Vem este tópico a propósito do desafio que lancei ontem aos nossos leitores sobre os jogadores mais se destacam na liga portuguesa (I Divisão e II Divisão, principalmente) e que pudessem ter interesse para compor o lote de jogadores que formariam o plantel do SLBenfica na próxima temporada, na certeza que, segundo o presidente, assistiremos a uma maior aposta na formação e maior saida de jogadores "de nome".
A conclusão a que cheguei é que... Ninguém serve para o Benfica!
Um é "verde", o outro não tem qualidade, outro não defende, um não ataca, outro não faz a diferença, um é "curto", outro "é só garra", um fala mais que joga, enfim... Ninguém serve!
Dei por mim a pensar na frase do Carlos Queiroz: "Ou está tudo doido ou vivem na Disneylandia":
- Já olharam bem para as contas do Clube, ou melhor da SAD?
- Por quanto mais tempo acham que clubes em Portugal vão continuar a conseguir fazer contratações de 10, 12, 13M€?
- Quantas épocas acham que é possível fazermos a investir 49,3M€ no plantel como aconteceu nesta temporada? E detenham esse pensamento que se vendermos 70 ou 90M€ resolvemos o problema porque não é verdade... no ano seguinte gastamos mais 30M e continuamos em "déficit" crónico, além de que se torna impossível fazer um trabalho sustentado com entradas e saídas constantes, não pela qualidade dos jogadores, mas porque esse é o modelo: "quando sabem contar até 3 e sentados no passeio chegam com os pés ao chão... a ordem é vender".
NÃO PODE SER!
O futebol português há muito que deveria ter criado as bases de sustentabilidade para viver da formação e deixar de importar "camiões de jogadores" do mundo inteiro. Mas não, todos os anos recheamos os nossos campeoantos de jogadores Brasileiros, Argentinos, Caboverdianos, Servios, Franceses, Paraguaios... enfim sem falar dos oriundos do Mali, Costa do Marfim, Russia, Niger, Congo, Togo, Somália... num total, esta temporada de 52 nacionalidades a juntar à portuguesa que já só representa 46% dos jogadores isto só na I Divisão.
Há muito por onde inovar... Pode apostar-se nas ligas universitárias (como tem o rugby) e como têm os Estados Unidos para quase todos os desportos, podem apostar-se em épocas de "draft" onde os clubes, respeitando determinados critérios, têm acesso a escolher jogadores a partir de torneios de captação, etc. etc. etc.
MAS NÃO! O que a malta quer é camiões de jogadores a chegar todos os anos... desde a equipa mais em dificuldades até à equipa mais abastada (se é que há alguma).
Ah e tal a competitividade! Ah e tal Portugal "desaparecia do mapa" do futebol se não fosse isso! Ai sim? Vamos lá levar isso mais a fundo:
Desde o ano 2000 entraram nas principais transferências os seguintes jogadores:
- Nuno Gomes (17M€)
- Jardel (17M€)
- Duscher (13M€)
- Hugo Viana (12,7M€)
- Cristiano Ronaldo (15M€)
- Helder Postiga (9M€)
- Ricardo Quaresma (6.4M€)
- Ricardo Carvalho (30M€)
- Deco (21M€)
- Paulo Ferreira (20M€)
- Tiago (12M€)
- Carlos Alberto (10M€)
- Maniche (16M€)
- Luis Fabiano (10M€)
- Seitaridis (10M€)
- Miguel (8M€)
- Anderson (31M€)
- Pepe (30M€)
- Nani (25.5M€)
- Simão (20M€)
- Manuel Fernandes (18M€)
- Ricardo Quaresma (18M€)
- Bosingwa (20M€)
- Lisandro Lopez (24M€)
- Lucho Gonzalez (19M€)
- Cissoko (16M€)
- DiMaria (33M€)
- David Luiz (30M€)
- Ramires (25M€)
- Bruno Alves (22M€)
- Raul Meireles (13M€)
- Fabio Coentrão (30M€)
- Falcão (47M€)
- Hulk (40M€)
- Witsel (40M€)
- Javi Garcia (20M€)
- James Rodriguez (45M€)
- João Moutinho (25M€)
- Matic (25M€)
- (não contei com Rodrigo e André Gomes porque não foram transferidos)
Um total de 39 jogadores, dos quais 22 são portugueses. Ou seja, mais de metade (56%) das transferências realizadas foram de jogadores portugueses, mesmo apesar de a partir de 2009/2010 se terem iniciado as maiores movimentações de estrangeiros, onde dos 17 transferidos, 12 foram nos últimos 5 anos, numa análise feita para os últimos 14 anos (desde 2000/2001).
