Luís Filipe Vieira dá hoje mais uma grande entrevista, e evidentemente lá vem à baila a sua bandeira da formação. Eu confesso que não gosto muito quando ele fala, até porque a experiência já me mostrou que quando ele fala e pinta o mundo de cor-de-rosa, a realidade encarrega-se de o pintar de negro logo a seguir...
E como quando o cenário está negro, LFV não fala e ninguém o vê, eu preferia que ele não gastasse as fichas todas da oratória quando a realidade encarnada está mais ou menos em paz... Mas como dizia, lá vem outra vez a conversa da aposta na formação, mais palha como se costuma dizer...
Caramba, apostem nos putos ou não apostem, decidam-se! Mas apostar na formação não necessita de anúncios. Anúncios implicam cobrança, está em todos os manuais. Deixemo-nos pois de anúncios de craques, de sonhos cor de rosa, de ideias lindíssimas no papel mas que não temos a certeza se alguma vez serão realidade. Nenhuma política sobreviverá a um Benfica que não ganhe!
Hoje é normal ouvir benfiquistas mais velhos falar com saudade desses tempos gloriosos do Benfica, tempos aos quais, fruto da minha idade não pude assistir, tempos das grandes conquistas europeias, de lembrar um Benfica português, ganhador e com jogadores da casa.
E nesse saudosismo que sou capaz de compreender, fazem-se então comparações aos tempos de hoje, de um Benfica sociedade das nações, em que os jogadores da formação do clube não contam.
Bem, eu não sei se contam ou não, o que sei é que com Vieira ou sem Vieira, com Jesus ou sem Jesus, desde 1991, portanto desde há quase 24 (!!) anos atrás, grandes jogadores que tenham saído da formação do Benfica para a Europa do futebol, lembro-me de um: Rui Costa.
Ou sendo honesto, e porque este também foi um bom jogador da Europa do futebol, acrescentaria Maniche, que acabou por assinar pelo FCP numa altura em que era aposta na equipa principal do Benfica, e que consequência disso acabou por ser relegado para as reservas. E é tudo o que há para mostrar em 24 anos de camadas jovens da Luz em termos de elite.
Poder-me-ão dizer, sim, mas a história do Benfica tem 110 anos, não tem 24, e não podes por isso esquecer todos os jogadores que a formação do Benfica produziu ao longo da sua gloriosa história.
Bem, em face disso fui investigar para ver quem eram essas pérolas da formação encarnada, esses tempos gloriosos de um Benfica formado na Luz.
Só que... E depois de fazer uma seleção da maioria daqueles que fazem parte das grandes glórias da história encarnada, aqueles que realmente foram produto da formação encarnada foram...
Costa Pereira – Chegado à Luz com 25 anos.
Bento – Chegado à Luz com 24 anos
Germano - Chegado à Luz com 28 anos
Humberto Coelho - Chegado à Luz com 16 anos
Raul - Chegado à Luz com 25 anos
Veloso - Chegado à Luz com 23 anos
Mário Coluna - Chegado à Luz com 19 anos
João Alves – Júnior do Benfica. Saiu na passagem a sénior e só regressou aos 26 anos
Álvaro Magalhães - Chegado à Luz com 20 anos
António Simões – Chegado à Luz com 16 anos
Nené – Escolas do Benfica
José Augusto – Chegado à Luz com 22 anos
Chalana – Chega ao Benfica em idade júnior quando já jogava nos seniores do Barreirense
Eusébio – Chegado à Luz com 18 anos
José Águas – Chegado à Luz com 20 anos
Torres – Chegado à Luz com 21 anos
Artur Correia – Chegado à Luz com 21 anos
Ângelo Martins – Chegado à Luz com 20 anos
Cávem - Chegado à Luz com 23 anos
Carlos Manuel – Chegado à Luz com 23 anos
Vítor Paneira - Chegado à Luz com 22 anos
Vítor Paneira - Chegado à Luz com 22 anos
Toni – Chegado à Luz com 22 anos
Jaime Graça – Chegado à Luz com 24 anos
Diamantino – Chegado à Luz com 22 anos
Paulo Sousa – Chegado à Luz com 16 anos
Estou realmente estupefacto, porque sem ironias, não sabia! Afinal, esse passado glorioso da formação do Benfica, bem espremido, tem para mostrar como jogadores de topo, Rui Costa, Nené, Simões, Humberto Coelho e Paulo Sousa. Demasiado pouco para tanto saudosismo, diria eu!
Grau de influência das escolas do Sport Lisboa e Benfica no palmarés glorioso do nosso grandíssimo clube? Pouco. Muito pouco!
Era um Benfica mais português? Ah, isso era, como tinha mesmo de ser. Eram essas as regras! O Benfica era mais português, como o Real Madrid era mais espanhol e o PSG mais francês. Só podiam jogar três estrangeiros, queriam que os jogadores viessem de onde? E sorte tínhamos nós que ainda os podíamos ir buscar a África!
E os jogadores vinham, e ficavam no clube a vida toda, em alturas em que jogar num grande português era o máximo que podiam alcançar. A Europa do futebol, fruto da restrição de estrangeiros, estava destinada apenas à elite. Eusébio pertencia à elite, mas Salazar também aí deu uma ajudinha.
Portanto, esse era um Benfica muito mais português, não resultado de nenhuma orientação estratégica, mas fruto do respeito pelos regulamentos. Mas era um Benfica mais Made in Benfica? De facto, parece que não, e parece também que a politica não era muito diferente da dos dias de hoje, cativar os melhores jogadores jovens de outras formações, antes em Portugal, hoje no mundo, adaptado à realidade dos tempos modernos.
Agora, claro, é legítimo perguntar... Depois de 110 anos de história gloriosa encarnada com muitíssimo pouca influência das nossas escolas de formação, LFV descobriu de repente a pólvora? LFV descobriu a fórmula do sucesso desportivo e duradouro, para mais em tempos em que qualquer miúdo que saiba dar uns pontapés na bola está a pedir para ir para o Real Madrid ao fim de 10 jogos?
Oxalá que sim, que LFV tenha descoberto realmente a pólvora, mas seja como for, é uma fórmula nova, e não nenhum reencontro com o nossa gloriosa história como alguns querem fazer crer!
P.S. Se houver mais uma dezena de craques da história gloriosa do Benfica realmente formados na Luz (não vale Nunos Afonsos nem Abeis Silbas nem Hugos Leais, e mesmo Manuel Fernandes nunca passou de um nível médio-baixo), sem ironias, gostava que me dissessem. Como compreenderão, fruto da idade, tirando os últimos 25-30 anos, tudo o resto foi pescado da net.
إرسال تعليق