Numa época desportiva inolvidável, parece-me mais útil tentar perceber como aconteceu o que gloriosamente aconteceu, do que propriamente estar a especular sobre a marca da pastilha elástica do treinador, se deve sair ou se deve ficar, que jogadores vão sair, que jogadores vão ficar, etc., debates estéreis que não levam a nada. Porque nada disso depende de nós, mas sim do “mercado”, ou seja, da lei da oferta e da procura com muito bluff pelo meio.
Entre a última gloriosa conquista, Taça de Portugal, e o primeiro jogo onde senti que esta época tinha um elán especial, Gil Vicente, 2ª jornada, podemos constatar que JJ utilizou os mesmos jogadores (!) com excepção de 3: Artur saiu para dar lugar a Oblak, Matic foi vendido e deu lugar a Ruben Amorim (e André Gomes às vezes), e Cortez dispensado deu lugar a André Almeida (ou Siqueira). Ou seja, constata-se que JJ para esta época acreditou piamente num conjunto limitado de jogadores e no 4-4-2 em losango, com 2 pontas de lança móveis (Rodrigo e Lima), um médio box-to-box que joga a 8 mas também a 6 (Enzo Peres), um médio box-to-box que joga a 6 mas também a 8 (Matic primeiro, Ruben ou André Gomes depois) e dois médios alas que misturam criatividade com velocidade (Gaitan e Sálvio, primeiras opções, Sulejmani e Markovic segundas opções).
Por coisas que no futebol não se explicam mas que se registam, o Gaitan que marcou o golo da vitória sobre o Rio Ave foi o mesmo que contra o Gil Vicente mandou uma bola ao poste na marcação de um livre directo, também na 1ª parte. Quando estava 0-0. A diferença que ambos os lances fizeram! Um deu vitória, o outro acentuou o nervosismo e falta de ideias da equipa, talvez condicionada pela má pré-época e turbulência em volta do treinador, e de que veio depois a resultar 1 golo do Gil Vicente após erro de (Super) Maxi Pereira.
O jogo com o Gil foi ganho em condições verdadeiramente incríveis, com 2 golos nas compensações, e já depois de JJ ter efectuado uma alteração táctica invulgar (que não me recordo de ter repetido) trocando Rodrigo por Djuricic (Gaitan e Sálvio deram lugar a Markovic e Suljmani). Com isso desceu ligeiramente as linhas atacantes do Benfica. Impensável nos tempos que correm, pois com o Benfica a perder por 1-0 os “entendidos” dizem que se deve colocar mais avançados.
O primeiro golo que salvou JJ e quiçá a gloriosa época do Benfica foi marcado por Markovic (que logo aí mostrou que gosta de flectir para o meio) com assistência de Djuricic na posição 8! O segundo golo foi marcado por Lima, à ponta de lança (qual mobilidade, qual carapuça) com ajuda preciosa de Luisão que ao seu lado chamou a si um dos defesas centrais, o que permitiu a caprichosa execução de Lima, que como sabemos não marca muitos golos de cabeça.
Raça, querer, ambição, competência e alguma sorte, e eis o Benfica desta época bem espelhado no que foram as incidências desse jogo com o Gil. O Benfica jogou a pensar na velocidade de Rodrigo e Lima, e o que teve foi o oposto: 2 avançados manietados na sobre povoação do ultimo terço do campo gilista. O Benfica quis pensar o jogo com qualidade e jogadores acima de qualquer dúvida, mas foi na raça das alternativas que conseguiu marcar. Ou seja, JJ fez um plano de jogo, saiu outro e ganhamos na mesma!
Veio o jogo com o SCP e lá esteve novamente o mesmo 4-4-2 em losango, e os mesmos 11 jogadores. A diferença foi que Cardozo já tinha sido integrado porque toda a gente da Direcção percebeu que os 2 avançados móveis, Lima e Rodrigo, não estavam a marcar. Desde a pré-época! Nem podiam, mas isso sou eu a dizer, eu que não percebo nada disto. O SCP, animado por uma boa pré-época e 9 golos marcados em 2 jogos, era favorito ante um Benfica psicologicamente debilitado e sem opções produtivas no 4-4-2 losango. E marcou cedo o 1-0. Mas ficou-se por aí, pois o Benfica soube manter alguma serenidade defensiva, fruto da experiência de uns quantos jogadores com anos de casa e habituados a estas rivalidades com o SCP. Um dos momentos do jogo foi a entrada de Cardozo aos 60 mn. JJ teve de redesenhar o seu 4-4-2, colocando Rodrigo ou Lima nas alas (tinham saído Gaitan e Sálvio, ambos por lesão), e Cardozo como pivot atacante. O suficiente para abrir uma pequena brecha para Markovic (entrou para uma das alas) fazer o empate, o seu 2º golo como suplente utilizado! Note-se que por lesão de Enzo Peres, o nosso meio campo ficou com Matic e Ruben Amorim, dois jogadores que fazem as posições 6 e 8 (tornando o Benfica mais pressionante na defesa adversária), e se revezam!
Ficaram apreensivos os sportinguistas, ficamos nós expectantes. Afinal era possível discutir o jogo com equipas mais moralizadas, com mais golos marcados, com mais pontos, com tradição ganhadora, mesmo estando nós a passar um mau bocado... (continua)
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