O peso de ser treinador do Benfica

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الأربعاء، 21 أغسطس 2013

O peso de ser treinador do Benfica

CARTA ABERTA AO TREINADOR


Ser treinador do Benfica é uma tarefa nada, nada fácil. Digo isto não porque o plantel do Benfica possa ser fraco e desprovido de jogadores de classe mundial, ou tão pouco porque não temos condições de treino adequadas que nos permitam ter um plantel em forma. Digo isto porque é complicado perceber onde é que começam e acabam as competências de treinador,  quais as funções para que foi inicialmente contratado.

Hoje parece ser difícil, quando o ego cresce, coabitar com outros egos, em especial os dos jogadores, acima de tudo porque, se mete na cabeça que o maior somos nós. Assim, temos de os tratar mal, e fazer os outros sentirem-se menos do que são na realidade, para que eles percebam o lugar que lhes está reservado.

Hoje, mais difícil é ainda, admitir que estamos errados. O trajecto  já percorrido por um mister chegado a esta casa e após varias épocas de estadia, cria a ilusão de que só ele está certo, e mais concretamente, que quem não com ele concorda, é porque não percebe nada de futebol.

Quando Jorge Jesus veio para o Benfica, trazia na bagagem bons desempenhos, e uma raça prometedora, que nos dava a esperança de ter alguém que retirasse o máximo dos nossos atletas. Eu sou algo fácil de conquistar, mas mesmo que fosse dos difíceis, aquela frase "comigo, estes jogadores têm de jogar o dobro!"  não me daria hipóteses. Esse argumento fez-me acreditar que tínhamos homem. E assim foi, com o fair-play a ser uma treta, com o "acraditar" e o "saponhamos", com todos os ingredientes á mistura, vi uma equipa crescer, ganhar confiança, e sobretudo impor receio aos adversários, algo que já não via há muitas épocas.  Aí sim, a expressão Deus no céu e Jesus na terra, ganhou toda uma dimensão.

Estive na praça do Rossio, a festejar um saboroso título. Saltei sem parar, acompanhando os seus saltos no varandim da câmara, juntamente com o David Luiz, o Ruben Amorim, o Aimar... Era contagiante a alegria, a descompressão de uma vitoria tão ansiada... A partir daí, mal sabia eu, seria sempre a descer...

O mal foi ter ganhado tanta estima dos adeptos, acho que começou por aí. Aquele sentimento que somos a última bolacha do pacote tomou conta de si... e aos poucos, foi criando anticorpos para combater o estado de alegria que a nação Benfiquista vivia. Aos poucos, foi criando situações desnecessárias com outros treinadores, colegas de profissão, que em nada beneficiam a imagem de um treinador do Benfica. É que Jorge, qualquer um pode ser treinador, mas nem todos podem treinar o Benfica, e quem chega a esse lugar, tem responsabilidades acrescidas, tem de mostrar sabedoria e a humildade que apenas os grandes sabem ter.

Os falhanços tácticos foram-se acumulando, encostar o David Luiz a defesa esquerdo nos momentos chave, onde sempre todas as adaptações correram mal. Mas pior que os tácticos, foram os falhanços humanos. Esses sim, ditaram o destino que agora se abateu sobre nós. A maneira "pouco educada" como se dirige constantemente aos seus jogadores, rebaixando-os, os empurrões e os dedos na cara que faz continuamente aos 25 ou 26 que possam compor o plantel, e até aos colegas da estrutura (quantas vezes se virou contra Raul José), foram minando toda a ligação que criou naquela época mágica.

Meteu na cabeça que tinha o toque de Midas, que adaptava alguém e o tornava o melhor do mundo, gerando milhões ao clube. Para além de técnico, passou a formador de diamantes. E com isso, foram-lhe aumentados os poderes de decisão na estrutura do futebol. Algo que não pode acontecer. E depois, lá veio o papão fc porto, que se aprestava para roubar o nosso Special one. Tudo serviu para aumentar esse Endeusamento.

