A culpa foi do cheque

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الجمعة، 19 ديسمبر 2014

A culpa foi do cheque

Daquilo que eu vejo, a reação de alguns benfiquistas a cada derrota é pouco mais do que frustração, ira, vontade de partir tudo o que apareça à frente, oxalá não valha chegar a casa e dar dois pares de estalos na mulher.

Capacidade de análise? Comentários construtivos sem por de lado o nosso espírito crítico? Não. Isso é pedir muito a certa gente, e basta ler o que se comenta neste e noutros blogues para concluir isso.

Ah e tal ó Redmoon, sabes lá tu o que é o Benfica, e os anos 60 e 70, e éramos os maiores e sempre seremos, e onde está a exigência e coiso e tal...

Balelas, é o que digo...

Se queremos falar dos erros da pré-época, das deficiências que se vêm no plantel, dos culpados dessas deficiências, etc, etc, há muito post para trás, todos esses temas debatidos em devido tempo...

Mas depois temos de seguir em frente, no mesmo barco, sem ignorar as deficiências anteriormente apontadas e que urge corrigir, tentando fazer o melhor possível com as armas que temos, adaptando-nos o melhor possível à realidade que temos e que não podemos mudar.

Mas depois acontece uma derrota num jogo de Taça de Portugal, num jogo em que um Benfica de segunda dá um banho de bola do primeiro ao último minuto a um Braga forte e que se apresentou na máxima força, e os comentários de muitos Benfiquistas são o que se vê...

Nada, um redondo zero, frustração apenas...

E quando não há nada para dizer vem-se com as armas que se tem à mão, os 4 milhões do treinador, a lição que leva de um treinador de segunda, nada mais do que o aproveitar de uma derrota INJUSTA e em que nada se pode apontar à exibição, ao caráter, ao coletivo, à dinâmica ou à alma da equipa, e onde também não se vislumbrou nenhum brilhantismo tático no treinador adversário (podia ter saído da Luz de saco cheio), para destilar ódios antigos em relação a pessoas de quem não se gosta, e de quem nunca se há-de gostar por mais vitórias que se consigam.

O argumento para muitos, aquilo que têm para dizer, nunca há-de ser mais do que lembrar os 4 milhões...

E por isso, o que há para reter desta gente nas vitórias e nas derrotas, nos chavões dos dois títulos em cinco anos, e as taças da Liga que não contam, e a Taça de Portugal que foi contra o Rio Ave, e as finais da Liga Europa perdidas e as arbitragens vergonhosas de que já não se lembram, e também muitos erros e culpa própria, e culpados seguramente (nem sempre os mesmos em cada derrota), mas também muito mérito (e génio mesmo em muita vitória que aconteceu), parece que quem tudo ganhou e tudo perdeu foram sempre os 4 milhões do treinador. É tudo. É aí que a capacidade de análise começa e também onde acaba.
                                                                                    
O Braga chega à nossa baliza uma vez para além dos golos que fez, que foram, como todos sabemos, resultado de falhas individuais e não do coletivo, e o que há para falar é... dos 4 milhões de Jorge Jesus... E eu não consigo perceber onde é que os 4 milhões tiveram influencia no jogo de ontem, ou onde é que o treinador poderia ter feito a coisa correr melhor para o nosso lado, quando tudo o que falhou, pelo menos no jogo que eu vi, foi falta de pontaria na hora de rematar à baliza...

Na Alemanha a esta hora, quando o Borussia de Dortmund não é capaz de ganhar um jogo e anda numa luta desesperada pela manutenção (!!), os adeptos também devem andar nos blogues a questionar os 5 ou 6 milhões do treinador...

Felizmente naquela casa parece haver o discernimento para perceber que no dia em que libertarem o treinador dos 6 milhões que de momento não consegue ganhar um jogo, não há-de faltar clube de topo europeu disposto a dar-lhe uma oportunidade e a pagar-lhe 7 ou 8.

Quero com isto dizer que o facto de Klopp poder justificar 6 milhões (mesmo perdendo) implica que Jorge Jesus tem de justificar os seus 4? Não. Quer dizer apenas que, como poderá constatar quem for capaz de olhar para o futebol com olhos de ver, nas vitórias e nas derrotas, o argumento que justifica o resultado não pode ser o ordenado do treinador, que não é o ordenado que marca golos, e que o melhor ordenado não implica obrigatoriamente mais vitórias, quando a qualidade do plantel não permite ou quando o azar também bate à porta.

Klopp teve tomates há duas semanas para dizer aos seus próprios adeptos, que se quiserem ser de um clube que ganhe sempre, que se mudem para o Bayern de Munique. Uma frase certeira e que se aplica a muita gente, se calhar também àqueles que se acham os tais Benfiquistas de Gema, os Benfiquistas que assistiram às vitórias todas, e que nas horas das derrotas nunca são eles que perdem e agem como se o clube lhes seja uma entidade completamente alheia.

A esses, aos “Benfiquistas de gema”, aos Exigentes (com letra maiúscula), aos Benfiquistas que assistiram à glória toda, eu vou dizer que se calhar os Benfiquistas de gema não são eles, são aqueles que como eu aprenderam a ser benfiquistas e nunca deixaram de ser benfiquistas apesar de terem crescido num tempo em que a palavra Benfica significava apenas derrotas, e quando o mais fácil era ser do clube que ganhava sempre, que foi o que aconteceu com muitos deles.

Esta devia ser a hora de se ser construtivo, de apontar os erros de forma refletida, de apontar o que se vê de errado e onde se deve melhorar... Mas em vez disso o que se vê é o destilar de ódios pessoais, e essa vontade cega de aproveitar cada derrota para justificar esse ódio, essa estranha atração de certos adeptos pelo suicídio, de acharem que a cada derrota, a solução é deitar tudo abaixo e começar de novo.

Se o André Almeida se chamasse Melgarejo ou Emerson, o culpado da derrota de ontem tinha sido outro...

Se o Cristante se chamasse Rodrick, o culpado da derrota de ontem também teria sido outro...

Mas não, nem André nem Cristantes são ódios de estimação de ninguém (e também não são meus), pelo que, quando falham (sim, porque ontem factualmente falharam em lances que infelizmente deram golo), a razão da derrota tem de ser outro ódio de estimação qualquer…


Vir comentar o Benfica, fazendo dos meus ódios de estimação o fio condutor das minhas análises? É pouco. Muito pouco. Mas isto se calhar sou eu, que gosta de ver para além do óbvio.

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