Entrando pois no quarto ano como escriba deste blogue, não seria de bom tom começar um novo ano sem ser logo em desacordo com o autor e fundador deste espaço, de seu nome GB, e meu querido amigo/inimigo de estimação de longas batalhas dos teclados.
Neste caso porém, um desacordo sem grande importância (uma maneira diferente de lhe desejar um bom ano de 2014!:)), que serve apenas para me levar a uma análise mais abrangente do fenómeno dos números 10 no futebol europeu atual.
O desacordo chama-se pois Nicolas Gaitán, e que, na opinião do GB, é um fenomenal número 10, desaproveitado pelo mestre da tática Jorge Jesus, que insiste em colocá-lo a jogar pelas alas. Diz o GB que já me “PROVOU” no passado que Gaitan sempre foi um "10" na vida antes de chegar ao Benfica. Terá pois sido Jorge Jesus que o estragou colocando-o a jogar em posições que não são a sua.
Nunca vi, confesso, tais provas. Aquilo que sei, e isto são factos, é que no futebol sénior Gaitan tem sete anos de futebol, quatro no Benfica e três no Boca Juniores, onde começou a jogar em 2007, e onde também, desde esse ano, o camisa 10 do clube e maestro da equipa sempre foi Juan Roman Riquelme. Riquelme era pois o número 10 do Boca Juniores, Gaitan era o 28, que jogava, tal como no Benfica, sobre as alas, e por vezes mais à frente como segundo avançado. O maestro, repito, era Riquelme! Não era Gaitan! Assim jogava no Boca Juniores, e assim chegou ao Benfica.
Num outro âmbito mas no seguimento da mesma linha, será coincidência, ou burrice/casmurrice (como alguns gostam de lhe chamar), que Jorge Jesus insista em tentar fazer de Djuricic um 9.5 e não um “dez” como a maior parte dos adeptos o vêm? (isto claro, se Djuricic ainda contasse!)
Olhemos pois para as grandes equipas do futebol europeu atual: Onde andam os números “dez” míticos do passado? Onde andam os Pelés, os Maradonas, os Zidanes, Platinis, Zicos ou Ronaldinhos, Rui Costas ou Baggios ou Decos por exemplo, os puros artistas do futebol de anos não muito distantes?
Quem são pois os números 10 das grandes equipas do futebol europeu atual?
No Manchester City é Dzeko, um ponta de lança puro. Aqueles mais parecidos com o 10 antigo são Sami Nasri e David Silva que jogam descaídos nas alas. Aquele que pauta o ritmo do jogo é Touré.
No Liverpool, o 10 é Coutinho, mais um que joga descaído na ala esquerda. O motor é (ainda) Gerard.
No Chelsea o 10 é Mata, um puro 10, que para Mourinho quase não conta e que poderá sair do clube ainda este mês. Hazard, um estilo Gaitan, joga na esquerda como Gaitan.
No Arsenal, Ozil, o 11, joga, tal como jogava no Real Madrid descaído sobre as alas, aparecendo evidentemente muitas vezes a entrar pelo meio. Tal como Arshavin jogava no passado, também ele descaído na esquerda. O Motor, e verdadeiro 10 da equipa, é o box to box Jack Wilshere.
No Tottenham, o 10 é Adebayor.
Na Juventus, o 10 é Tevez.
No Real Madrid e Nápoles, não há sequer número 10! Havia Kaká, só não havia lugar para ele em campo!
No Barcelona, o 10 é Messi que joga descaído nas alas e por vezes como 9.5, embora Iniesta acabe por ser o verdadeiro 10, e esse sim jogue quase sempre pelo meio.
No Manchester United o 10 é Rooney, ou seja, também aí se joga sem o típico número 10. Contratou-se o grande "10" do FCP, Anderson, que Ferguson insistiu em transformar em "8", o que só por si já diz muita coisa!
No Bayern o 10 é Robben, mais um extremo, sendo o motor da equipa, Javi Martinez, um número 8 e box to box moderno.
A pergunta que importa fazer é pois, quando Jorge Jesus se refere hoje à posição 9.5 em vez de 10, estará a dizer alguma asneira como tantos apregoam? Não vê ele a realidade que muitos AINDA não vêm? Onde andam esses 10 antigos do futebol europeu, aqueles que nos habituámos a apreciar ao longo dos anos? Terão lugar no futebol de hoje, cada vez mais jogado como um jogo de xadrez, sempre com régua e esquadro, quer quando se ataca quer quando se defende?
Resposta: Quase desapareceram pois, e os que ainda há jogam quase sempre descaídos nas alas (ou na nova posição 9.5 de que JJ fala), estando o centro do terreno entregue a boxes to boxes modernos, menos artistas com a bola nos pés mas mais consistentes, e disponíveis para o vai e vem dos 90 minutos do jogo.
Será pois descabido ver Gáitan a jogar no Benfica sobre as alas, posição onde aliás sempre jogou na vida? Haverá no Benfica e no futebol moderno espaço hoje para os típicos números 10, que jogam bem com bola no pé, mas que não existem quando a equipa perde a bola e são obrigados a defender?
Não são os antigos números 10, os alas modernos do presente e do futuro? E não são os extremos do passado, aqueles cuja função era exclusivamente driblar até à linha e cruzar para a área, uma espécie que as grandes equipas já não procuram, porque essa função já se exige aos laterais?
E haverá já hoje lugar para Bernardo Silva no Benfica A, como alguns defendem, mais um típico 10 pequeno e franzino, um artista com a bola nos pés mas uma nulidade quando é preciso defender? Não estará também Bernardo Silva condenado a transformar-se e a ser trabalhado para ser jogador de uma outra posição qualquer se quiser singrar no futebol moderno?
Pergunta pois para refletir.
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