Felizmente engano-me... E engano-me muitas vezes... Engano-me quando adivinho o melhor e acabo em sofrimento... Engano-me quando espero o pior e a alegria do fim é imensa...
E de facto previ o pior para esta época... O folhetim Cardozo foi caricato, a contratação de Cortês uma comédia, e os traumas do final da época passada um fantasma que pairou na Luz demasiado tempo...
Bem sei que hoje isso não interessa para nada, mas a fronteira entre o sucesso e o insucesso ao mais alto nível é uma linha muito ténue... Esta época tinha tudo para correr mal, mas também tinha tudo para correr bem se tivermos em conta que os intervenientes eram praticamente os mesmos, muitos deles de qualidade indiscutível...
Mas numa altura de balanços, não podemos esquecer que as coisas estiveram negras, que a pré época mostrou um Benfica amorfo incapaz de derrotar um Sporting ou um São Paulo numa Eusébio Cup...
Não podemos esquecer que arrancámos com uma derrota no Funchal, que na segunda jornada perdíamos com o Gil Vicente em casa aos 90 minutos de jogo, e que na terceira empatámos com o Sporting. Não podemos esquecer que à terceira jornada o FCP já ia 5 pontos à frente, vantagem que raramente perde, e que as exibições do Benfica não convenciam ninguém...
Não podemos esquecer que numa época que se adivinhava difícil e com o treinador de futebol com mais azar que conheço, aconteceu o cúmulo dos azares, a lesão prolongada de Sálvio, aquele que se adivinhava o jogador mais importante da época e que em nada ajudou ao folhetim...
Mas felizmente as coisas da bola são muitas vezes imprevisíveis, e tudo muda quando menos se espera: O FCP foi menos competente do que habitualmente e permitiu-nos sonhar, e o Benfica, mesmo sem deslumbrar soube encontrar quase sempre o caminho para a conquista dos 3 pontos...
A viragem dá-se na minha opinião com a morte de Eusébio... A morte do King foi uma demonstração de mística e Benfiquismo como há muito não se via... A morte do King permitiu a alguns recém chegados perceber finalmente a importância da camisola que envergavam... A morte do King uniu tudo e todos em volta de um ideal e fez a todos crer que a emoção e a fé podiam mover montanhas...
A partir daí a equipa percebeu que era a melhor... Que não havia razão para receios... Percebeu que o FCP fraquejava... Percebeu que os adeptos voltaram a acreditar e o estádio voltou a encher... Percebeu que vencidos os fantasmas da última época, tínhamos do nosso lado o talento e que o destino só podia ser vencer... Bastava acreditar...
Da minha parte, a venda de Matic fez-me desconfiar da sorte... Mas mais uma vez Jorge Jesus foi magnífico... Ninguém notou, essa é que é a verdade... Só um treinador magnífico permite que saia Javi e Witsel e não se note, que saia Matic e ninguém repare... Que entre Fejsa e a equipa fique ainda mais forte... E que num festival de lesões venha ainda Rúben Amorim, André Almeida e André Gomes e a dinâmica da equipa nunca se altere... Bem sei que há aqueles que acreditam em coincidências e obras do divino, mas isto só é possível com um grande, grande treinador.
Ganhámos porque fomos os melhores. Indiscutivelmente. Porque temos os melhores jogadores, o melhor treinador, porque a direção apostou forte e deu condições para ganhar, porque soubemos rentabilizar a qualidade que tínhamos...
Ganhámos também porque finalmente, ao fim de 4 anos, fomos excelentes no confronto direto com os adversários mais diretos: 4 pontos conquistados ao Sporting, 6 ao Estoril, 6 ao Braga, e 3 em 3 ao FCP (falta ainda o segundo jogo). Não custa pois perceber que o nosso saldo francamente negativo nos confrontos diretos com o FCP, nos impediu por exemplo de conquistar os dois últimos campeonatos... Era decisivo melhorar neste aspeto... e melhorámos.
Falar nos destaques da época seria difícil, porque são muitos... Mas é impossível não falar em Luisão (fantástico), Garay, Oblak (que tão poucos golos sofreu), Enzo (que coração!), Gaitan (parece outro jogador), Markovic ou Rodrigo...
Mas eu destacaria dois a quem não previ nada de bom (também aqui me enganei) e que foram fundamentais ao longo da época: Sílvio e Rúben Amorim. Simplesmente excelentes sempre que chamados à equipa, portugueses e Benfiquistas de coração, e dois que espero que fiquem no plantel para a próxima época... Assim como Siqueira, porque bons laterais são coisa rara, e o Benfica já mostrou por diversas vezes que aquela é uma posição para a qual nunca acerta à primeira...
Jorge Jesus ressuscitou num Domingo de Páscoa, e confesso que rejubilei com tão feliz coincidência. Ele merecia... Jorge Jesus merecia esta vitória... Jorge Jesus merecia que o azar o largasse por momentos... Ele merecia voltar a sentir o carinho dos adeptos...
Gostei de ver os jogadores atirá-lo ao ar, gostei de ver o abraço de Rui Costa, gostei de ver o policia quase meter o Jesus na choldra, sinal de que Jesus também tem momentos em que desce à terra e não esconde as suas raízes...
Este título é de muita gente mas é sobretudo dele... Por ter sabido ganhar, mais uma vez, sem nunca abdicar das ideias em que acredita.
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