O associativismo está fora de moda. Como está fora de moda o slogan que os clubes são dos sócios.
O associativismo vem de tempos em que os clubes eram clubes e não SAD´s; tempos em que não havia acionistas, nem receitas televisivas, nem bancada Coca-Cola nem bancada Sagres.
A receita de quotização era o suporte da sustentabilidade dos clubes, a grande fonte de receita juntamente com as receitas de bilheteira e o patrocínio nas camisolas.
O ser sócio do Benfica há 20 anos atrás, do que eu me lembro, significava bilhetes mais baratos para os jogos, e sentirmo-nos parte de um clube, nos atos eleitorais claro está, e nas Assembleias Gerais, das quais também me lembro de algumas, discussões acesas onde se sentia a fogosidade das diferentes fações de pensamento e opinião em relação aos caminhos do nosso clube.
Hoje em dia, e isto não é uma critica particular ao Benfica, mas uma constatação apenas dos caminhos que o futebol tomou num panorama mais geral, é difícil perceber a diferença entre sócio ou cliente, ou perceber se o clube ainda é de facto dos sócios, ou se é da Sagres, da Adidas, da Meo ou de qualquer outro grande grupo empresarial.
Recordando um aspeto que muito me entristeceu, podia lembrar por exemplo o último ato eleitoral do nosso clube, onde aos sócios não foi sequer permitido assistir a um debate eleitoral entre os dois candidatos, para que pudessem exercer o ser voto de modo mais bem informado.
Dito isto, são sinais dos tempos, e se falo agora neste tema é por perceber que, aproveitando este momento do Benfica em alta, pujante e ganhador, Luís Filipe Vieira se prepara para lançar nova campanha de sócios, almejando, quiçá, chegar desta vez aos 300000 sócios, aquela que era a sua meta e grande bandeira eleitoral há alguns anos atrás.
E eu aqui digo, parabéns Sr. Presidente, porque esta sua meta, e que para tantos benfiquistas serviu apenas de bandeira de gozo, é prova provada que o Sr. sempre teve uma visão para o clube, e que percebeu desde cedo que o número de sócios seria decisivo na conquista de uma vantagem competitiva sobre os nossos adversários.
Para muita gente, se calhar, mais 10000 ou menos 10000 sócios não farão grande diferença no panorama geral das receitas do clube. Mas essas criticas vêm de gente que não percebeu o real alcance deste objetivo do presidente, e que vêm nesta bandeira de angariação de sócios apenas as receitas de quotização.
Vou dar um exemplo:
Um amigo meu, sportinguista ferrenho, tem uma escola de Surf que até é bastante concorrida. E esse meu amigo também conhece o Diretor de Marketing do Benfica. No outro dia estiveram juntos, e em conversa informal, a hipótese surgiu: A escola de surf do meu amigo poderia fazer parte dos parceiros do Benfica, e para tal bastaria que ele aceitasse atribuir na sua escola descontos de 20% aos sócios do Benfica.
Um pacote de 5 aulas por exemplo, vendidos por 70 euros, seriam vendidos a sócios do Benfica a 54, e desses 54 euros, 15% iriam direitinhos para os cofres do Benfica, ou seja mais 8.1 euros.
Custos para o clube? Absolutamente nenhum.
O que oferece o clube? "Apenas" 250000 de novos potenciais clientes, sócios do Sport Lisboa e Benfica.
E o meu amigo, lagarto ferrenho, teve de engolir o orgulho e aceitar a oferta, porque um potencial de 250000 novos clientes é um número que não se pode ignorar, e que não pode arriscar perder para outra Escola de Surf qualquer.
À receita de quotização do clube, teremos pois agora de somar as receitas das percentagens de despesas de TODOS os sócios do clube, em todos os parceiros empresariais com quem o Benfica tem acordo, o que perfaz, como todos imaginam, um potencial de receita avassalador e que muito poucos clubes do mundo conseguirão alcançar.
Por isso, a receita é simples: Luís Filipe Vieira quer sócios, muitos sócios, porque quanto mais sócios tiver, maior a sua capacidade negocial com todos os parceiros com quem queira fazer acordos de cooperação. Quanto mais sócios, mais receita de quotização para o clube, maior número de parcerias, maiores descontos para os sócios, e mais dinheiro a entrar no clube fruto de despesas efetuadas pelos sócios fora do clube.
Brilhante, simplesmente, esta ideia que Luís Filipe Vieira soube por em prática há alguns anos atrás, e que ameaça poder levar, agora, neste momento em que o Benfica está em alta, o clube para níveis de receitas ainda mais elevados.
Talvez, de facto, a ideia de sócio de um clube esteja fora de moda, e não possa mais ser avaliada pelos padrões com que se avaliava há 20 anos atrás. Mas talvez Luís Filipe Vieira tenha tido há uns anos atrás uma ideia de génio, e tenha sido um dos poucos a perceber o potencial imenso que o Benfica tinha nas mãos.
Há muita coisa de que não gosto na gestão de Vieira, mas há algo que terei sempre de reconhecer: Em matéria de inovação, o Benfica esteve sempre um passo à frente dos outros.
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