Portugal 28 de Maio de 2014
Na linha de raciocínio dos dois textos anteriores e porque fui estimulado por algumas opiniões recebidas, começo por sublinhar o que considero relevante da análise à época desportiva que findou: 1) Jesus não corrigiu nada da época anterior, mantendo-se fiel ao modelo táctico 4-4-2, mais clássico com Matic, André Gomes ou Ruben Amorim, mais losango com Fesja ou André Almeida. 2) Jesus utilizou regra geral, no campeonato, o mesmo 11 base com excepção de lesões e castigos, o que confirma que Jesus tem convicções e não as altera por causa do ruído mediático ou resultados menos conseguidos. 3) Jesus privilegiou o Campeonato e Taça em detrimento da Liga Europa e Taça da Liga. 4) A arbitragem funcionou em alguns jogos – os suficientes – aplicando as leis de jogo ao FCP e com isso resultando grandes penalidades em instantes cruciais das partidas, que ajudaram o FCP a perder 8 pontos. Não quer isto dizer que fomos beneficiados, longe disso, ou que o FCP também não foi aqui e ali ajudado por erros mais ou menos grosseiros de arbitragem. Para a história fica o facto que tendo o melhor ataque e a melhor defesa, o Benfica teve 9 penaltys a favor, contra 10 e 13 de SCP e FCP, e sofremos 4 penaltys (todos convertidos), tantos como FCP (inédito) e SCP. 5) Ficou claro que uma equipa é campeã, em função dos pontos que os adversários fazem, e este Benfica com menos 3 (e não 2 como tinha referido) pontos do que na época do “esteve tudo mal”, menos 19 golos marcados (e não 18) e menos 2 golos sofridos (único parâmetro positivo), foi campeão com 13 pontos de avanço sobre o FCP e 7 sobre o SCP. Porque o factor arbitragem foi distinto para o FCP, do que na época passada, e não porque o Jesus errou quando obteve 85,6% de pontos (contra 82,2% da presente época).
Posto isto, podemos extrapolar sobre as probabilidades que teremos para ganhar títulos na próxima época? Julgo que sim.
Considerando que Jesus não vai mudar o seu modelo de jogo habitual nas 5 épocas que completou no Benfica (4-4-2 mais losango ou mais clássico, consoante jogue A ou B), considerando que Jesus privilegia o campeonato e que precisamos de mais de 80% de pontos para o garantirmos de acordo com as estatísticas dos últimos 10 anos, isto quer dizer que precisamos marcar golos, e precisamos não sofrer golos. Que previsões podem ser feitas?
Podemos começar por debater qual a percentagem de pontos que nos põe a salvo de uma boa prova adversária. Não é fácil. Mas se considerarmos os vencedores de todos os campeonatos que participamos com a gestão Vilarinho e Vieira, o “score” que nos podia garantir o título eram os 93,3% do FCP de Villas-Boas, pontuação máxima neste período e nas últimas décadas. Se considerarmos este valor como irrealizável nos anos mais próximos, podemos considerar os 86,7% do FCP de Vítor Pereira, na época passada. Ora isto equivale a 78 pontos, a 70 golos marcados e 14 sofridos! Como nos podemos aproximar destes números, que nos garantem o título principal?
A época mais próxima que tivemos em golos marcados foi a do primeiro título de Jesus e a época passada, com 78 e 77 golos. Em golos sofridos as épocas mais próximas que tivemos foi esta, 18 golos, e as duas atrás referidas com 20 golos. Nas duas épocas que Fernando Santos participou, com 20 e 21 golos, também nos aproximamos dessa média.
Quer isto dizer que temos de marcar mais golos, e a dupla Rodrigo + Lima tão aplaudida pela critica e pelos adeptos, claramente não serviria, e temos de sofrer menos golos, e aqui a incerteza vai para o rendimento de Oblak com outros centro campistas, com outra dinâmica de jogo por força das entradas e saídas que se avizinham.
No ataque, se mandarem Cardozo embora isso vai enfraquecer o jogo da equipa. Como se viu esta época, não adianta ter 2 “pontas de lança” velozes, quando o meio campo pressiona alto (Matic + Enzo ou Enzo + Ruben) e o adversário se encolhe eliminando as vantagens da velocidade dos nossos “pontas de lança”. Mas em contrapartida, se o nosso meio campo não pressionar alto porque tem um 6 “puro” e que joga mais recuado, então poderemos tirar partido dessa velocidade dos atacantes como bem se viu no período em que Fesja foi titular.
Apostando num meio campo com Enzo e Ruben Amorim, Cardozo seria essencial, como foi na época passada, com Enzo e Matic. O jogo posicional de Cardozo permitiria abrir linhas de passe para outros avançados e médios de ataque poderem marcar muitos golos, como fizeram na época passada. E no inicio da brilhante época que agora terminou (que bom jeito deu...).
A somar a estas considerações, há que ver se os adversários, FCP em particular, terão equipa para aproveitar as benesses que os árbitros irão continuar a dar-lhes. Lopetegui é uma incógnita, o plantel do FCP outra... O SCP de Marco Silva não irá manter a boa percentagem conquistada este ano, descendo uns pontos, pelo que se nós conseguirmos manter no mínimo os tais 82,2% de pontos, não é por aqui que iremos perder o campeonato.
Em resumo, no campeonato há muitos “ses”, função de quem vai sair e quem vai entrar, e tudo se conjuga para termos uma equipa que marque poucos golos mas que pode sofrer também poucos golos. Se o FCP aparecer com jogadores de qualidade (o que não me parece), tudo dependerá de quem perde mais qualidade colectiva, se Benfica, se FCP. As estatísticas jogam contra nós pois não fazemos um bicampeonato há várias décadas...
Quanto à Taça de Portugal, a habitual rotação de Jesus pode dar bons resultados, mas também aqui o sorteio é fundamental, e saídas a Alvalade ou Dragão, poderão ser “fatais”. Idem quanto à Taça da Liga, onde claramente e após 4 vitórias em 5 épocas, JJ não irá apostar muito. Nas competições europeias prevejo mais uma saída para Liga Europa, em face da qualidade dos adversários já escalonados para os potes 2 e 3, e também da falta de visão dos nossos estrategos, JJ incluído, que continuarão a apostar nos 2 pontas de lança.
A correr tudo bem poderemos ganhar um título ou dois, sendo difícil repetir a proeza desta época, ainda para mais com as saídas que se anunciam e o recomeçar tudo de novo. E no meio de tantos “ses” espero que percebam agora porque é que tenho defendido que devemos saborear a história que foi escrita esta época, porque para o ano é outra corrida. O piloto é o mesmo, mas o carro não. E os obstáculos também não...
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