A vitória do Benfica na Super Taça frente ao Rio Ave, levou-me por momentos ao Verão quente de 1993, ano em que Sousa Cintra incendiou a Luz com o “roubo” de Paulo Sousa, Pacheco, e quase João Vieira Pinto.
Esse foi, por estes e outros motivos, nomeadamente um plantel em que o único reforço para a época seguinte acabou por ser Abel Xavier contratado ao Estrela da Amadora (tudo isto devido aos graves problemas financeiros que o clube atravessava), uma época em que o pessimismo dos adeptos era a nota dominante.
A esperança dos Benfiquistas no sucesso da época seguinte era pouco mais do que zero mas, surpresa das surpresas, esse acabou por ser um ano em que o Benfica foi buscar forças onde não havia, e que acabou em triunfo, com a vingança servida a frio em Alvalade, num célebre 6-3 com três golos do menino de ouro João Pinto, e que praticamente nos valeu o título.
E agora, em pleno 2014, este acabou também por ser um Verão atribulado, com muitas saídas e entradas pouco relevantes, uma pré época com resultados medíocres que acabaram por levar muitos adeptos à descrença.
E foi neste contexto pois, que no primeiro jogo a sério, o Benfica entrou em campo e, surpresa das surpresas, com qualidade, com alma, com futebol ofensivo e dominador, em suma, com o futebol tão característico do Benfica de Jorge Jesus, de repente voltou a haver esperança!
Mas... E é importante dizer... Foi uma Super-Taça ganha nos penalties, porque apesar de tanto domínio, a bola nunca entrou na baliza de Cássio... Fosse este um jogo de campeonato, e o Benfica teria jogado bem e até massacrado mas... teriam sido dois pontos perdidos, essa é que é essa.
E quando os golos não aparecem, e penso que assim será durante toda esta época, haverá muita gente a lembrar-se do matador Óscar Takuara Cardozo, a olhar para o banco a ver se ele lá está, porque goste-se ou não do estilo, resolveu muitas e muitas partidas “atadas” com os seus muitos golos.
Foram sete anos de camisola da águia ao peito, com muitas alegrias e algumas tristezas também, momentos bons e outros menos felizes mas, eu, pessoalmente, vou recordar dele as coisas boas...
Foram 175 jogos pelo Benfica, 112 golos marcados, o melhor marcador estrangeiro da história do clube, e nós sabemos, por experiência própria, que muita gente tem passado por aquele lugar, e muito poucos conseguiram fazer sequer perto. Parece fácil, eu sei...
Foi amado, odiado, assobiado, aplaudido de pé... Fez milhões sorrir, chorar, foi o Senhor Benfica no funeral de Eusébio...
...E em todos os momentos, os bons, os maus, sempre sereno, imperturbável, completamente alheio àquilo que se passava à sua volta, em paz com a vida... essa era uma das coisas que eu gostava nele...
Falhava penalties e levava as pessoas ao desespero, não se escondia do jogo e voltava a tentar... Falhava golos feitos e era assobiado pelos adeptos, pedia a bola no pé e continuava a jogar como se nada se passasse... era "picado" pelos adversários mas dava-lhes sempre troco sem se deixar intimidar... e a expressão era sempre a mesma, a expressão tranquila de quem sabe ter dado sempre o melhor de si, e se mais não fez foi porque mais não pode...
O episódio no Jamor com Jorge Jesus, pode ser visto por dois lados... o lado óbvio da quebra da linha de autoridade que num clube não pode acontecer... o castigo óbvio e merecido... mas também sintomas de alguém que sentia a camisola no peito e para quem ganhar ou perder não era indiferente... naquele dia mostrou que também era humano...
Eu gosto de jogadores felinos, diferentes, irreverentes, sem medo, indomáveis... Por isso gostava de Cardozo, como gosto de Enzo, como adorava Isaías ou Yuran apesar de fazer a vida negra ao Toni... Por isso nunca fui grande fã de Nuno Gomes por exemplo, porque apesar de ter uns pés mais ou menos habilidosos, faltava-lhe bravura e sangue na guelra, e contra o Porto principalmente, bastava o Bruno Alves dar-lhe um cheirinho no início do jogo, para o vermos a fugir da bola até ao minuto 90.
Foram cinco milhões de euros pela saída do Paraguaio, alguns estão felizes e acham um excelente negocio, que até dado podia ir...
Eu não, eu gostava que ele tivesse ficado, porque jogadores do seu tipo, altos, toscos mas que fazem golos, valem sempre pontos e campeonatos...
Oxalá Lima não me deixe ter muitas saudades mas... Desconfio que vou ter...
Obrigado Óscar Cardozo, por estes sete anos, pelas inúmeras vezes que me fizeste levantar da cadeira para gritar golo, e pelas muitas também que me fizeste levantar com vontade de te arrancar os cabelos...
Valeu Takuara!!
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