O texto seguinte é da responsabilidade do benfiquista José Moreira, do 'Ontem vi-te no Estádio da Luz'.
Um texto no qual me revejo e que merece destaque pela forma como descreve a realidade.
Aqui vai:
"Muito se tem falado e escrito sobre o episódio protagonizado por Jorge Jesus em Londres com Raúl José, mas principalmente, com Shéu e Rui Costa.
A gravidade da situação explica e justifica todo o alarido vivido em torno desta situação.
Não obstante, apetece-me perguntar: “Mas qual é o espanto pelo sucedido?”
O homem que não se inibiu de empurrar, repetidamente, maltratar perante um estádio cheio e perante milhões de telespectadores e humilhar perante o plantel o seu adjunto de longa data, e dois símbolos vivos do clube, é o mesmo homem que não se inibiu de chantagear o Benfica na hora de pedir um salário pornográfico com um suposto interesse do Porto nos seus serviços, quando ainda se encontrava sob contrato; é o mesmo homem que adora espezinhar jornalistas em conferências de imprensa, em tentativas falhadas de afirmação de uma suposta superioridade terrena; é o mesmo homem que elegeu Marco Silva como seu inimigo publico mais recente, apenas porque este é o novo menino bonito da imprensa e adeptos; é o mesmo homem que, não por acaso, foi empurrado em pleno Jamor por um dos jogadores mais importantes do plantel; é o mesmo homem que não se coíbe de andar à paulada a polícias.
Nestes casos todos achamos uma graça tremenda à “personagem”, todos rimos e dizemos que o empurrão de Cardozo era imprevisível, todos batemos palmas à coragem do treinador em defender os adeptos. E agora? Bom, agora, como a coisa mexe com pessoas que nos tocam no Benfiquismo, já nos preocupamos e já olhamos de forma séria para o que aconteceu.
É ainda curioso que se afirme que a culpa é da estrutura do Benfica, por não ser capaz de o manter em rédea curta, por não ser capaz de ter alguém que o mantenha no seu lugar mas, foda-se, faz algum sentido dar 4M€/ano (mais prémios) a uma pessoa que demonstra precisar de uma ama-seca? Faz sentido dar 4M€/ano a alguém que queremos que lidere um conjunto de homens (valiosos e importantes para o clube), quando o próprio é o primeiro a assumir que tem grandes lacunas no trato humano com as pessoas com quem trabalha, ao ponto de ter que se gastar 500 mil euros/ano num líder motivacional?
Obviamente que a culpa é da estrutura do Benfica, mas essa responsabilidade não decorre da falta de rédea em JJ, decorre sim do facto de manter no cargo um homem que não tem todas as valências necessárias para ser um treinador top, mas que é pago por valores de treinador top.
Sim, o Benfica fez um jogo arrebatador em Londres. Sim, aposto que não há Benfiquista no mundo que não se tenha orgulhado com a forma como a equipa venceu e convenceu, mas também não haverá Benfiquista nenhum no mundo que não tenha ficado envergonhado, pelo que JJ fez com gente que lhe é muito superior, em grau e género, em nível e classe.
Agora, espanto? Espanto em quê? Nem pode haver espanto pela vitória, porque o Jorge Jesus é competente na componente técnica do seu trabalho, mas também não pode haver espanto pelas suas atitudes, porque não é nada que já não devêssemos saber, e não é nada que já não se tenha dito e repetido."
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O mais incrível em tudo isto é que no caso de Cardozo foram os mesmos que hoje desvalorizam o episódio de Jorge Jesus com Shéu e Rui Costa, membros da estrutura permanente do Benfica, um deles até administrador da SAD, a exigir o despedimento de Cardozo. Alguns utilizaram o termo 'imperdoável'.
O que pergunto é se vale tudo? Já entramos nessa fase no Benfica?
Felizmente, sei que não. A maioria não se revê nisto.
Mas para a polícia do benfiquinha sim. Tudo é lícito, tudo é aceitável.
Agredir árbitros, polícias ou maltratar jogadores ou benfiquistas de décadas. Tudo é lícito a quem afirma ter uma boa relação com um gajo que vomita ódio ao Benfica como AVB.
Ou quem mostra reverência pelo pior inimigo do Benfica.
Vou relembrar um episódio que já contei aqui no blogue. É que quando temos 'Benfica' nas veias, não há meios termos para algumas situações.
Certa vez, Marcelo Rebelo de Sousa leva a um restaurante muito famoso de Lisboa Pinto da Costa.
Ao chegar lá, o restaurante estava cheio. Como sempre. Marcelo pede a PC que aguarde na rua enquanto entra para meter uma cunha para uma mesa para dois.
Dirige-se ao dono, um excelente anfitrião mas também benfiquista.
Quando explica o que quer e indica quem é o convidado, o dono informa Marcelo Rebelo de Sousa que o receberá sempre com toda a deferência e cuidados, mas que Pinto da Costa não mete os pés no seu restaurante.
"Não me faça essa desfeita!", afirma Marcelo. "Estou farto de gabar o restaurante ao homem!"
O nosso amigo benfiquista não cedeu e recusou a mesa.
Por isso, não é Jorge Jesus que vem ensinar aos benfiquistas nada.
O futebol não foi inventado por ele, e os valores que aprendemos a cultivar pelo exemplo fantástico de atletas e dirigentes durante décadas não desaparecem porque alguns querem.
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