Viver no fio da navalha tem de ser o habitat natural

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Friday, February 6, 2015

Viver no fio da navalha tem de ser o habitat natural


Bem, não podemos acusá-los de não terem tentado… Esta é a semana de colocar toda a artilharia no assador, porque se o Benfica vencer em Alvalade, o campeonato pode ficar a um passo. Logo a seguir vem o Porto X Sporting, um deles pelo menos perderá pontos, e depois em termos de jogos grandes ficará a faltar o Benfica X Porto, disputado na Luz e que por isso nos poderá dar alguma vantagem.

Esta é pois a semana do ruído fabricado na imprensa, e não vale a pena criticarmos essa imprensa ou sentirmo-nos perseguidos. Tudo isto faz parte do jogo, parte do espetáculo, e as equipas grandes têm de saber viver com isso. Quem não souber, que procure emprego num clube de meio da tabela, porque para jogar no Benfica, viver no fio da navalha tem de ser o habitat natural.

O ruído da renovação ou não de Jorge Jesus foi um tiro no escuro. Se serviu para alguma coisa foi para colocar benfiquistas contra benfiquistas, porque em termos de balneário, convenhamos, é o prato do dia. A renovação/saída de Jorge Jesus não é assunto desta semana. É assunto dos últimos 5 anos, e em abono da verdade, em termos de balneário, já houve momentos bem mais difíceis em que a renovação/saída do treinador poderia de facto ter algum impacto. Agora?! Não creio.

Se um empresário valorizar publicamente um representado seu, dizendo algo do género de que se o Benfica não quiser não faltará quem queira, é razão de todo este burburinho, então vamos todos acreditar que também em Madrid o rebuliço deve ser o mesmo nesta altura, depois de Jorge Mendes dizer na mesma intervenção, que no dia em que o Real quiser vender, há clubes dispostos a pagar 300 milhões pela máquina de golos Cristiano Ronaldo!

Já hoje a imprensa volta à carga com a notícia de que há colossos europeus atrás de Sálvio. Esta entende-se bem… Se Gaitan não jogar Domingo, o Benfica em termos artísticos resume-se a… Sálvio… É ali que tem que se atacar… Mas também aqui é mais um tiro de pólvora seca, a janela de transferências nem há uma semana fechou, será que o Sálvio vai perder o sono por causa desta notícia? Claro que não vai!

Aquela que poderá de facto ter mais impacto é esta notícia fabulosa, de que o Marco Silva estará a preparar uma estratégia especial para pressionar Artur nos momentos em que a bola lhe for passada para o pé, porque parece que está na baliza o elo mais fraco.

Aqui gostava de me alongar um bocadinho mais. Porque como Jorge Jesus disse (e muitíssimo bem) o Benfica já ganhou em Alvalade muitas vezes com Artur na baliza. E eu diria mais, ganhou em Alvalade com Artur, e ganhou em muitos outros campos, e em muitos deles com exibições fabulosas do brasileiro.

Este Artur, de quem confesso nunca ter sido grande admirador, fez no Benfica uma primeira época fantástica ao ponto de se falar que iria ser chamado à seleção brasileira.

Por isso, este Artur não é nenhum aprendiz pouco habituado a estes ambientes, e tenho a certeza de que estará à altura no jogo de Domingo. Se é por ali que o adversário pensa que a barraca vai abaixo, não creio que esse vá ser o caso.

Artur é a prova provada de que para jogar no Benfica não basta ser bom jogador. É a prova provada de que há muitos melões que chegam à Luz com selo de qualidade, mas que depois a pressão a que estão sujeitos todos aqueles que jogam com a camisola da águia, não os deixa mostrar tudo o que valem.

Poderia aqui ir um bocadinho mais atrás, a Roberto – o flop, a quem ainda hoje consigo perceber a razão pela qual se pensou que estava ali um diamante em bruto!

