Bem, desde logo uma confissão para se poder aferir da minha credibilidade neste texto: Eu não vejo jogos do Guimarães, excetuando contra o Benfica e um “maybe” contra o Porto ou Sporting, pelo que não vou aqui iniciar uma dissertação de 4-4-2 ou 4-3-3 ou triângulos invertidos de Rui Vitória.
O que eu sei de Rui Vitória é o que sabe a maioria dos Benfiquistas: Sabe que ele é benfiquista, sabe que ele já esteve no Benfica, sabe que ele fez alguns trabalhos porreiros em outras equipas, e sabe que especialmente no Guimarães foi capaz de lançar alguns jovens e outros desconhecidos com algum sucesso.
Será que isso chega para o Benfica?! Bem, o desejo de todos é que chegue, claro, e que Rui Vitória venha a ser uma agradável surpresa, ao contrario de outros como Paulo Sérgio, Domingos, José Couceiro, Paulo Fonseca ou até Marco Silva, treinadores que também chegaram a clubes grandes com as mesmíssimas credenciais que se podem apontar hoje a Rui Vitória, e que acabaram por falhar na maioria das vezes.
O que é que diferencia a aposta Rui Vitória de uma aposta Paulo Fonseca por exemplo? Em face do que disse acima, não muito, pelo menos para os adeptos. Os adeptos guiam-se quase sempre por critérios de emoção, com pouca razão e pouco raciocínio lógico, e é aí que começa a termina o critério da escolha.
Um exemplo: Muitos adeptos queriam Marco Silva. Mas se fosse perguntado a esses adeptos: Porquê Marco Silva?, a maior parte diria, porque venceu uma taça, já trabalhou num clube grande, parece ser bom rapaz e chegava ao Benfica com uma sede de vingança do Bruno de Carvalho que nos poderia ser útil. E é até aí apenas que vai a capacidade de avaliação da grande maioria dos treinadores pela grande maioria dos adeptos.
A minha grande esperança pois, é que quem teve de escolher um novo treinador para o Benfica, neste caso Luís Filipe Vieira, tenha escolhido com muito mais razão e pensamento lógico, e com muito menos emoção do que qualquer adepto. É isso que lhe exijo.
De uma coisa no entanto tenho a certeza, e é apenas uma constatação: À partida, e pelo menos dos benfiquistas com quem tenho falado nos últimos dias, não houve nem um que reagisse inicialmente à possibilidade Rui Vitória com um: “Ah, granda Vieira, desta vez acertaste!” Não, quase todos se saíram com um: “O quêêê?! Rui Vitória?!” Rui Vitória parece pois ser um daqueles casos em que primeiro estranha-se depois entranha-se.
E este é pois o grande desafio de Rui Vitória. A grande maioria dos que hoje o defenderão, não o defenderão por ser o Rui Vitória. Defenderão porque é o novo treinador do Benfica, como defenderiam o Paulo Fonseca, o José Peseiro ou outro qualquer. A maior parte dos Benfiquistas terá de ser conquistada primeiro, e Rui Vitória chega à Luz, julgo eu, com muito mais desconfiança do que confiança em seu redor.
Uma sondagem interessante neste blogue, assim Rui Vitória seja apresentado, seria perguntar aos Benfiquistas:
O Benfica mudou para:
A) Melhor
B) Pior
C) Não sabe ou não responde
Eu adivinho numa votação destas um resultado de:
15% para melhor
45% para pior
40% não sabe ou não responde
Por isso, a grande batalha de Rui Vitória vai ser essa:
A desconfiança deixa sempre pouquissima margem de erro:
Aos primeiros jogos do Benfica na nova época, os olhos estarão sobre si:
45% já estarão com o pé atrás em relação a ele, e os 40% que não sabem hoje serão aqueles que saberão amanhã, logo em Agosto ao fim dos primeiros resultados, tornando a sua vida num sonho lindo ou num absoluto inferno.
