Portugal, ou melhor, a Selecção de Jorge Mendes teve uma estreia fantástica no Mundial com a pior derrota de sempre em fases finais, e como é habitual as criticas incidiram no resultado e não na forma como foi concedido. Os adeptos e os tais analistas desportivos (nos quais se incluem Fernando Seara e o Juiz Rangel que não sabem fazer uma lista para as eleições da Liga de Clubes) criticaram o óbvio, a má qualidade do futebol praticado, e não o importante, o processo de selecção dos jogadores que representam a dita Selecção Nacional.
Adiante.
Perante as más reacções dos adeptos, o desânimo instalado e o perigo de haver uma catástrofe caso Portugal perca com o Estados Unidos, logo vieram alguns com supostas boas intenções, como Scolari lamentar mas lembrar que em 2004 também se começou com uma derrota e depois chegou-se à Final do Euro.
As analogias são algo de natural em futebol, como em tudo na vida, mas tem de se ter cuidado quando se fazem. Nem tudo é análogo apesar de poder parecer que é. E neste caso Scolari e todos os que lembram episódios de Selecções, de Portugal ou não, que começaram mal e acabaram bem ou “assim-assim”, não estão apenas a tentar confortar os adeptos portugueses, mas estão a enganar os adeptos. Porque a analogia neste caso não pode ser aplicada.
Não pode ser aplicada porque em 2004 tínhamos uma verdadeira Selecção, onde os melhores foram chamados e entre os quais se encontravam Luís Figo e Rui Costa. Scolari, contratado para por ordem na Selecção depois do fiasco da Coreia em 2002, deu um murro na mesa e terminou ou reduziu a influência do FCP na escolha dos jogadores, seleccionou quem lhe pareceu serem os melhores, e apesar da derrota no estádio do FCP com a Grécia por 2-1, conseguiu tirar proveito da equipa que tinha ao seu dispor e chegou à Final.
Ora em 2014 estamos muito longe desses tempos. Jorge Mendes é quem controla (muito por culpa da comunicação social controlada), os jogadores escolhidos não são os melhores e como tal não há espírito de equipa mas sim de turma de liceu: são sempre os mesmos! Acresce que também Paulo Bento e Scolari hoje são representados por Jorge Mendes...
Também não temos Luís Figo que deixou a Selecção após o Mundial de 2006 (4º lugar), que a par de Rui Costa, que deixou a Selecção em 2004 (vice campeões da Europa), foram os dois últimos grandes jogadores da Selecção. Jogadores que pensavam o jogo e que não se limitavam a fazer uns arranques e a rematar à baliza, a maior parte das vezes à toa, como faz Ronaldo.
A única analogia que se poderá estabelecer é entre a saída destes dois grandes jogadores e os resultados subsequentes com Ronaldo e patrocinadores como charneira: no Europeu de 2008 ficamos nos quartos de final com 3-0 da Alemanha, no Mundial de 2010 ficamos nos oitavos de final com 1-0 da Espanha, e no Europeu de 2012 ficamos nas meias finais após empate a zero com a Espanha e derrota nas grandes penalidades.
Ou seja, estivemos sempre abaixo dos resultados conquistados com Luís Figo e Rui Costa, e os que, ao serviço do “sistema”, quiserem lembrar as duas vezes que cruzamos com a poderosa Espanha, esquecerão de lembrar que foi na fase de grupos que cavamos essa “sentença”, ao não nos apurarmos em 1º lugar.
Outra analogia que podemos fazer é sobre que Benfica teríamos se prevalecesse a obsessão de uns quantos adeptos do tudo que “é nacional, é forçosamente bom”?
Quando vemos jogar tão mal uma Selecção formada por jogadores que jogam em grandes e médios clubes europeus, jogadores com passes económicos e desportivos de montante exorbitante para as possibilidades do Benfica, jogadores com maturidade competitiva elevada, a pergunta que podemos fazer é “que Benfica teríamos se incorporássemos na equipa, naquela lógica de matraquilho que uns quantos defendem como infalível, uns jogadores da Formação e outros de qualidade que conseguíssemos ir buscar ao Estoril, Guimarães, etc.”?
Fazendo uma analogia entre esse eventual Benfica e a actual Selecção, entre o palco da Champions e a fase final do Mundial, eu diria que teríamos um pior Benfica, menos competitivo, menos mediático, menos valorizado... Se com os jogadores considerados de top, mas que nem todos são, vemos um futebol de Selecção pobre e que só convence os patrocinadores e os adeptos mais fanáticos, imagine-se um Benfica com jogadores da Formação e uma base nacional... É melhor nem imaginar...
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