Guarda-redes alto, possante, jovem, excelente entre os postes, guarda-redes de defesas impossíveis, mas fraco nos cruzamentos. Quem o viu pensou assim: “Bem, o gajo ainda é miúdo, ainda não é um produto acabado, ainda vamos a tempo de lhe corrigir esse ponto fraco, e se o conseguirmos fazer, ficamos com um guarda-redes absolutamente fantástico.”

Só que o Roberto começou mal. Dois frangos nos primeiros três jogos, a imprensa a carregar e os adeptos a desconfiar, e isto no Benfica, e na cabeça de um jovem que está ainda a começar e precisa de um ambiente de confiança à sua volta, pode ter consequências devastadoras.

Para Roberto não houve tempo para aprender nem corrigir defeitos, não houve ambiente na Luz que lhe permitisse ter uma segunda oportunidade! E teve de sair, para que o ruído acabasse de vez!

O grande teste que se pode fazer a um jogador que se quer à Benfica, é como reage ele a estes ambientes, ao ambiente de um estádio cheio em que sabemos que há nas bancadas uma grande maioria de adeptos do nosso clube que nos considera indignos de vestir a camisola, e que estão sempre à espera que falhemos porque não acreditam em nós. Como reagimos nós ao frisson que vem da bancada de cada vez que a bola nos chega aos pés e às mãos!

Há muitos bons jogadores no Benfica que falharam esse teste. Há muitos jogadores que adorariam ter esta característica de Jorge Jesus por exemplo, de alguém que se está absolutamente cagando para aquilo que digam dele, independentemente da situação ou do ambiente!

Roberto falhou este teste, Abel Xavier falhou há bastantes anos atrás, muitos miúdos das camadas jovens falham porque em Portugal há esta atmosfera estranha de que se está sempre à espera que os miúdos falhem, miúdos sabedores que a tolerância aos seus erros é bem menor do que para material importado... E Artur falhou também!

Mas nem todos falham! Há outros que também viveram esse teste na Luz, mas souberam ser superiores aos ambientes negativos e sair por cima. Lembro-me por exemplo de Gaitan e Di Maria, jogadores que tiveram na Luz inícios difíceis, mas sempre tiveram a confiança necessária para nunca se encolherem, continuarem a pedir a bola no pé e a partirem para cima dos adversários.

Artur apareceu na Luz no pós Roberto, adeptos aliviados, e tinha uma tarefa de certa forma facilitada. Porque os adeptos não lhe exigiam muito. Ele só tinha de ser melhor do que Roberto para ser bem sucedido. E foi melhor, muito melhor, grandes exibições e defesas impossíveis, as bancadas da Luz encantadas com o seu talento, e não tenho dúvidas de que o consenso em seu redor fez de Artur um guarda-redes melhor do que era. Artur cresceu com essa confiança.

O problema pois, de jogadores que crescem com a confiança dos adeptos, é que também se diminuem quando o ambiente não é favorável. E foi aí que Artur pecou e mostrou que era fraco mentalmente... Esteve nas nuvens na Luz, falhou em alguns momentos importantes, a desconfiança instalou-se, a desconfiança gerou medo de falhar e falta de confiança, e Artur ficou bem mais perto do erro do que das defesas impossíveis.

A juntar a isto apareceu Oblak. Artur era o titular mas era pelo esloveno que os adeptos suspiravam, e Artur nunca mais superou este quadro mental. Passou a ser um mau guarda-redes?! Acho que não. Artur é um bom guarda-redes, perfeitamente capaz de ir a Alvalade e valer pontos.

E dito isto, acredito em Artur porquê? Porque o quadro mental do brasileiro neste momento já é outro. Artur já bateu no fundo na Luz, Artur já não tem nada a perder, Artur sabe que a saída no final da época é inevitável, Artur sabe que as expectativas dos adeptos em relação a ele estão muito baixas...

Artur já não luta por seleções ou carreira na Luz. Artur luta apenas por sair da Luz com dignidade... 

...Artur luta por um último grande momento de águia ao peito, e Domingo tem a oportunidade de voltar a ser importante.


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