Nos últimos tempos assistiu-se a diversas movimentações ao nível das eleições da Liga, e todas essas movimentações tiveram como pano de fundo o controlo dos direitos televisivos, na medida em que a Liga já não controla a disciplina, nem a arbitragem, nem a justiça do futebol português. Essas competências pertencem desde há cerca de 2 anos à FPF.
Perante este aparente acordo entre as duas "facções" mais poderosas do futebol português, o que é que está em causa em termos práticos?
- A Benfica TV vai poder continuar a gerir os seus direitos televisivos, evitando a centralização (da transmissão) de direitos televisivos na Liga, o que colocaria em risco a viabilidade do canal do clube.
- A SportTV (próxima do FCPorto) evita males maiores, atendendo às queixas da Liga junto da Autoridade da Concorrência, que têm colocado em causa o seu quase monopólio. Mas para evitar males maiores a SportTV teve de apresentar nos últimos dias a iniciativa de alterar algumas clausulas dos actuais contratos com os clubes, removendo clausulas abusivas e anti-concorrenciais.
Para quem andou desatento:
Dona da Sport TV obrigada a mudar contratos com clubes (20 de Outubro de 2014)
A Olivedesportos, detida por Joaquim Oliveira e dona de 50% da Sport TV, manifestou à Autoridade da Concorrência (AdC) abertura para alterar alguns dos mecanismos contratuais que tem atualmente em vigor com os clubes portugueses para a exploração dos direitos de emissão dos seus jogos.
(...)
O prazo para a conclusão do inquérito suscitado pela queixa da Liga terminava na segunda-feira. Mas nesse dia a AdC notificou a Olivedesportos sobre o início de "um período de análise da proposta de compromissos entretanto apresentada" pela dona da Sport TV, para "aferir da adequação dos mesmos às suas preocupações jusconcorrenciais", resumiu ao Expresso fonte do regulador, sem especificar as propostas da Olivedesportos. O novo prazo para a conclusão do inquérito passou para 15 de janeiro de 2015.
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/dona-da-sport-tv-obrigada-a-mudar-contratos-com-clubes=f894247#ixzz3GrO6wB9H
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/dona-da-sport-tv-obrigada-a-mudar-contratos-com-clubes=f894247#ixzz3GrO6wB9H
Com este acordo, tanto a Benfica TV como a SportTV poderão continuar a sua "actividade" tal como tem vindo a acontecer e nenhum canal será inviabilizado, sendo que a SportTV ficará com menor poder de "controlo" junto dos clubes portugueses, e o mercado ditará normalmente qual a preferência e as receitas de cada canal desportivo em Portugal.
Na minha óptica, considero que se tratam de notícias positivas para o Benfica, podendo continuar a ampliar as suas receitas ao nível de uma das principais fontes de proveitos (Benfica TV/Direitos Televisivos), além do facto de as cláusulas abusivas da Controlinveste/SportTV junto dos clubes ficarem sem efeito, cláusulas essas que chegavam a obrigar contratualmente os clubes a votar nas eleições para os órgãos do futebol em candidatos apoiados pela Controlinveste, e a dar preferência negocial à Controlinveste ao nível de novos contratos de direitos televisivos.
Porque é que este "acordo" pouco teve a ver com o Sporting, e teve de envolver necessariamente Benfica e Porto?
Porque o Sporting neste momento não tem qualquer controlo ou influência ao nível dos direitos televisivos, na medida em que já os vendeu à SportTV, e os grandes influenciadores do mercado são neste momento o Benfica (Benfica TV) e o Porto (via parceria de influência com Joaquim Oliveira - Controlinveste - SportTV).
Devido ao enorme "ruído" e algumas "teorias apocalípticas" que têm existido nos últimos tempos, espero que estas explicações ajudem algumas pessoas a perceber melhor o que esteve e o que está em causa, relativamente a este assunto.
PS: Para quem anda desatento, ontem a Porto SAD apresentou mais de 40M€ de prejuízos relativos à época de 2013/2014 (link CMVM), tal como já tinha avisado há meses que aconteceria. Devido a essa "fragilidade" financeira, que se estende também à Controlinveste, o "lobby" FC Porto & Controlinveste estava mais pressionado a chegar a acordo e a ceder em alguns aspectos importantes ao nível dos direitos televisivos e à liga portuguesa de futebol.
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