"Pinto da Costa: um reflexo dos portugueses"

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Wednesday, February 26, 2014

"Pinto da Costa: um reflexo dos portugueses"



"Eu sei que não há youtube na margem norte do Douro, mas convém relembrar que Pinto da Costa não é um menino de coro. Além destas escutas eternizadas na net, ninguém esquece o guarda Abel, a mania de empestar o balneário alheio com creolina e, acima de tudo, o constante clima de guerrilha; o Porto nunca perde por mérito do adversário, o Porto só perde por causa do sistema lisboeta, por causa dos árbitros sulistas, o Benfica só ganhou o campeonato por causa do túnel, etc., etc. 

Dizem-me que Pinto da Costa nasceu na alta burguesia do Porto. Não digo que não, mas o cavalheiro Jorge Nuno sempre precisou de umas aulinhas de cavalheirismo. Mas, verdade seja dita, Pinto da Costa é apenas o reflexo ampliado de Portugal, o país sem cavalheiros. Há um Pinto da Costa em cada português, o nosso clube nunca perde por mérito do adversário, os outros só ganham por causa de esquemas. "Há sempre um esquema" deve ser a expressão mais portuguesa.

Culpar o árbitro é mais fácil do que assumir defeitos. Somos assim na bola, somos assim no trabalho, a encomenda só falhou por causa do colega do lado, somos assim na escola, o puto só é mal educado por causa das companhias, somos assim na estrada, só bati porque tive azar e não porque ia a 150km/h. 

Todos nós, portugueses, temos este mecanismo que evita a responsabilização e que envia o fracasso para o campo da magia, fracassamos devido à acção de um esquema malévolo que escapa ao nosso controlo, o "fado", o "destino", a "choldra". Não é por acaso que o povo diz "eles é que sabem", "eles estão a roubar-me", "eles é que têm o dinheiro". Este "eles" é uma entidade omnipresente que lixa o português e que, no fundo, funciona como álibi: não vale a pena ser melhor, porque isto é uma "choldra", porque "eles" não deixam. É assim no país dos árbitros. 

Agora parece que o grande Pinto da Costa está em queda. A imprensa fala em divisões na estrutura directiva do FC Porto que projectam um turbulento período pós-Pinto da Costa. Cheirando o caos no campo do adversário, muitos benfiquistas já preparam o banquete, já afiam as facas, já compilam piadas, já se preparam para pisar o rival na hora da fraqueza. Não é bonito. Sim, eu sei que Pinto da Costa fez o mesmo. 

Durante décadas, o líder do Porto gozou com os mouros moribundos e esteve sempre mais interessado em comemorar as derrotas do Benfica do que em comemorar as vitórias do Porto. Sim, eu sei que Pinto da Costa volta a ser um espelho da pátria: nós gostamos mais de comemorar as misérias alheias do que comemorar os nossos triunfos, gostamos mais de espezinhar a fraqueza do rival do que polir as medalhas do nosso mérito, a galinha da vizinha tem de ser pior do que a nossa. Mas não devia ser assim, não tem de ser assim. Eu quero um Benfica forte, não um Porto fraco. Ganhar pentas contra cadáveres é coisa que não me interessa."  - Expresso.

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