Não interessa aqui falar muito mais de Jorge Jesus, mas os últimos 10 dias mostram claramente que Jorge Jesus é um personagem que continuará por algum tempo a gerar grandes amores e desamores pelas bandas da Luz...
...E neste contexto Luís Filipe Vieira trouxe para si uma pressão imensa para a nova época: A começar, ao perder Jorge Jesus para o grande rival – se ele for bem sucedido em Alvalade, ninguém lhe perdoará isso; e depois ao escolher como sucessor de um dos técnicos mais bem sucedidos de sempre ao serviço do Sport Lisboa e Benfica, um treinador sem experiência de clube grande, sem grande expressão mediática e sem grande margem de erro junto dos adeptos.
Se tivesse sido eu a decidir, bem, escusado será dizer que por mim não tinha deixado Jesus fugir; mas admitindo que ele me tinha fugido, tudo teria feito para ir buscar um treinador estrangeiro, competente, alguém que criasse uma certa química com os sócios imediatamente, um Preud´Homme por exemplo, escolha essa à qual também teria de acrescentar alguns critérios racionais evidentemente. E isto não é dizer que LFV errou com Rui Vitória, é apenas admitir que se calhar nesta altura eu não teria a mesma coragem que ele! É um tiro com um risco imenso, especialmente para si próprio!
Mas isto, repito, sou eu a julgar as coisas à distância, e não me perguntem se o Preud´Home joga em 4-4-2 ou 4-3-3 que eu não sei, estou a basear-me apenas em critérios emocionais, que julgo, que em face ao momento que o clube vive, é um critério TAMBÉM deveras importante. Há diferenças entre chegar um Preud´Homme com 80% do estádio a fazer força para que seja bem sucedido, ou chegar um “desconhecido” com 50% do estádio à espera que erre para poder dizer: “Estás a ver como tinha razão?”
Alguns poderão dizer assim: Bem, Jesus também era um ponto de interrogação quando chegou. Talvez sim, mas não tanto assim. Jorge Jesus foi treinador de um grande Braga que realizou grandes jogos contra os grandes, sempre olhos nos olhos e com futebol de ataque; Jorge Jesus já tinha disputado pelo Belenenses uma grande eliminatória europeia contra o Bayern Munique que todos ou quase todos também viram, e no qual o Belenenses foi absolutamente fantástico do ponto de vista tático...
Jesus já tinha um discurso provocador e destemido (essencial na minha opinião); Jesus conquistou os Benfiquistas logo na pré-época, de tal forma que pode até empatar o seu primeiro jogo oficial ao serviço do Benfica que ninguém se importou e nem por isso o entusiasmo dos adeptos esmoreceu de maneira nenhuma... Todos perceberam logo o que aí vinha.
E no final o mais importante, Jorge Jesus chegava ao Benfica apenas a ter de fazer melhor do que todos os treinadores perdedores que pela Luz tinham passado nos últimos anos; bem diferente nos dias de hoje, pedir a um “treinador sem calo”, que faça esquecer alguém que foi tão bem sucedido como Jorge Jesus, e que saiu deixando as bancadas tão divididas!
O desejo de todos é pois que este seja um dos grandes momentos que marcará a passagem de LFV pelo Sport Lisboa e Benfica, o ano em que prescindiu de um treinador vitorioso e quase unânime nas bancadas, para apostar no talento que ele viu num quase desconhecido, e que chegou à Luz para fazer igual ou melhor do que o que partiu, exorcizando o fantasma JJ de imediato.
Se assim acontecer, aqui estarei para aplaudir de pé e reconhecer a LFV o olho para a bola que até hoje nunca lhe reconheci... Mas começo a pensar que o próximo ano não é tanto o de sabermos o que vale Rui Vitória, é sim o ano de sabermos o que vale Luís Filipe Vieira em termos de conhecimentos futebolísticos!
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