Num momento em que ando em ondas não românticas e com vontade de olhar para as coisas com alguma frieza, há alguns dogmas que me parece importante desmistificar desde logo:
O primeiro é esse que vejo sair da boca e das teclas de muita gente, essa teoria alarmista de que quando se faz um All In, tipo aquilo que se diz que fez o FCP este ano ou o Benfica há sete anos atrás, se não se ganha é o fim do mundo e o clube não mais se endireita.
Nunca percebi de facto essa teoria. Evidentemente, um All in só tem consequências devastadoras se feito em maus jogadores, porque de facto, e contas feitas, o que separa neste momento o Benfica e o seu primeiro lugar na Liga, do FCPorto e o seu segundo lugar, é na realidade um redondo zero.
Vamos faturar mais este ano com vendas de jogadores do que o FCP por termos sido campeões?! Claro que não, mesmo que quiséssemos. O Benfica acaba a época com dois jogadores vendáveis por muito dinheiro, o FCP tem 3 ou 4 no mínimo!
Vamos faturar mais em competições europeias?! Claro que não! Estamos na Liga dos Campeões como o Porto também lá está, nada diferente nesse aspeto.
Vamos recuperar os cerca de 70000 sócios que deixaram de pagar quotas num passado recente? Também julgo que não.
O que teve afinal o Benfica a mais este ano do que o FCP? Teve uma festa no Marquês, e ainda assim, que foi fugaz e acabou mal, fazendo capas de jornais e de noticiários pelas piores razões... E quando se percebe essa realidade, e quando se retira a emoção à coisa, e quando se percebe que motivo de festa pode ser até acabarmos em terceiro lugar no campeonato, desde que duas semanas depois roubemos aos campeões o treinador e um jogador qualquer para que o sonho renasça de novo, percebemos a fugacidade disto tudo.
O segundo dogma é aquele que alguns defendem de que, esta nova época desportiva, que para já arranca tremida e com cunho marcado pelo presidente, será decisiva para Luís Filipe Vieira em ano de eleições.
Na verdade não vai meus amigos. Claro que alguns já estão esquecidos que depois do golpe dos estatutos, para se ser candidato a Presidente do Benfica, mesmo que se seja sócio desde o dia em que se nasceu, a idade mínima é 43 anos!! Sim, meus amigos, 43 anos!! 18 anos a pagar cotas até à maioridade, mais 25 a pagá-las como sócio efetivo, e depois sim, está-se finalmente habilitado a concorrer à presidência provado que está que somos de facto Benfiquistas e não uns alpinistas quaisquer a querer aproveitar-nos do “excelente” trabalho feito.
Depois claro, podemos também contar que alguns já se esqueceram que quem ganha as eleições são as casas do clube, apaparicadas desde sempre, muitos 50 votos garantidos, independentemente dos anos de filiação.
Depois, podemos também contar que se no meio destas dificuldades todas ousar aparecer algum candidato (o que não é fácil diga-se), Luís Filipe Vieira não entra em conversas nem em debates, aliás como provou num passado recente, esta sim uma inovação da democracia e daquelas que mais me desilude.
E por último e se calhar o mais importante, alguém acredita que depois de um Bi-Campeonato no futebol e de todas as vitórias nas modalidades, a reeleição de LFV poderá estar em perigo por causa de um Tri-Campeonato perdido?! Evidentemente que não.
Se LFV estiver a olhar para isto da forma que eu olho, também ele já percebeu que de facto, em termos de gestão FINANCEIRA do clube, ganhar títulos não é o essencial, embora seja essencial ganhá-los de vez em quando. Os títulos só são essenciais para manter os adeptos contentes, e se calhar, depois de um Bi-Campeonato ganho, esta era a altura em que tinha uma almofada de ar para poder por em prática o SEU projeto.
Essencial para os clubes (financeiramente entenda-se), mais do que ganhar SEMPRE (claro que ganhar de vez em quando é primordial), é disputar os campeonatos até final (para encher o estádio sempre), estar presente na Liga dos Campeões (e para isso o segundo lugar também chega), e ser eficaz na politica de contratações de modo a ter todos os anos bons ativos desejados pelos grandes clubes europeus.
Trazendo tudo isto agora para a realidade, com Jorge Jesus à frente do Benfica, Luís Filipe Vieira já tinha isto tudo: Tinha uma equipa a ganhar ou a disputar todas as provas até final, tinha visibilidade europeia todos os anos (este último foi a exceção), e tinha jogadores a ser vendidos por muitos milhões todos os finais de época, que permitiam novas boas contratações e manter a roda a girar. Com Rui Vitória também poderá ter isto tudo, mas para já é apenas um “poderá” com necessidade de confirmação no terreno.
E é por isto que esta mudança de paradigma acarreta um risco imenso. Custa-me a aceitar esta inversão de politica no Benfica? Vocês sabem que sim, tal como sabem que desconfio desta nova fórmula. Mas também aqui vou dar o benefício da dúvida ao Presidente, e reconhecer que tenho de respeitar que esta era a sua visão para o clube, e foi para isto que se preparou há 10 anos atrás com Seixais e outras boas estruturas para a formação.
Luís Filipe Vieira tem portanto toda a legitimidade de ansiar concretizar o seu projeto, e ver um dia o Benfica ganhar com a sua formação e com os jogadores que cria desde berço. Depois de um Bi-Campeonato, e com essa tal almofada de que falei, se calhar este era de facto o momento certo para o fazer.
O que me parece porém é que a concretização do projeto de Luís Filipe Vieira pode ter chegado ligeiramente fora do prazo, num ano em que começa a pairar por aí o tal fantasma a que também aqui já me referi várias vezes, o do capital externo nas SADs dos clubes que pode baralhar isto tudo, e onde também escrevi que o que prevejo é que a partir do momento em que essa seja a realidade num dos três grandes, será dificílimo os outros dois não irem fazer o mesmo logo a seguir.
Por ironia do destino, o eterno terceiro classificado do campeonato português fez o Bi-Campeão hesitar no que fazer a seguir.
Já não chegava ter perdido o seu treinador para o Sporting (sim perdido, a imagem que passou é que LFV o perdeu de facto), tal como agora esse Sporting, esse tal exemplo da contenção de custos e Leõezinhos Made in Alcochete que LFV queria seguir, parece querer inverter essa politica para ter mais chances de ganhar.
Escusado será dizer que o grande risco para LFV no próximo ano não é apenas não ganhar o campeonato: É ver os Leões ficar à nossa frente, num ano em que tentaram copiar a nossa política e o que de bom julgavam que tínhamos, enquanto nós optámos por abdicar de tudo isso para copiar uma fórmula derrotista que na verdade nunca tinha sido capaz de ganhar porra nenhuma!
Claro também que LFV tem uma vantagem enorme em relação a Pinto da Costa ou Bruno de Carvalho neste momento: Vem de um Bi-Campeonato e não precisa de All In nenhum. Perder um campeonato depois de dois ganhos não será um drama de consequencias devastadoras, pelo que não é a nós que cabe entrar em loucuras utópicas que possam por em causa o futuro financeiro do clube.
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