A despedida que merece

A realidade mostra que por uma razão ou por outra, não têm sido muitos os heróis das bancadas da Luz consagrados com a camisola do Sport Lisboa e Benfica, a partirem para outras paragens tendo a despedida que mereciam.

David Luís e Matic sairam à pressa no mês de Janeiro, Javi saiu em altura de pré-época, Cardozo saiu pela porta dos fundos quase como castigo por ter marcado tantos golos...

Mas há heróis e heróis, há alguns que na Luz foram apenas grandes jogadores embora sem nunca terem criado grande afinidade com o clube, e há outros, que mesmo longe, ontem mesmo aproveitaram a oportunidade de manifestar publicamente a sua afinidade com as nossas cores, e de mostrarem que apesar de longe continuam atentos e a torcer por nós...

Há Cardozo nesse grupo, há Aimar, há Javi Garcia e David Luís, e há outros seguramente para não sermos injustos... São dos nossos sem dúvida alguma...

Joga ainda na Luz outro que há-de ser sempre dos nossos, e que tenho a certeza recordarei para sempre como ainda hoje recordo Isaías, como um dos maiores expoentes que vi jogar com a nossa camisola, alguém que sem ser aquilo a que se chama um craque de clube de topo europeu, sempre representou a crença e o lema que aprecio realmente num jogador de futebol e que faz dele jogador à Benfica: “Antes quebrar do que torcer.”

E gostava que no próximo Domingo, e por ser um jogo de consagração e de festa e por isso com circunstâncias diferentes, não deixasse de ser dada a Maxi Pereira a oportunidade da despedida se realmente, e como parece, esse vier a ser o seu último jogo com a camisola da águia no Estádio da Luz...

Maxi Pereira merece esse momento e a volta de honra, com um estádio da Luz cheio a aplaudi-lo de pé...

Estes seis anos de um Benfica mais capaz, mais ganhador e que tão mais feliz nos fez enquanto adeptos, tem muito dele... Mas ele já era assim, o mesmo Maxi, em épocas menos felizes do Benfica, e se menos ganhámos nunca foi por ser menor o seu empenho... Para ele nunca houve jogos grandes nem pequenos, tardes de chuva ou tardes de sol, houve apenas jogos de futebol.

Se os Benfiquistas foram felizes, se Jorge Jesus pode ser feliz, foram-no por causa de jogadores como Maxi Pereira...

São oito anos do Uruguaio no Benfica... Oito anos de empenho, de dentes serrados, oito anos de intensidade máxima, sangue, suor e alma, a camisola do Benfica fica-lhe bem...

E lembrar que há dois anos, na sua época menos feliz de águia ao peito já se anunciava o fim, que a frescura física já não era a mesma e era hora de dar lugar a outros...

Pois Maxi respondeu ao fim anunciado com outras duas épocas fabulosas, a ponto de hoje e quando ainda só tem 30 anos, já custe tanto aos Benfiquistas imaginar um Benfica sem ele, no campo sim mas também fora dele, o portador da mística e o farol que ilumina o caminho de tantos outros jogadores que só brilham porque vão à boleia emocional de jogadores como ele...

Da minha parte claro, o desejo que fique... Mas a experiência também já me permitiu perceber que nesta coisa do futebol não podemos deixar o sentimentalismo ser a cartada mais forte...

Para os adeptos existe apenas o momento, e os mesmos que hoje lhe suplicam que fique são os mesmos que há dois anos atrás já lhe colocavam as malas fora da Luz, e que não hesitarão em voltar a fazê-lo num contexto de duas ou três exibições menos conseguidas.

Nestas coisas da bola, quem é inteligente sai em alta, e cabe aos adeptos aceitar que ao fim de oito anos de enorme dedicação e em que nada nos fica a dever, também Maxi Pereira está numa idade em que outros valores se possam levantar e que não há vergonha nenhuma em defender os seus interesses...

Seja como for, e se já se souber que no Domingo Maxi joga o seu último jogo na Luz, fica o meu desejo sincero, que ao contrario de outros que o antecederam, o uruguaio possa ter a despedida que merece...

Maxi é a prova provada, que para se ser um dos símbolos maiores do nosso clube e um dos representantes máximos da mística e da história encarnada, não é preciso ter-se passado por todos os escalões da formação ou ser-se do Benfica desde que se nasceu.