Isto levanta uma questão:
- O que se passou nos últimos 5 anos? Deixámos de ter bons jogadores portugueses?
NÃO! O que se passou foi a chegada dos multimilionários da Asia ao futebol e à necessidade/vontade de realizar grandes transferências. Passou, então, a ser interessante comprar jogadores por valores altíssimos... interessante para muita gente envolvida que enriqueceu muito e "lavou" muito.
Curiosamente, os clubes principais (Benfica e Porto) foram atrás deste movimento e a partir dessa altura os seus orçamentos dispararam anualmente. Os mais caros planteis de sempre destes dois clubes começaram a suceder-se e a aumentar a partir de 2009.
Estava descoberto o novo filão: Comprar jogadores bons, por valores teoricamente incomportáveis e vender aos mercados dos multimilionários por valores astronómicos.
Desde essa altura... Bruno Alves, Meireles, Coentrão e Moutinho. Em cinco anos saíram quatro jogadores portugueses e doze estrangeiros contra os 18 que saíram nos dez anos anteriores...
Curiosamente, os clubes estão imensamente mais endividados, as contas das SAD estão muitíssimo piores do que no passado e a dependência em regime de quase ultimato com a banca está cada vez mais evidente nos clubes em "embarcaram" nessa onda.
Sucederam-se os investimentos nos "mercados de empresários" mais do que nos jogadores de qualidade. Ou seja, o importante passou a ser a relação com os empresários que poderiam trazer os tais "wonderkids" que pudessem vir a valer dinheiro... nem que para isso fosse necessário continuar a contratar "pinos" como preço a pagar para poder ir tendo os bons.
Ao contrário do que se apregoa, a aposta na formação ficou pelo caminho. Dos miudos portugueses espera-se o mesmo que se espera de um Markovic ou do que quase não se teve paciência para ter do DiMaria: RESULTADOS IMEDIATOS! É preciso chegar e ao fim de três jogos fazer capas de jornais a dizer que os colossos da Europa estão de olho e no máximo em ano e meio / dois anos realizar grandes transferências.
Sem modelos de transição dos miudos, sem oportunidades regulares - as tais que os Markovics tiveram nos seus países - sem paciência, sem apoio e sem incentivo: Aos miudos pede-se "Veni, Vidi, Vici" e rápido porque se é para demorar mais que três meses, vem um sérvio já formado e resolve-se.
TÃO MAS TÃO ERRADO ESTE MODELO!
Tem tudo para correr mal, tal como os galopantes números dos Relatórios e Contas demonstram.
Os dirigentes deixaram-se seduzir pelas transferências fantásticas sem olhar à sustentabilidade do clube em termos financeiros e até desportivos. O FCPorto lá se foi aguentando da forma como todos sabem, mas com a alta rotatividade dos mais fortes que não ficam mais de um a dois anos e saem aos dois e três de cada vez, é impossível ter um modelo de sustentabilidade desportiva...
... e com tanta contratação que tem que se fazer de fora para alimentar não o mercado da qualidade, mas sim o "mercado dos empresários" chegamos ao total desgoverno financeiro que nos leva a colocar em causa sejam quais forem os objectivos desportivos e realizar vendas quando os bancos exigirem (estivesse o FCPorto com um treinador decente e veríamos mais um ano por um canudo).
É por isso que defendo uma política anti jogador de aeroporto. Aquele jogador que aterra já craque, antes de tocar na bola é novo isto e aquilo. Quando toca mal na bola precisa de adaptação porque, lembrem-se, ele é isto e aquilo e até já veio com vista a ser transferido para Inglaterra ou Espanha (e brevemente para a Alemanha).
