DO BENFICA DO CORAÇÃO AO BENFICA DO CIFRÃO!
Aproveitando a disponibilidade do Benfica By GB decidi aceitar o repto e trazer um exercício de análise que espero mereça a atenção dos leitores e suas opiniões.
Não sem antes me apresentar como uma mulher benfiquista, assídua no estádio e apaixonada pelo Sport Lisboa e Benfica. Espero que tal confissão não condicione de qualquer forma o vosso interesse pelo tema que escolhi.
O início de época apocalíptico, derivado de uma ausente ou catastrófica gestão que poucas esperanças nos transmite e de perspectivas nulas, levou-me a tempos passados, de outros Benficas, de outras formas de pensarmos o Benfica, de maneiras diferentes de vivermos o Benfica, de outras forças como amávamos o Benfica!
Embrenhei-me na causa benfiquista, nos anos 60 em que o desporto se pautava por futebol e também bastante o hóquei em patins. Ambos eram presenciados nos estádios e nos pavilhões porque a televisão era só para dias de festa… e muito poucos.
Pouco se sabia. Jornais existiam um ou dois e eram semanais. Os programas desportivos não se detinham com debates nem com lances duvidosos. As tácticas não eram alvo de discussão. Noticiava-se o acontecimento, informavam-se os resultados e os marcadores dos golos e por aí se ficavam.
Por esses tempos, não importava - pelo menos ao nível do adepto – quem era o presidente do clube A ou B e até o treinador não tinha a importância que hoje tem ou se lhe dá.
Não admira pois, que eu, menina de aldeia, onde a electricidade chegou apenas em 1961 e com ela as chamadas tefefonias que apenas alguns possuíam e a televisão ainda menina e moça tal como eu, era coisa só de cafés, desconhecesse por completo quem eram o presidente e o treinador do meu clube, o Sport Lisboa e Benfica. No meu desconhecimento, penso mesmo que ignorava que tal existia e era preciso.
Comecei pois a inteirar-me destas questões no princípio dos anos 80 quando presidia o nosso clube o já falecido Fernando Martins e era treinador Lajos Baroti.
Era uma época de pouco furor futebolístico – o 25 da Abril veio revolucionar as mentes e outras preocupações e ideais preenchiam e substituíram o nosso pensamento - .
Mas como tudo na vida, a revolução esmorecia e o rumo começava a desencantar e alguma desilusão abria brechas para outros caminhos e interesses. Foi então que me tornei sócia e a viver o clube na sua plenitude. A vivê-lo! Porque o amor, há muito o havia descoberto.
E na minha vivência, percebi, pensava eu, que para se ser presidente do meu clube, eram precisas algumas premissas indispensáveis e obrigatórias como por exemplo:
1 – Ser-se Benfiquista
2 – Ser-se sócio(a)
3 – Ser-se da casa (ser assíduo/a no estádio)
Assim se cumpriram os primeiros anos da minha experiência benfiquista. Fernando Martins possuía tudo o que descrevi.
Depois veio João Santos, que também conhecia como “praticante” destas práticas benfiquistas.
Seguiu-se Jorge de Brito, que era um homem da casa. Tinha tido alguns cargos relevantes e como alguém disse na fila para as eleições em que foi eleito: “vou votar em quem sabe onde é a casa de banho”!
E foi aqui que tudo começou a alterar-se e direi memo a descambar.
Vale e Azevedo foi quem se seguiu. Nunca antes se ouvira falar dele, nem fora visto alguma vez no estádio ou no pavilhão! Apareceu sabe-se lá de onde…
Manuel Damásio seria conhecido(?) talvez do “jetset” que o casamento lhe conferiu, mas como benfiquista era completamente desconhecido.
Manuel Vilarinho era um indiscutível benfiquista praticante e como ele um dia declarou: “Benfiquista, sou só eu e mais 10!”
Luís Filipe Vieira era conhecido mas não por motivos desportivos no Benfica e pouco ou nada positivos. Não pertencia à família benfiquista. Não era “visita da casa”!
E foi nestes sete presidentes que detive a minha análise e concluí que os grandes empreendimentos só serão bem sucedidos se forem realizados com ambição, com competência mas também com muito AMOR à causa.
