A hora de pegar nas armas?

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Tuesday, December 16, 2014

A hora de pegar nas armas?

A história da Irlanda do Norte é uma história que conheço um pouco. É um pais pequenino com menos de 1.8 milhões de habitantes, que faz parte do Reino Unido, e que viveu no passado uma das mais sangrentas guerras civis de que há memória, a conhecida guerra entre os protestantes e os católicos.

Aquilo que para muitos é uma guerra religiosa, de facto não é, e garanto que são muito poucos aqueles que pegam em armas que vão à missa. Os protestantes são pois os que defendem a integração da Irlanda do Norte no Reino Unido e "parceira" da Inglaterra (como acontece nos dias de hoje), os católicos são os que defendem uma Irlanda unida, entre o Norte e o Sul – a República da Irlanda.

Os católicos, apesar de viverem num pais britânico, continuam a achar-se irlandeses, e colocam mesmo bandeiras da República da Irlanda nas suas ruas como forma de identificação.

E em nome desta guerra civil muita gente morreu, e para trás ficaram marcas que nem o tempo ajudou a sarar. Há ódio mesmo, e temas proibidos, e alturas também – sobretudo no mês de Julho - , em que celebrações de batalhas antigas põe em confronto nas ruas alguns elementos das duas fações, e há sempre gente a “apanhar à séria”.

Mas o mais irónico nessa guerra surda que continua a existir na Irlanda do Norte entre os que querem ser britânicos e os que querem ser irlandeses, é que se formos à República da Irlanda ou à Inglaterra falar desta “guerra”, eles estão-se completamente marimbando para aquele pedacinho de terra. Mal comparado é imaginar dois “amigos” que disputam a mesma mulher e andam à porrada a vida toda, e a mulher há muito que é casada com outro e nunca quis saber de nenhum dos dois.

Os celeumas são tantos que por exemplo, no futebol existem duas seleções, a Irlanda do Norte e a República da Irlanda, e quando a Irlanda do Norte joga, o hino que se canta é o God Save the Queendos Ingleses. Já no rugby existe apenas uma seleção, a Irlanda unida que engloba jogadores das duas Irlandas, e quando a Irlanda do rugby joga, o hino que toca é uma música inventada para a ocasião, uma música neutra, já que nem o hino oficial irlandês nem o God Save the Queen se podem ouvir para não levantar celeuma.

Mas apesar das feridas abertas do passado, algumas delas bem profundas, a Irlanda do Norte é um país que conseguiu um acordo de paz no ano 2000, e desde essa altura a vida tem sido muito mais bela e pacífica para todos. As pessoas podem andar na rua livremente, ir às compras ou ao teatro, sem medo que uma bomba lhes rebente no carro ou que um cocktail molotof lhes entre pela janela e lhes destrua a família.

Claro que, mesmo que 99% da população da Irlanda do Norte defenda a paz, há sempre o outro 1% que não esquece o passado e que faz tudo para que o terror regresse às ruas e tudo volte a ser o que um dia foi. Volta e meia alguém provoca um incidente que visa provocar um rastilho e incendiar a população, mas a maioria da população ignora, deixa passar, está vacinada, sentiu na pele o preço a pagar por esse ódio, porque de facto é a paz que querem e é nela que querem desfrutar as suas vidas.

E isto leva-me para a tão falada aliança Benfica – FCPorto, que tem enchido páginas e mais páginas neste blogue. Eu vou lendo o que se escreve, sempre à procura de algo novo, mais sério, mais concreto, mas constato que quase tudo o que se tem escrito é especulativo. São bitaites que se lançam ao ar tentando adivinhar os contornos daquilo a que chamam aliança, que se podem ou não concretizar no futuro.

O que eu tenho visto no meio desta especulação toda, e obviamente sem certezas quanto ao resultado que este aparente  baixar de armas originará no futuro, é uma postura exemplar de Luís Filipe Vieira que pouco ou nada fala do assunto. E se LFV tiver achado que este caminho de guerrilha que dura há anos não beneficia ninguém, que esse não é o caminho que interessa ao futebol, e que não pode ser esse ódio visceral e histórico  a afastar Benfica e FCPorto do acordo em relação a medidas estratégicas do futebol português que beneficiem os interesses de ambos os clubes, eu tiro-lhe o meu chapéu por isso.

Este último Porto vs Benfica foi porventura o clássico mais pacífico dos últimos anos, sem apedrejamentos aos autocarros, sem apedrejamentos aos adeptos, onde quem foi ao futebol foi apenas assistir a um jogo do seu clube, torcer pela sua equipa, e nem por um momento a rivalidade com o clube adversário foi menor, apesar dos presidentes estarem ou não desavindos. Se este é o resultado imediato da tal "Santa Aliança", seja ela bem vinda.

Que o presidente do Benfica tenha assistido à partida na tribuna do Dragão, onde nem sequer se sentou ao lado do presidente adversário, onde nem sequer apareceu em nenhum beberete a comer croquetes e a beber champagne, eu pergunto se isto é hora de criticar um comportamento que promove a paz e que foi discreto, ou se devemos estar aqui a criticar a atitude de LFV, por causa de uma escassa minoria que nunca será capaz de perdoar nem esquecer o passado, e que só saberá viver em guerra até ao fim dos seus dias, porque acham que nós fomos sempre os bons e eles os maus, e tudo o que de mau aconteceu nunca foi culpa nossa mas sempre deles.

O engraçado (ou o mais triste) destas guerras, é que as vítimas nunca são aqueles 10 ou 15 energúmenos que as fomentam. São os outros milhões de cidadãos anónimos, gente boa e pacífica e que apenas gosta da “bola”, e que tem grandes amigos, familiares, até mulheres e maridos, nos clubes todos, incluindo até nos dos maiores rivais.

A essa maioria, de certeza absoluta que o que interessa é a paz, cansados de serem eles as vítimas de guerras sem sentido, joguetes nas mãos de meia dúzia de malabaristas que se riem do alto do pedestal em que habitam enquanto os que verdadeiramente amam o futebol são os que sucumbem lá fora.


E no meio disto tudo, claro, se o bom exemplo tiver vindo de cima, se o bom senso tiver chegado às cabeças daqueles que são os grandes responsáveis por tudo o que de bom e mau tem acontecido, tanto melhor. O futebol agradece.

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