Esses, os jogadores de aeroporto, não serão nunca da "GeraçãoBenfica" que sabe o que é o clube e sente o coração bater mais forte, sabe que mesmo em Paços de Ferreira com 1000 pessoas aquela camisola é especial e cada jornada é especial! Esses são da geração que não consegue dizer "é mais um jogo" quando recebem o FCPorto... No Benfica não há "mais um jogo".
Os novos são da "Geração Youtube". Assim que são contratados as redes sociais enchem-se de videos com jogadas fantásticas que tardam em confirmar-se em campo, mas alto lá... o rapaz tem potencial, está a adaptar-se e ainda vai valer bom dinheiro. Os novos, lá está, já poucos são os que se esforçam sequer para aprender português - vão ficar pouco tempo. Esses para quem "é mais um jogo" poder ir ao Dragão, mas na verdade são jogos melhores porque... têm mais gente. Pobres coitados! Entram e saem sem saber o que é o Benfica.
Como custa ouvir os mais gloriosos jogadores dizerem que tinham muito respeitinho à exigência do Terceiro Anel (único no Mundo, pela intolerância, diziam eles), pelo que não era qualquer um que chegava para vestir aquela camisola... e menos ainda que jogava logo.
(continua)
Há muito por onde inovar... Pode apostar-se nas ligas universitárias (como tem o rugby) e como têm os Estados Unidos para quase todos os desportos, podem apostar-se em épocas de "draft" onde os clubes, respeitando determinados critérios, têm acesso a escolher jogadores a partir de torneios de captação, etc. etc. etc.
MAS NÃO! O que a malta quer é camiões de jogadores a chegar todos os anos... desde a equipa mais em dificuldades até à equipa mais abastada (se é que há alguma).
Ah e tal a competitividade! Ah e tal Portugal "desaparecia do mapa" do futebol se não fosse isso! Ai sim? Vamos lá levar isso mais a fundo:
Desde o ano 2000 entraram nas principais transferências os seguintes jogadores:
- Nuno Gomes (17M€)
- Jardel (17M€)
- Duscher (13M€)
- Hugo Viana (12,7M€)
- Cristiano Ronaldo (15M€)
- Helder Postiga (9M€)
- Ricardo Quaresma (6.4M€)
- Ricardo Carvalho (30M€)
- Deco (21M€)
- Paulo Ferreira (20M€)
- Tiago (12M€)
- Carlos Alberto (10M€)
- Maniche (16M€)
- Luis Fabiano (10M€)
- Seitaridis (10M€)
- Miguel (8M€)
- Anderson (31M€)
- Pepe (30M€)
- Nani (25.5M€)
- Simão (20M€)
- Manuel Fernandes (18M€)
- Ricardo Quaresma (18M€)
- Bosingwa (20M€)
- Lisandro Lopez (24M€)
- Lucho Gonzalez (19M€)
- Cissoko (16M€)
- DiMaria (33M€)
- David Luiz (30M€)
- Ramires (25M€)
- Bruno Alves (22M€)
- Raul Meireles (13M€)
- Fabio Coentrão (30M€)
- Falcão (47M€)
- Hulk (40M€)
- Witsel (40M€)
- Javi Garcia (20M€)
- James Rodriguez (45M€)
- João Moutinho (25M€)
- Matic (25M€)
- (não contei com Rodrigo e André Gomes porque não foram transferidos)
Um total de 39 jogadores, dos quais 22 são portugueses. Ou seja, mais de metade (56%) das transferências realizadas foram de jogadores portugueses, mesmo apesar de a partir de 2009/2010 se terem iniciado as maiores movimentações de estrangeiros, onde dos 17 transferidos, 12 foram nos últimos 5 anos, numa análise feita para os últimos 14 anos (desde 2000/2001).
Isto levanta uma questão:
- O que se passou nos últimos 5 anos? Deixámos de ter bons jogadores portugueses?
NÃO! O que se passou foi a chegada dos multimilionários da Asia ao futebol e à necessidade/vontade de realizar grandes transferências. Passou, então, a ser interessante comprar jogadores por valores altíssimos... interessante para muita gente envolvida que enriqueceu muito e "lavou" muito.
Curiosamente, os clubes principais (Benfica e Porto) foram atrás deste movimento e a partir dessa altura os seus orçamentos dispararam anualmente. Os mais caros planteis de sempre destes dois clubes começaram a suceder-se e a aumentar a partir de 2009.
