Não me surpreende. Estou conformado até mas, desilude-me profundamente as linhas mestras do futebol moderno, que vão matando a minha paixão lentamente. Iludem-se aqueles que sonham ainda com um Benfica Made in Benfica, ou com um Benfica capaz de manter os seus craques durante muito tempo, fazer deles verdadeiros símbolos do clube.
O problema aqui, e como aqui já repeti dezenas de vezes, não é o ser português ou estrangeiro. O problema é a ambição legítima de cada jogador em jogar nos melhores campeonatos do mundo e amealhar o máximo de dinheiro possível enquanto puderem.
E se sonhar com um Benfica Made in Benfica não passa de uma ilusão dos adeptos (alguns), na certeza que qualquer miúdo que mostre aos 19 anos ser capaz de dar uns pontapés na bola, tem dinheiro a rodos e portas abertas em qualquer clube do mundo (e depois sim, lá virão os do costume justificar as suas vendas com o argumento dos muitos milhões oferecidos e dos ultimatos dos jogadores que pediram para sair, esquecendo que bons jogadores valerão sempre milhões, e que se esse é o argumento, na Luz só ficará o refugo da formação), mais notório será o problema quando falamos de estrangeiros.
Porque um estrangeiro, seja ele o Di Maria, o Oblak ou outro qualquer, aterram aos 17 ou 18 anos na Luz, como aterrariam no Dragão, em Alvalade ou em Corunha. Esses miúdos, que saem dos seus países e deixam família e amigos para trás ainda tão novos para se lançarem à aventura num pais estranho sem saberem ainda se algum dia alcançarão o sucesso, não vêm para plantar raízes nem para trocar o sonho do desafogo financeiro por um qualquer amor á camisola.
O profissional de futebol, seja ele português ou estrangeiro, sabe que tem 10/12 anos para ganhar a vida. Seja em Portugal, na Espanha, na Rússia ou na China, mais importante que a cor da camisola é o pilim que cai na conta todos os meses.
E se o rodopio já é grande, e se já dá uma trabalheira dos Diabos ter de meter na cabeça todos os anos 10 ou 12 nomes novos, de gente que chega à Luz para vestir uma camisola com que dizem sonhar desde pequeninos, maior é o rodopio quando se sente da parte da Direção uma vontade (necessidade) expressa de acumular euros, mais do que formar uma grande equipa.
E entristece-me profundamente esta realidade. Ver um Oblak forçar a saída dois anos seguidos depois de 4 ou 5 meses apenas com a camisola da águia ao peito; ver Siqueira sair sem sentir (nas palavras do próprio) um esforço efetivo do Benfica para o manter; ver Garay oferecido à Rússia por 2.4 milhões de euros para o Benfica (CRIME, na minha opinião), ver Rodrigo e André Gomes vendidos a um fundo a meio da época; Matic que já cá não mora; Markovic a sair aos 20 anos por 25 milhões quando tem tudo para dentro em breve valer o dobro; Cardozo oferecido a meio mundo à espera que alguém lhe pegue; e Gaitan e Enzo entre o sai e o fica, aguardando eu a qualquer momento mais uma triste notícia.
É a vida, dirão alguns. Todos sabemos que o Benfica tem de vender para equilibrar as contas. Mas num ápice pois, no espaço de um ano teremos de nos habituar a quase 11 caras novas a cada quinze dias no relvado da Luz.
Gostava que da parte da Direção do meu clube houvesse um outro tipo de respeito pelo adepto que paga bilhete e que alimenta a máquina com o seu amor e devoção.
Gostava que o adepto fosse merecedor de uma explicação das razões pelas quais se despacha assim um esteio da equipa para a Rússia, a troco de... 2.4 milhões... O adepto, que paga bilhete e acompanha a equipa em tardes de chuva ou de sol e que desenvolve afinidade e elege heróis, devia merecer, no mínimo, uma palavra de quem decide as coisas, para que possa pelo menos compreender a quebra desse vínculo emocional com Garay a troco de meia dúzia de tostões.
Gostava que ao adepto fosse explicado por exemplo as condições da aquisição de Markovic, para que na altura da venda as pessoas não estranhem nem levantem questões quanto à real urgência da saída.
A verdade pois, é que eles entram e saem à velocidade de um foguete, servindo quem lhes paga bem mais do que as cores da camisola que envergam. Eles entram e saem sob o sigilo de contratos e parcerias nebulosas que distribuem dinheiro a rodos por gente que nunca gritou “Golo!” num estádio de futebol; Eles ganham milhões, e compram mansões e limusines, e alimentam o seu ego da paixão cega do adepto, que venera aqueles que num determinado momento foram capazes de lhe dar uma pequena alegria, hoje a eles, amanhã a adeptos de outra cor qualquer; Eles prometem amor e devoção à chegada, e falam de benfiquismo desde pequeninos, e beijam o símbolo na camisola, e desertam e mandam tudo às urtigas assim que o primeiro camião de euros lhes toca à campainha;
E o adepto? Bem, o adepto continua a pagar e passa dificuldades para alimentar este circo... Cria relações fugazes com gente que a tanto faz vestir de vermelho ou de azul... Clubes cada vez mais desprovidos de referências e símbolos... Um amor inconsciente, cada vez mais impessoal, apenas e só o amor pela cor de uma camisola, que mata a minha paixão lentamente.
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