"Titulo curioso para um clube que há menos de meia dúzia de meses colocou duzentas mil pessoas no Marquês, vinte ou trinta mil em Turim, encheu estádios por esse país fora e bate recordes de audiências televisivas. É portanto um titulo que peca por exagero. Todavia, meia dúzia de meses após a euforia da melhor época dos últimos cinquenta anos, o facto de serem sempre os mesmos trinta mil a habitarem as bancadas da Luz é sintomático que algo não está bem no reino glorioso. Que, não devemos esquecer, lidera o campeonato, venceu a Supertaça e mantém todas as possibilidades de sucesso nas restantes taças que disputa.
Talvez esta indiferença seja passageira, eventualmente resultante, como já se escreveu até à exaustão neste blogue, de uma péssima gestão das expectativas por parte dos responsáveis.
Talvez não haja problema algum, nem escassez de entusiasmo inicial. Apesar de incomodativo, talvez resulte de uma visão tendenciosa de alguém excessivamente apaixonado pelo clube e que tem dificuldade em compreender os elevados níveis de indiferença de quem se diz benfiquista. Admito que será um mal circunstancial e que a manutenção da liderança do campeonato e as eliminatórias ultrapassadas tragam à Luz os restantes 30 mil, amantes de festas e de vitórias.
Contudo, nos nossos pavilhões deteta-se algo mais grave. As cadeiras teimam, sempre, em ficar vazias, sejam dérbis, clássicos ou jogos europeus. Talvez uma final do futsal ou Benfica-Porto em hóquei consiga o milagre. De resto, seja que jogo for, do voleibol ao andebol, do super vitorioso basquetebol à colorida gimnáguia, nada nem ninguém enche aqueles dois pavilhões.
Que tem feito a estrutura do clube para combater esta maleita? Não sei. Só sei que não tem resultado. Sei, no entanto, o que tem feito para agravar o fenómeno. Apenas algumas ideias que entroncam no mesmo diagnóstico: «a massa associativa não se sente bem no pavilhão». Não se sente em casa. É a mais pura das verdades.
É o autentico estado policial que se estende da porta de entrada até às bancadas. É Prosegur por todos os lados, há jogos que temos um segurança por cada cinco espectadores. Não estou a exagerar.
É o barulho ensurdecedor do speaker, a gritar a cada jogada e a cada paragem. São as palavras de ordem telecomandadas permanentemente da cabina. É a falta de espontaneidade necessária e desejável num evento desportivo, são os niveis do volume de som altíssimos. Que vontade tem um adepto de apoiar a equipa, se da cabina de som está montada uma autentica feira popular. Até as claques se calam.
Claques que, salvo raras excepções, andam de costas voltadas para as modalidades. Não sei as razões, nem os culpados. Sei que das poucas vezes que estão presentes, o seu número raramente ultrapassa, por exemplo, o número de elementos do numerosa e mitica claque do Nacional da Madeira. Será que um clube com a dimensão do Benfica não merece mais do que duas dezenas de bons rapazes a acompanhá-lo.
As horas dos jogos. Não há uma boa articulação dentro do universo SLB. Não poucas vezes temos de escolher entre o Seixal e a Luz, entre a TV e o pavilhão. Os horários são impostos pelas federações. Certo, mas que fez o Benfica para lutar contra isso.
Que politica está ser feita com as escolas das Freguesias, do Concelho e até do Distrito? Vemos grupos de estudantes a entrar em bando para ganharem gosto pelas modalidades?
Sei que os bilhetes são ridiculamente baixos, mas será que se os sócios receberem, de vez em quanto, uns convites para levantarem bilhetes, não se criava ou retomava alguns hábitos antigos?
Os tempos são outros, mas no domingo foi uma tristeza ver aquele pavilhão quase vazio num jogo tão importante para o nosso andebol. E a BTV, sendo um projecto estruturante, não pode servir de álibi para abalar as estruturas do mais humano clube de Portugal."