Estava descoberto o novo filão: Comprar jogadores bons, por valores teoricamente incomportáveis e vender aos mercados dos multimilionários por valores astronómicos.
Desde essa altura... Bruno Alves, Meireles, Coentrão e Moutinho. Em cinco anos saíram quatro jogadores portugueses e doze estrangeiros contra os 18 que saíram nos dez anos anteriores...
Curiosamente, os clubes estão imensamente mais endividados, as contas das SAD estão muitíssimo piores do que no passado e a dependência em regime de quase ultimato com a banca está cada vez mais evidente nos clubes em "embarcaram" nessa onda.
Sucederam-se os investimentos nos "mercados de empresários" mais do que nos jogadores de qualidade. Ou seja, o importante passou a ser a relação com os empresários que poderiam trazer os tais "wonderkids" que pudessem vir a valer dinheiro... nem que para isso fosse necessário continuar a contratar "pinos" como preço a pagar para poder ir tendo os bons.
Ao contrário do que se apregoa, a aposta na formação ficou pelo caminho. Dos miudos portugueses espera-se o mesmo que se espera de um Markovic ou do que quase não se teve paciência para ter do DiMaria: RESULTADOS IMEDIATOS! É preciso chegar e ao fim de três jogos fazer capas de jornais a dizer que os colossos da Europa estão de olho e no máximo em ano e meio / dois anos realizar grandes transferências.
Sem modelos de transição dos miudos, sem oportunidades regulares - as tais que os Markovics tiveram nos seus países - sem paciência, sem apoio e sem incentivo: Aos miudos pede-se "Veni, Vidi, Vici" e rápido porque se é para demorar mais que três meses, vem um sérvio já formado e resolve-se.
TÃO MAS TÃO ERRADO ESTE MODELO!
Tem tudo para correr mal, tal como os galopantes números dos Relatórios e Contas demonstram.
Os dirigentes deixaram-se seduzir pelas transferências fantásticas sem olhar à sustentabilidade do clube em termos financeiros e até desportivos. O FCPorto lá se foi aguentando da forma como todos sabem, mas com a alta rotatividade dos mais fortes que não ficam mais de um a dois anos e saem aos dois e três de cada vez, é impossível ter um modelo de sustentabilidade desportiva...
... e com tanta contratação que tem que se fazer de fora para alimentar não o mercado da qualidade, mas sim o "mercado dos empresários" chegamos ao total desgoverno financeiro que nos leva a colocar em causa sejam quais forem os objectivos desportivos e realizar vendas quando os bancos exigirem (estivesse o FCPorto com um treinador decente e veríamos mais um ano por um canudo).
É por isso que defendo uma política anti jogador de aeroporto. Aquele jogador que aterra já craque, antes de tocar na bola é novo isto e aquilo. Quando toca mal na bola precisa de adaptação porque, lembrem-se, ele é isto e aquilo e até já veio com vista a ser transferido para Inglaterra ou Espanha (e brevemente para a Alemanha).
Esses, os jogadores de aeroporto, não serão nunca da "GeraçãoBenfica" que sabe o que é o clube e sente o coração bater mais forte, sabe que mesmo em Paços de Ferreira com 1000 pessoas aquela camisola é especial e cada jornada é especial! Esses são da geração que não consegue dizer "é mais um jogo" quando recebem o FCPorto... No Benfica não há "mais um jogo".
Os novos são da "Geração Youtube". Assim que são contratados as redes sociais enchem-se de videos com jogadas fantásticas que tardam em confirmar-se em campo, mas alto lá... o rapaz tem potencial, está a adaptar-se e ainda vai valer bom dinheiro. Os novos, lá está, já poucos são os que se esforçam sequer para aprender português - vão ficar pouco tempo. Esses para quem "é mais um jogo" poder ir ao Dragão, mas na verdade são jogos melhores porque... têm mais gente. Pobres coitados! Entram e saem sem saber o que é o Benfica.
Como custa ouvir os mais gloriosos jogadores dizerem que tinham muito respeitinho à exigência do Terceiro Anel (único no Mundo, pela intolerância, diziam eles), pelo que não era qualquer um que chegava para vestir aquela camisola... e menos ainda que jogava logo.
(continua)
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