As derrotas, os assobios e sobretudo a dúvida sobre a realidade possibilidade de começar um novo ciclo
A primeira reação ao cancelamento da conferência de imprensa de Jorge Jesus foi má. O Benfica perdera mais uma vez na pré-temporada e o treinador resolvia evitar as perguntas, refugiando-se no carinho do canal do clube. A ausência de Jesus ajudou a sublinhar o desconforto, talvez a palavra que melhor vai definindo o início de época na Luz.
Mas, pensando melhor, talvez o silêncio de Jorge Jesus tenha sido apenas uma forma eficaz de evitar que todos, o treinador do Benfica e nós, perdessemos tempo. Além de opiniões politicamente corretas sobre o jogo, Jesus não tem mais nada para dizer. O treinador já disse, aliás, o que podia e quereria nesta fase: precisa de qualidade para trabalhar e está convencido de que conseguirá formar uma boa equipa, por isso os benfiquistas não devem assustar-se. Ao contrário do que sucedia há um ano por esta altura, ninguém ousa colocar em dúvida o treinador.
Assustados ou nem por isso, é ao presidente que os benfiquistas desejam fazer perguntas. E os jornalistas também. Eis algumas.
1. Enzo, fica?
2. Gaitan, fica?
3. Pode pelo menos garantir que um deles não sai?
4. Para o lugar de Garay, virá alguém ou a ideia é procurar entre Jardel, Sidnei, César, Lisandro Lopez e Steven Vitória o parceiro de Luisão (e esperar que o capitão só se lesione na pré-temporada...)?
5. É mesmo verdade que Djavan ainda agora foi contratado e já vai embora?
6. Se o clube precisa de poupar, por que razão contrata um Luís Felipe se tem no plantel um João Cancelo?
7. À frente da defesa será por conta de Ruben Amorim (que é muito bom, mas tem uma longa lista de pequenas-médias lesões) e Fejsa (que estará parado longos meses) ou aparecerá mais alguém?
8. Não ter vendido Cardozo ao Fenerbahçe enquanto podia foi a sua pior decisão (depois do despedimento de Fernando Santos, já sabemos)?
9. Jesus disse-lhe que está convencido de que Derley funciona num esquema com dois avançados?
10. Se o treinador gostava mesmo é de Eliseu, por que se comprou no ano passado Djuricic se afinal não dá para mais do que equipas médias de outros campeonatos?
11. Esta talvez fosse mais para o médico, mas como não é fácil aceder a informação seja de que tipo for no Benfica, aproveitamos a oportunidade: Nélson Oliveira está lesionado ou existe outra explicação para ser ignorado enquanto Jara vai somando minutos?
12. Já agora, a situação do Grupo Espírito Santo preocupa-o ou é só uma coisa de que as pessoas falam porque ainda não há jogos oficiais e erros dos árbitros?
13. Última pergunta: quanto dinheiro mesmo precisa o Benfica de fazer em contratações até 31 de agosto?
Percebo perfeitamente que Luís Filipe Vieira tenha mais do que fazer do que dar uma entrevista a falar sobre estes temas, nesta altura. Até porque para algumas das questões pode nem haver resposta, por enquanto. Existem cláusulas de rescisão que podem ser batidas, propostas que se anunciam, muitas contas a fazer. Eu percebo. Mas tendo em conta o que se viu este sábado, com tão pouca gente na Luz, não sei se os benfiquistas percebem.
Sem ter a pretensão de interpretar o sentimento da maioria dos benfiquistas, talvez não erre se escrever que os adeptos do clube olham com apreensão para os movimentos das últimas semanas. Na Luz saem titulares e entram dúvidas, no máximo promessas. No FC Porto o rumo mudou e embora persistam também interrogações, parece ter voltado a existir um caminho.
Mais do que ganhar um título, os benfiquistas querem um novo ciclo. Foi nisso que acreditaram quando se manifestaram no Marquês. Mais do que o título 33, sonharam o 34. E o 35, logo a seguir. A equipaestava feita, o rival de joelhos, obrigado a implorar no play-off pela Champions. Isto foi apenas em maio, mas agora parece estranhamente distante.
Não direi, enfim, que os benfiquistas estão assustados. O treinador possui muito crédito e o presidente, apesar de precisar de muitos anos para ganhar poucos títulos, foi, no mínimo o benfiquista com maior visão na última época. Ele manteve Jesus quando exigiam o despedimento. Pode ter sido fé, teimosia, medo de o ver no FC Porto, sorte ou simplesmente competência e conhecimento. Não interessa. Foi a melhor decisão de Vieira e esse mérito para alguma coisa deve servir numa altura como esta.
Por isso, repito, não direi que estão assustados. Se tivesse de resumir tudo numa palavra utilizaria antes desconfiados.
Desconfiados porque não entendem a necessidade de oferecer Garay a um clube rico como o Zenit. Desconfiados porque Artur não para de tremer e Oblak já era. Desconfiados porque volta a ser preciso descobrir um lateral esquerdo e já passaram por ali 18, só com Jesus. Desconfiados porque Rodrigo foi embora logo quando tinha voltado a jogar. E sobretudo muito desconfiados porque ainda está pela frente um mês de mercado. E o mercado, coisa estranha, parece mais difícil de vencer do que qualquer adversário, português ou estrangeiro.
Enquanto os benfiquistas suspiram por boas notícias, Lisboa enche-se de cartazes de Luís Filipe Vieira sorridente. O presidente do Benfica oferece meses de quotas à borla e bilhetes a quem se tornar sócio do clube. «Seja um campeão por zero euros», convida. Imagino que por esta altura os benfiquistas desconfiem que nem Jesus será capaz de tal coisa.
Só que agora vou dizer-vos que foi escrito pelo Luís Sobral, do Maisfutebol... E de repente, como que por magia, grande parte de vós vai discordar totalmente.
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