Rodrigo é um caso paradigmático do futebol do Benfica, que prova que de facto, quem sabe sabe, e o resto é conversa.
Não houve quem criticasse esta contratação, de um jogador das escolas do Real Madrid por 6 milhões de euros, em tempos em que, convém recordar, a moda era associar jogadas escuras e negócios de cimento, a todos os negócios que o Benfica fazia com Madrid.
O primeiro ano foi em Bolton, e eu, se calhar por morar por aqui e acompanhar as coisas mais de perto, fui sempre acrescentando que o miúdo Rodrigo, apesar de não ser um titular indiscutível de uma equipa que jogava para não descer, mostrava qualidade acima da média.
Prova disso foi o facto de, enquanto alguns continuavam a questionar esta contratação e o facto de nem num Bolton conseguir ser titular, no final da época o mesmo Bolton lutou desesperadamente para contratar o jogador de 19 anos a título definitivo, algo que Luís Filipe Vieira sempre recusou.
No ano seguinte, Rodrigo regressou à Luz e foi lentamente entrando na equipa. Imediatamente mostrou o seu talento e que tinha tudo para ser um prodígio, altura em que, convém lembrar, até em Madrid se voltou a falar dele, e a falarem-se em cláusulas que existiram eventualmente que permitiriam ao clube espanhol recuperar Rodrigo a qualquer momento.
Mas entretanto aconteceu o jogo da Rússia no qual se Rodrigo se lesionou com alguma gravidade. E desde aí, o sururu em volta do avançado arrefeceu e levou tempo a voltar a ser o mesmo. Essa foi a altura em que alguns voltaram a questionar a qualidade do miúdo, a questionar até porque razão Rodrigo ia tendo os seus minutos de jogo em vez de um outro miúdo e terror das balizas adversárias chamado Nélson Oliveira, um português que tinha tudo para ser tão bom ou melhor que Rodrigo.
Rodrigo foi sentindo o seu valor ser posto em causa, e sentiu-se muitas vezes o seu desespero em fazer as coisas certas e mostrar serviço rapidamente. Percebeu-se também, que no esquema de Jorge Jesus, o seu papel era muito diferente daquele que lhe era destinado na seleção Sub 21 espanhola (no qual continuava a render e a marcar golos quase sempre), papel esse a que terá levado algum tempo a adaptar-se.
Apesar de tudo, no entanto, há algo de que sempre tive a certeza: era uma questão de tempo, porque só um cego não via que estava ali um jogador com tudo para ser excecional.
Caramba, para alguns, se Jorge Jesus era de facto um potenciador de jogadores tem forçosamente de fazer render todo e qualquer jogador que lhe passe pelas mãos. Se o Rodrigo dava, o Nélson também tinha de dar. Era uma questão de oportunidades, diziam alguns.
Mas enquanto Rodrigo continuava a trabalhar, o Nélson amuava. Enquanto Rodrigo continuava a respeitar as escolhas do treinador e a elogiar a qualidade dos que jogavam, o Nélson reclamava minutos de jogo porque já sabia tudo. Enquanto Rodrigo falava sempre do treinador e do clube com respeito e admiração, o Nélson falava mal de ambos e elogiava as políticas desportivas dos adversários do Benfica. Enquanto Rodrigo ia mostrando aqui e ali um potencial imenso, o Nélson desapontava por todo o lugar por que passava. Enquanto O Rodrigo mostrava a atitude certa de quem quer ser um vencedor, o Nélson mostrava porque razão não singram algumas outrora esperanças do nosso futebol.
Jorge potencia? Inquestionavelmente! Mas não faz milagres. Em primeiro lugar é preciso talento para ser potenciado, e isso nem todos têm. Em segundo, o treinador fará a sua parte. Mas o jogador tem de lá estar para fazer o resto, com humildade, dedicação, capacidade de trabalho e sofrimento, e confiança nas suas capacidades. Rodrigo sempre o teve. O Nélson, infelizmente, 3 ou 4 anos depois parece voltar a ter de começar do zero. Quando um jogador não quer, não há treinador que o salve.
Que prazer me dá ver Rodrigo brilhar com a camisola do Benfica neste momento, antes da partida para outros voos que seguramente serão grandiosos. Pelo talento que tem, pelo respeito que sempre mostrou pela camisola que enverga, por ter mostrado a toda a gente o que é subir a pulso a escada do sucesso, sem fazer barulho nem atropelar ninguém.
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