Tanto gritou, insultou, que conseguiu levar Rubem Amorim a abandonar o clube, dizendo que consigo nunca mais, levou Luis Filipe e César Peixoto a lamentarem não ser homem para o lugar, por falta de carácter. Levou Airton a responder aos seus insultos num treino, em que durante mais de 7 minutos não parou de o picar, insultar e rebaixar. Eu sei, eu vi esse treino, estava la. Desde aí, meteu guia de marcha a um rapaz que hoje podia fazer parte do plantel, como opção ao Matic. Levou ainda Aimar a dizer-lhe que como homem valia zero, pois á frente das pessoas diz uma coisa, e nas costas faz outra. E Aimar saiu do nosso clube pela porta pequena... Levou os jogadores a um extremo tal, que Cardozo ia fazendo o que muita gente tem vontade de lhe fazer... Atitude que condeno obviamente, mas não é mais do que ele e os outros colegas estão habituados a ver de si diariamente nos treinos. Também ele vai sair pela porta pequena? O exemplo vem de cima... E agora, até Luisinho, vem dizer que já não tem condições para estar á frente do plantel. É grave... Agora, até conseguiu puxar a equipa B para si, foi buscar um guarda costas para o enaltecer sempre que é entrevistado, que por muito benfiquismo que possa ter, não tem currículo nem experiência para formar homens e jogadores.

Na madeira, vi um grupo de jogadores sem ambição, sem chama, sem força de vontade. Vi um treinador distante, rindo-se para o chão, virando as costas aos lances quando estes se perdiam. Que diferença daquela altura, em que se o lateral perdia a bola, você corria ao longo da linha a gritar com o jogador para ele se reposicionar...

Está na altura de admitir... acabou. Já não existe ligação entre treinador e plantel. Há que declarar a hora do óbito... não vale a pena estar ligado á maquina, quando já não há hipóteses de recuperar. Vegetar é um estado que o Benfica não pode nem se deve dar ao luxo de fazer.  Camacho, apesar de todos os defeitos, chegou a um ponto onde disse não conseguir tirar mais dos jogadores, nem os motivar. Ele percebeu que tinha acabado a comunhão entre as partes, e como não estava agarrado ao lugar, demitiu-se. Os Homens são assim. Será que entre essas madeixas alouradas, ainda existe algum bom senso?

Eu sei que a culpa não morre solteira, e só fez o que lhe permitiram fazer.  Ofereceram-lhe todo um poder, que não podia recusar. Mas sejamos francos: quando nos deixamos levar, é complicado ter a honestidade de dizer que apenas somos competentes numa área. Treinar, melhorar, não é gerir, agenciar ou estruturar o futuro. Isso é para outros "pensadores", que não podem também interferir nos seus "pensamentos". Tudo tem uma forma, tudo e todos têm de ter uma função.

Por isso, apelo, chega... Perceba que já terminou, há muito tempo. O final de época trágico do ano passado foi a conclusão lógica ao perder a mão no balneário. O cair de joelhos no dragay foi um mostrar de derrota pessoal e interna. E o início desta época, cedo mostrou que as feridas jamais irão sarar. Até porque o mister não faz nada para isso. Segue o seu caminho, obrigando a que todos o sigam, ao invés de os convencer a entrarem numa jornada pela vitória. Carisma e opressão, têm resultados bem distintos...

Mas eu sei que as coisas não vão melhorar apenas com a sua (inevitável) saída. Não pode nem deve sair sozinho. Porque como disse, a culpa não morre solteira, e como também já tinha dito noutro post anterior, o Benfica está primeiro... faça-se jus a esse mote.

Obrigado por tudo o que fez de bem, não somos ingratos. Mas se nem as velas são eternas, muito menos os fósforos quando se molham á chuva conseguem manter a sua chama...

Sintam a Mística, Carrega Benfica


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