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Excelente texto lido no blogue "Travessa do Alqueidão".
Quem acompanha o NGB e a minha opinião sobre o trabalho desta direcção, saberá qual é a minha leitura sobre o afastamento dos benfiquistas do dia a dia do clube.
O desaparecimento do benfiquismo militante que vivia o dia a dia do clube tem razões muito claras.
Para quem como eu viveu outros dias bem mais felizes no que toca ao benfiquismo puro que se sentia entre os adeptos, encontro várias explicações.
O adepto do clube perdeu a importância como o centro da razão de ser do mesmo.
Passou a ser algo acessório, como que um meio para um fim.
O adepto é a razão de o clube ser grande!
O Sport Lisboa e Benfica é grande porque teve homens que construíram essa grandeza, suportados por uma massa adepta gigante e ímpar.
Tudo isso foi desprezado. Ora vejamos:
- O antigo complexo da Luz era alvo da romaria de qualquer benfiquista. Quer para os treinos da equipa de futebol, quer para as refeições nos vários restaurantes. Era um espaço que tinha uma dinâmica própria, era um reflexo do benfiquismo militante, puro.
- Mas não ficava por aí. Na Baixa, o edifício da Rua do Regedor era outro ponto de benfiquimo militante. Como já outras vezes aqui escrevi, desde miúdo que ficava maravilhado com os posters das várias equipas do Benfica ao longo dos anos. Desde o Benfica dos anos 60 ao Benfica dos gadelhudos dos anos 70 e 80.
- Os treinos, algo marcante para os adeptos e que eram algo essencial para os jogadores entenderem como os benfiquistas sentiam o seu clube, são hoje exclusivamente no Seixal, à porta fechada. Os adeptos foram afastados de forma permanente também dessa actividade diária do clube.
- As modalidades como o basquetebol tinham regularmente boas casas. Hoje é uma desilusão ver as bancadas de qualquer jogo de uma modalidade.
O que é feito desse benfiquismo militante? Foi asfixiado.
O complexo da Luz, embora novo e moderno, não tem os espaços de convívio que permitam esse benfiquismo militante. Tem o Museu, a pagar, tem a Catedral, a pagar, as lojas e pouco mais que isso. Espaços de agregação e convívio impregnados de benfiquismo e que construam uma nova história de partilha de experiências do que é o benfiquismo de cada um de nós...não há.
Os benfiquistas foram empurrados para fora do dia a dia da Luz.
Interessam apenas os PAGANTES.
O que resta então? Se os adeptos sentem que são apenas PAGANTES e não o principal motivo da existência do clube, explica-se do meu ponto de vista este divórcio entre os adeptos e esta direcção.
Recuso em me considerar mais benfiquista só porque tenho um Redpass. O benfiquista que sente o clube e os seus resultados é tão benfiquista como um sócio.
Os benfiquistas, milhões deles, não deixaram de ser benfiquistas. Perderam sim o entusiasmo em viver o clube. Não se identificam com o "benfiquismo" apático que emana de alguns dos membros desta direcção. Um benfiquismo sem sentimento e que apenas se preocupa com os mesmos de sempre.
Sábado lá estará esse benfiquismo conveniente em mais uma inauguração de uma Casa do Benfica. Para alguns elementos da direcção, os benfiquistas esgotam-se nos presentes nesses eventos.
Por muito que queiram mascarar a realidade, os benfiquistas na sua maioria, estão afastados do clube e não se identificam com este benfiquismo morno. Um benfiquismo que até já considera normal dar a mão aqueles que nos amachucaram e atacaram nos últimos 30 anos.
Enquanto não entenderem que este divórcio não é com o clube mas com a forma como é gerido e como são tratados os adeptos, com o desprezo pelos valores que construíram o benfiquismo, este afastamento continuará a ser uma realidade.
Quem perde? Perde o clube e perdem os adeptos. Mas o presidente segue com a sua corte.
O verdadeiro benfiquismo não se alicerça em betão.
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