“Para atingirmos o top10 e sermos considerados um dos melhores do mundo não podemos estar em Portugal. Há meia dúzia de grandes equipas no mundo, mas não sei se essas me querem. Se me sinto capacitado? Claro que sim. Mas para dizer que somos o melhor do mundo, como o José Mourinho, tem de ser pelos títulos que ganha. Essa é a grande diferença entre os treinadores. Quem consiga ir para um grande clube e não ganhe títulos poderá ser um bom treinador, mas nunca um grande treinador.”
O que depreendo eu destas palavras de Jorge Jesus? O mesmo de sempre.
1. Jorge Jesus acha-se um dos melhores treinadores do mundo? Sim, acha, o que é legítimo e não tem de melindrar ninguém. Os melhores acham sempre que são os melhores. É uma pressão que não receiam colocar neles próprios, porque têm consciência do seu valor e essa pressão obriga-os a melhorar todos os dias.
2. Jorge Jesus acha que pode ser considerado pela opinião pública um dos melhores treinadores do mundo? Não, ele sabe que não, porque ninguém pode ser o melhor do mundo a treinar em Portugal. Para se ser o melhor do mundo tem de se ganhar jogando contra os melhores do mundo.
Há esta diferença muito subtil em nos acharmos os melhores em algo que fazemos mas termos consciência que mais ninguém acha o mesmo. Jorge Jesus pelos vistos tem essa consciência, o que poderá ser novidade para alguns.
Em semana de Derby, o homem mais poderoso do futebol mundial (leiam aqui um EXCELENTE artigo sobre ele) ajuda à festa:
“Jorge Mendes avisa LFV. Jorge Jesus tem mercado e poderá facilmente sair.”
Óbvio também. Só alguns lunáticos podem achar que Jorge Jesus não é um bom treinador, e que lá fora ninguém está atento ao homem que ao fim de trinta anos foi capaz de quebrar e hegemonia esmagadora do FCP em Portugal, e colocar o Benfica no topo da lista dos clubes mundiais que melhor vende jogadores.
O problema é que Jorge Jesus já não é novo. Jorge Jesus terá no próximo Verão 61 anos! E seguramente não terá entrada direta num desses 6/8 clubes de topo onde poderia chegar e ganhar imediatamente.
Será que Jorge Jesus tem tempo, aos 61 anos, de ir para o estrangeiro construir carreira, treinar um Braga qualquer de uma liga melhor, e tentar com isso abrir portas uns anos mais tarde num clube de topo europeu que lhe permitisse ganhar a Liga dos Campeões?! Duvido.
Seria seguramente diferente se Jorge Jesus fosse 20 anos mais novo, se tivesse crescido num futebol português já aberto ao mundo, no qual triunfar em Portugal e procurar depois voos mais altos na Europa fosse o caminho natural, como o foi para Mourinho ou Vilas Boas.
O problema é que Jorge Jesus não é desse tempo. Começou do fundo em Portugal e subiu a corda a pulso, e faz parte de uma geração que cresceu vendo treinar um grande português como o topo dos topos, e dessa geração de treinadores portugueses, aqueles que emigraram foram aqueles que tiveram de o fazer para não morrerem de fome no nosso país. Quantos sobreviveram a um nível de primeira Liga? O Jesus e o Manuel Machado, se calhar por isso hoje parecem tão amigos.
Claro que alguns benfiquistas continuam agarrados aos pormenores, ao feitio do homem, aos chavões dos meninos que têm que nascer 10 vezes, ou ao chavão do treinador que como homem vale zero sustentado em algumas frases soltas de alguns ex (ou actuais) pupilos.
São leituras legítimas? Evidentemente que sim mas, o que me agrada no meio disto tudo é nunca ter ouvido um ex-pupilo dizer que Jorge Jesus era um mau treinador, bem pelo contrário. Todos os ex-pupilos dizem que como treinador (que é o que me interessa), Jorge Jesus é do melhor que há, que todos aprenderam com ele, e que todos se tornaram melhor jogadores do que eram quando chegaram às suas mãos.
Quando mesmo os seus “inimigos” do balneário nada têm a apontar à competência e ao profissionalismo de quem os dirige, a mim como adepto, isso deixa-me descansado e é um atestado de qualidade ao grande treinador que o Benfica tem.
No mais, eu não sei sinceramente se o homem vale zero ou mil, e sinceramente não acho que o mais importante seja saber se o Jorge Jesus do balneário é a Madre Teresa ou o Hitler, ou se os jogadores vão ou não muito à bola com ele...
Aquilo que eu exijo enquanto adepto é que Jorge Jesus treine e que no campo as suas equipas atinjam o máximo do seu potencial... Esse tem de ser sempreo critério número um!
E já nem vou ao ponto de referir que acho leviano começar-se a fazer do foco principal das nossas análises, o feitio de pessoas com quem nunca trocámos uma palavra, porque entrar nesse campo, e para mais ouvindo “coisas” apenas de uma das partes envolvidas nas questões, pode trazer erros de julgamento gravíssimos.
Mas eu aceito, e concordo, que ao longo de seis anos de Benfica, Jorge Jesus teve momentos infelizes, alguns até que como Benfiquista me envergonharam, e seguramente motivo mais do que suficiente para ser criticado... O que eu acho é que isso não pode ser o mais importante... Às vezes temos de engolir alguns sapos, e reconhecer que para termos o génio também temos de ter os "podres" que vêm com ele!
Eu gostava por exemplo que alguns adeptos do “o Jesus como homem vale zero”, me dissessem se foi de homem que vale zero ou de homem que vale mil, quando o Deus Mourinho numa famosa conferência de imprensa, matou para o futebol o ídolo das bancadas Sabry, linchando-o publicamente de alto a baixo...
Eu gostava que esses mesmos adeptos do “o Jesus como homem vale zero”, dissessem se vale zero ou vale mil, um homem que à frente dos seus jogadores é uma coisa, e que por trás anda envolvido em piadas com os jornalistas (sem saber que estava a ser gravado) brincando com a idade de um dos seus jogadores! Sim, é mesmo esse, o Mourinho, de quem também hoje Samuel E´to diz que como homem vale zero.
E tudo isto para dizer o quê? Que não entro por esses caminhos. Que quezílias de balneário são inevitáveis, situações infelizes também, e que situações de balneário, amizades, cumplicidades e arrelias, valem o que valem e têm apenas a importância que lhes quisermos dar. Para a maioria esmagadora dos adeptos, tenho a certeza de que estas são questões completamente periféricas.
Temos o melhor treinador em Portugal? Não tenho dúvida nenhuma que temos. O Benfica morrerá se amanhã Jorge Jesus sair? Evidentemente que não. Se amanhã formos capazes de encontrar alguém que também seja um excelente treinador de futebol, e que traga ainda o bónus de saber lidar melhor com situações que levaram Jorge Jesus a momentos infelizes no nosso clube, aceitarei mudar sem problema nenhum.
Mas não chega falar melhor, não dar pregos na gramática e ser muito amigo dos jogadores como era o José Peseiro. Não, antes disso tudo, o que é preciso é ser-se um grande treinador de futebol. Existe? De certeza absoluta que sim! Ao nosso alcance? Digam-me quem.
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