida e de futuro.
No caso do Benfica o problema é enorme. É enorme porque o Benfica não pode oferecer financeiramente o que outros emblemas oferecem, porque o Benfica participa num campeonato periférico da Europa que nem sequer passa nas televisões dos grandes países do futebol, porque o futebol português, para alem de fraco é corrupto e onde os verdadeiros protagonistas são os dirigentes dos clubes e das ligas, os árbitros e os paineleiros que todas as semanas geram audiências a falar de toda a porcaria menos dos artistas e do futebol jogado.
E nesta salada toda, o óbvio é que o Benfica pode ser uma boa oportunidade de carreira para aqueles jogadores cuja opção é ir jogar para um campeonato melhorzinho que o nosso, mas num clube bem mais fraco do que o Benfica. Não me surpreende pois que grandes jogadores como Maxi ou Luisão tenham ficado (e bem) tantos anos no Benfica, ainda que a ganhar bem e com revisões de contrato bastante frequentes.
Mas quando jogadores como Matic, Coentrão, Ramirez, Di Maria, Enzo, Witsel, Javi ou Markovic recebem propostas dos colossos europeus, é quando começa o verdadeiro problema...
1 1. Porque o Benfica não pode competir financeiramente;
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2. Porque ainda que pudesse financeiramente, não poderia competir a nível de prestígio;
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3. Porque as saídas dos melhores jogadores cria problemas de expectativas junto dos adeptos;
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4. Porque a saída dos melhores jogadores cria inegáveis problemas de expectativas junto dos treinadores.
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5. Porque a saída dos melhores jogadores tem efeitos determinantes na gestão de expectativas dos outros jogadores que ficam no clube, em particular daqueles que também quiseram sair, tiveram oportunidade de sair mas... foram "obrigados" a ficar.
E é na gestão disto tudo (tarefa na qual é facílimo criticar mas muitíssimo mais difícil fazer melhor) que está muitas vezes o desenlace das épocas desportivas.
Algumas ideias:
Algumas ideias:
1. O projeto de continuidade de Jorge Jesus é uma falácia. Continuidade é um projeto em crescendo, típico dos grandes clubes europeus, em que de uma época para a seguinte se mantém o que de melhor se tem, e se reforça com o que de melhor os outros têm. Continuidade não é o que acontece no Benfica, em que todos os anos o esqueleto da equipa tem de ser reformulado à medida que os níveis de exigência dos adeptos aumenta;
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2. O treinador é a grande vítima disto tudo. Treinador que não sai na hora certa acaba por pagar o preço mais cedo ou mais tarde. Ao treinador exige-se sempre mais a cada época, mas exige-se mais à medida que os recursos ao seu dispor diminuem. Esta fórmula tem tudo para dar mau resultado.
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3. Os adeptos são outro problema. O ano passado conquistaram-se 3 troféus, este ano se forem conquistados “apenas” 2, os adeptos dirão que andámos para trás. Análises superficiais na minha opinião, e que não são honestas porque ignoram todos os outros problemas de que tenho vindo a falar.
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4. Manter o moral elevado em jogadores como Enzo, Sálvio ou Gaitan neste momento deve ser das tarefas mais difíceis de Jorge Jesus, problema que os treinadores dos grandes clubes europeus não vivem. Jogadores como Enzo também querem prestígio, também querem dinheiro, também querem carreiras mais ricas.
E para o conseguirem precisam de um Benfica forte e que os projete internacionalmente. Ora, quando os melhores jogadores saem, os reforços que chegam são medianos, e quando a época desportiva que se inicia se imagina pior do que a anterior, é perfeitamente compreensível que aqueles jogadores que também puderam sair e acabaram por ficar se sintam frustrados, sintam que o clube lhes cortou as pernas e lhes fez perder a oportunidade de uma vida.
Como gerir isto tudo? Da minha forma de ver só há uma, que ainda assim nunca é perfeita:
1. Os melhores jogadores do Benfica continuarão a querer sair independentemente da situação financeira do Benfica.
2. As expectativas desportivas do Benfica têm sempre de se manter em alta, e para isso, os reforços que chegam têm sempre de gerar entusiasmo nos adeptos e no próprio plantel que tem de encontrar força física e anímica para fazer as vitórias acontecer. Sangue novo tem de ter selo de qualidade.
3. O Benfica têm de vender um jogador por 30 milhões mas tem de continuar a gastar 8 ou 10 desses 30 num novo Markovic ou Di Maria que continue a levar gente ao estádio e a manter o moral e a ambição da equipa num nível elevado. (Grandes jogadores exigem clubes com prestações europeias condignas com o seu prestígio)
4. Talvez seja preferível gastar 30 milhões por época em 3 jogadores capazes de manter as expectativas do universo Benfica elevadas, do que em 10 que chegam e pouco ou nada acrescentam ao que já existe.
Aí é que eu acho que é quando os verdadeiros problemas começam e o chavão "Projecto de Continuidade" deixa de fazer sentido.
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