Fernando Martins, homem de negócios, foi talvez o primeiro a perceber e a experimentar a força e o poder do nome Benfica. Não adulterou a génese do clube, mas não resistiu a algumas alterações e situações que muito pouco favoreceram o clube. Obras quiçá desnecessárias e amizades que mais tarde se haveriam de revelar nefastas para o Benfica, para o futebol e para Portugal. Foi contudo um presidente que geriu o Benfica com uma boa dose de AMOR!
João Santos respirou e viveu o Benfica. Não recordo nada dele que directa ou indirectamente prejudicasse o clube. Lutou como pôde contra as forças do mal que já se perfilavam para uma “guerra” corrupta que passados mais de 30 anos, ainda corrói e maltrata o futebol.
Levou a cabo uma obra com saber, com diplomacia e com muito AMOR!
Jorge de Brito, um grande benfiquista! Chegou tarde, fora de tempo, à presidência. A sua saúde e vida pessoal e familiar difíceis à época, foram impeditivos de fazer dele o presidente do AMOR à causa. Mas ninguém o poderá acusar de denegrir, usurpar ou usar de alguma maneira em seu proveito o nome BENFICA!
Manuel Damásio, chegou, acredito que cheio de boas intenções. Mas como disso está o inferno cheio, depressa se apercebeu que o Benfica poderia ser o trampolim que o projectaria para a alta roda do jetset onde já se iniciara, mas cujas portas só se escancaravam para dois tipos de gente: Os que tinham poder financeiro e/ou que tinham cargos mais ou menos colunáveis. Damásio, depressa percebeu que o Benfica poderia dar-lhe ambos e não enjeitou a fama e notoriedade que o seu cargo no Benfica lhe conferiram e que lhe escancariam as portas que até então estavam apenas entreabertas. E ele e a esposa, queriam-nas bem escancaradas!
Não vou descrever o quanto de mal fez ao Sport Lisboa e Benfica - isso todos sabemos – mas não foi uma obra feita de AMOR!
João Vale e Azevedo, que muitos consideram o grande “malandro”, foi a meu ver, um presidente ingénuo, imprudente e um peixe fora de água. Cometeu erros que prejudicaram o clube mais pelo seu desconhecimento total das caves onde já se moviam os poderes corruptos do que por pura “malandrice”. Não enriqueceu à custa do clube e teve o fim que todos conhecemos. Apareceu do nada e não viveu o Benfica desde criança ou jovem como muitos de nós. Não tinha, como nós, AMOR ao clube!
Manuel Vilarinho, benfiquista de alma e coração, chegou à presidência, com o clube doente, moribundo, descredibilizado e pobre.
Com o seu grande AMOR ao clube, soube iniciar o seu ressurgimento e criar em todos nós novas esperanças e perspectivas de um futuro de sucesso. Foi pois um presidente cuja luta se baseou num grande AMOR ao clube!
E eis que chega Luís Filipe Vieira. Trazido para o clube pelo anterior presidente que certamente viu nele qualidades e competência para continuar o trabalho encetado.
Tinha antecedentes pouco abonatórios como gestor desportivo – o Alverca FC sucumbiu à sua gestão - . Não era conhecido como visita da casa benfiquista. Antes era visita assídua de outras casas. Veio a conhecer-se as suas tendências clubísticas e os seus festejos a resultados de adversários de idoneidade desaconselhável quando em confrontos com o nosso clube.
Vilarinho terá sido pouco prudente com a escolha, pois as premissas de que falei acima não faziam parte da vida do empresário Vieira.
A História será feita pelos benfiquistas daqui a alguns anos e não pretendo antecipá-la!
Para uns, fez muito pelo Benfica e é até considerado como o salvador do clube. Para outros não passa de um embuste e de um oportunista.
Não é preciso dizer nos quais me incluo, mas por tudo o que se tem passado nestes 13 anos, Vieira não é para mim um presidente que sinta, viva e ame o clube como eu. Não tem sido, de todo, um presidente com AMOR ao clube.
Já vai longa esta dissertação. Sem pretender ter a razão do meu lado e sem querer antecipar a História, concluo que urge encontrarmos alguém verdadeiramente benfiquista, com provas dadas de inequívoco benfiquismo e AMOR para gerir e presidir ao nosso clube. Porque o Sport Lisboa e Benfica só teve VIDA e ALMA e GLÓRIA, quando foi gerido com capacidade, com competência, com ambição, mas sobretudo quando:
O CORAÇÃO SE SOBREPÔS AO CIFRÃO!
Maria C. Rosa
Sócia do Sport Lisboa e Benfica
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