Confesso que tenho acompanhado com algum interesse a carreira de André Gomes em Valência. E sem dúvida nenhuma que o ex-jogador encarnado entrou com o pé direito, tendo inclusive colocado o seu nome no onze ideal da Liga Espanhola no mês de Setembro.
Bem sei que o Redmoon vai tendo a fama de ser um “inimigo” da formação, mas curiosamente até fui eu quem, a seguir à final da Liga Europa, aqui escreveu este post “O dia em que vi nascer um grande jogador de futebol”, e aqui deixou o prognóstico de que André Gomes iria dar grande jogador.
Estando acima o link do post, basta ir ler os comentários ao mesmo para constatar que nem mesmo na Luz André Gomes foi um jogador apreciado por muitos Benfiquistas. Na verdade, nessa final da Liga Europa, André Gomes foi autenticamente trucidado, não só por muitos adeptos encarnados mas principalmente pela imprensa desportiva.
Aquilo porém que eu vi nesse jogo, foi um Benfica preso por arames, sem Enzo, nem Sálvio nem Markovic e um Gaitan inexistente. E nesse contexto de dificuldades sobressaiu para mim o André, a assumir para si a batuta do jogo, a querer levar a equipa para a frente, a pedir a bola no pé, e a tentar... a tentar tudo, a lutar quase sozinho contra a descrença.
Para muitos o que ficou do jogo do André foram as bolas que perdeu. Para muitos Benfiquistas André tinha acabado de mostrar o quanto era banal. O que eu vi foi um André que sim, perdeu bolas, porque foi ele quem nesse jogo fez quase tudo, quer a atacar quer a defender.
É nestes momentos que os fracos, aqueles que nunca vão dar em nada se escondem, que preferem escapar no anonimato da mediania, proteger-se da critica por entre os pingos da chuva, em vez de assumirem o risco de tentarem ser pedras importantes e estarem à altura da responsabilidade que certos momentos exigem.
O Redmoon é o inimigo da formação, mas o Redmoon foi um caso de alguém que não ficou contente como ficaram muitos benfiquistas quando se anunciou a venda de André Gomes por 15 milhões!
Entrando agora no campo das especulações, eu sou da opinião que se André Gomes estivesse ainda no Benfica, este seria o ano dele, da sua explosão, até em face das dificuldades que o meio campo encarnado vive neste momento.
Mas isto sou eu a especular, e até poderia dar-se o caso de mais uma vez, este agora importante jogador da equipa do Valência, estar no Benfica sem jogar até Janeiro, passando a entrar nas contas da equipa apenas no momento em que a Liga Europa começasse a obrigar Jorge Jesus à rotação da equipa.
A verdade porém, é que vi André Gomes jogar na Luz muitas vezes. E muitas vezes vi-o não ser capaz de dar à equipa aquilo que ela precisava. Muitas vezes vi-o começar a titular e ser substituído ao intervalo, quando era visível para toda a gente que o Benfica tinha dado 45 minutos de avanço aos adversários, e muitos adeptos já suspiravam pela sua substituição.
Cada um tem a sua forma de avaliar jogadores jovens. Alguns preferem basear-se nos “rodriguinhos”, nas coisas maravilhosas que viram os jogadores ser capazes de fazer em outros escalões.
Eu tenho a minha forma, que não vale mais nem menos que as outras. E se valorizo a qualidade técnica e tática num jogador de 19 anos, valorizo muito mais a mentalidade, porque entendo que sem ela nada funciona, e que é a falta dela que já vi matar muitos bons jogadores, um dia promessas de um futuro risonho.
Eu por exemplo não duvido do potencial de Cancelo. Mas quando o vejo cometer um erro num jogo de pré-época e passar o resto do jogo a fugir da bola, para mais num jogo sem qualquer responsabilidade, para mim, o destino fica traçado: Não serve DE MOMENTO para as exigências do Benfica. Não quer dizer que não venha a servir. Quer apenas dizer que precisa de sair, jogar e errar mais vezes num contexto em que os erros sejam menos penalizadores, e regressar um dia com outra estaleca e maturidade.
Eu vi Di Maria ser assobiado com 19 anos muitas vezes na Luz. E vi-o sempre saber ser superior a esses ambiente negativo em seu redor, vi-o sempre sem medo de voltar a pedir a bola no pé, e de voltar a partir para cima do adversário uma e outra vez, dando sempre a certeza aos companheiros que ele era um jogador com quem todos podiam contar.
É esta a mentalidade que se exige a um jogador do Benfica, independentemente da qualidade e independentemente das idades. Há os que a têm a e os que não têm. É essa por exemplo a mentalidade que vejo em Talisca, alguém que chegou à Luz com 20 anos há 2 ou 3 meses, e já teve de fazer face a uma enormidade de criticas, até dos próprios adeptos.
Mas saiu por cima. Primeiro porque tem qualidade. E segundo porque tem mentalidade de campeão, e num ambiente às vezes difícil, nunca teve medo de se assumir e a bola nunca lhe queimou no pé.
E foi isso também que vi em André Gomes, dentro, claro, da falibilidade dos meus diagnósticos amadores. Vi o talento em bruto que todos sabiam que tinha, e vi a sua mentalidade nessa final da Liga Europa, com a certeza que com aquela força psicológica, seria uma questão de tempo até corrigir algumas lacunas do seu jogo e aparecer a um melhor nível e com mais consistência.
Nestas coisas da mentalidade, nem é preciso ter-se 19 ou 20 anos. Artur já passou os 30 e psicológicamente é fraco. Mas recordo-me de um caso flagrante: Abel Xavier. Um tipo que até pinta o cabelo, que até tem um ar irreverente, mas que foi o jogador do Benfica que mais vezes vi ser assobiado na Luz.
Simplesmente não podia tocar na bola e, afetado pelo ambiente negativo em seu redor, a bola queimava, e todos os adversários sabiam que era pelo seu lado que tinham de explorar as debilidades da equipa encarnada.
Saiu da Luz no final da época, e claro, pela porta pequena.
Este Abel Xavier porém, que não servia para um dos piores Benfica da história, foi contratado posteriormente por clubes como Everton, Liverpool, Roma e Galatasaray! Precisou de sair da Luz para se libertar dos fantasmas que o tolhiam. Cada um interprete como quiser.
Post a Comment