Quem viu Michelle de Brito perder para Serena Williams no torneio de Wimbledon de 2010, tinha Michelle 17 anos, advinhou por certo que aquela menina tinha todas as condições de vir a ser uma grande figura do ténis mundial.
Mas não aconteceu. Três anos depois, percebe-se que também para ela parece ter passado o comboio do estrelato, que pouco ou nada evoluiu nos últimos 3 anos, tendo andado quase sempre fora do top 100 mundial, e mesmo a nível interno está atrás de Maria João Koehler.
Mas há boa maneira tuga, eu sei, porque a vi jogar algumas vezes, que Michelle de Brito, num dia sim, num dia que queira, pode vencer (ou dar luta) a qualquer grande tenista do mundo. E por isso também, e porque aqui em Inglaterra o torneio de ténis de Wimbledon é de fato um grande acontecimento mediático e fazem-se sempre umas brincadeiras com apostas lá no trabalho, eu previ que Maria Sharapova iria ter grandes dificuldades em derrotar a portuguesa, e apostei em Michelle.
A portuguesa tinha capacidade, sabe jogar bem quando devidamente concentrada e motivada, jogava no court principal de Wimbledon, court cheio, defrontava a grande Maria Sharapova, e principalmente, não tinha nada a perder, não tinha rigorosamente responsabilidade nenhuma. E esta, diz-me a experiência, é a receita que reúne todos os ingredientes para o sucesso lusitano. E assim foi. Michelle esmerou-se, fez um jogo perfeito, e ganhou!
Também à boa maneira tuga, estava encontrada a nova heroína do desporto nacional. Cavaco Silva telefonou a Michelle, que não atendeu a chamada porque não queria pagar roaming; a equipa do jornal ABola lembrou-se que o ténis existe e voou logo para Inglaterra para acompanhar a nova vedeta em primeira mão; e o presidente da Federação Portuguesa de Ténis, também à boa maneira tuga, e se calhar esquecido que a portuguesa é apenas a 131ª do ranking mundial e que nem sequer teve entrada direta no torneio de Wimbledon, disse logo publicamente que agora tudo era possível, e que se eliminasse a italiana no jogo seguinte, tinha caminho aberto para ir por ali fora. Do oito ao oitenta em 90 minutos, como os portugueses tanto gostam.
E foi assim que Michelle entrou no court ontem para defrontar Karin Knapp, 104ª do ranking mundial! Entrou como uma nova estrela, com a pressão da imprensa que imediatamente fez dela aquilo que não é, com a pressão do público que fazia dela refém da exibição protagonizada dois dias antes, e principalmente, e como os portugueses já não gostam tanto, como grande favorita à vitória nas casas de apostas. A pressão, com que nunca tivera de lidar no jogo com Sharapova, estava agora toda do seu lado, e como sabemos, com nós portugueses, esta coisa da pressão e da responsabilidade, raramente dá bom resultado e é a receita para o fracasso. Também contra a italiana, apostei que Michelle ia perder, e perdeu mesmo.
Esta é a receita por exemplo, que faz com que no futebol, Portugal perca num campeonato europeu jogado em casa, dois jogos com a Grécia, depois de ter derrotado as Super Inglaterra, Espanha e Holanda. É a receita pela qual sabemos que no futebol, Portugal vai sempre dar luta a qualquer grande seleção do mundo mas que terá sempre grandes dificuldades para derrotar uma Irlanda do Norte no estádio da Luz; é a receita pela qual a grande geração de ouro do futebol português (uma seleção em tudo comparável àquela que a Espanha tem hoje) nunca foi capaz de ganhar porra nenhuma!
Michelle perdeu e jogou muito pouco. Cometeu erros de garota que ainda é. As pernas tremiam, a raquete não estava solta, acusou o peso da responsabilidade, não soube lidar com o favoritismo. Também à boa maneira tuga mostrou imediatamente o seu mau feitio atirando a raquete ao chão e contra a cadeira uma série de vezes. Exibiu no fim de contas, o descontrolo emocional que tanto caracteriza os portugueses, e que não poucas vezes nos faz fazer tão más figuras.
Cavaco Silva hoje já não lhe deve telefonar; a equipa da ABola já regressou a casa sem furo jornalístico e tão cedo não volta a falar de ténis, e o presidente da federação pode voltar a meter a viola no saco e a engolir as palavras descabidas que nunca deveria ter dito. Tudo à boa maneira tuga: Do oito ao oitenta e do oitenta ao oito no espaço de dois dias!
E é esta a nossa sina: Os portugueses, de uma forma geral (felizmente há boas excepções), superam-se quando ninguém espera, quando ninguém nos exige nada, quando temos tudo a ganhar e nada a perder, quando a montanha é quase impossível de ser escalada. E espalha-mo-nos ao comprido quase sempre nos momentos em que tudo parece à partida mais fácil, nos momentos em que a imprensa e o povo já fizeram a festa mas a final ainda nem sequer foi jogada, nos momentos em que é preciso personalidade forte, saber sofrer sem perder o discernimento e saber ser paciente para esperar o momento certo de dar a estocada final.
Falhamos nos momentos em que não podemos ter medo do sucesso nem deixar que o medo de falhar nos tolha o raciocínio. A verdade é que falhamos quase sempre nos momentos em que bastaria apenas ser nós próprios e exibir um pouco do que sabemos, e descer a montanha quase sem pedalar e mantendo apenas o equilíbrio. E se não sabemos ser equilibrados é também porque, como povo emotivo que somos, somos traídos muitas vezes pelas emoções.
Mas somos também um povo de vitórias morais, um povo em que se valoriza demasiadamente o esforço e se encontra facilmente razões abonatórias para a incompetência. Somos um pais de reality shows, em que a malta canta mal e mergulha mal, mas que quando os juízes (que nunca deram um mergulho na vida) abrem a boca é para dizer: “Sim senhora, excelente trabalho, caíste de costas mas subiste aquelas escadas com elegância e só por isso toma lá um oito!” Somos um país de fado e tristeza, com programas diários na TV sempre com aquela musiquinha de fundo a apelar à choradeira.
Numa cultura destas, numa cultura de povo coitadito, vivemos tão enraizados numa cultura de desculpas, de aconchego, de palmadinhas nas costas e facilitismo, que quando as verdadeiras dificuldades surgem, raramente estamos preparados para as enfrentar.
Ou será que alguém duvida, quando se fala no síndroma de certos treinadores em relação ao jogador português, que não haverá mesmo treinadores que preferem jogadores de outros países e com outro tipo de mentalidade?
مواضيع عشوائية
أصناف الموقع
- اخبار رياضية (7)
- الدوري الأسباني الدرجة الأولى (32)
- الدوري الألماني الدرجة الأولي (2)
- الدوري الإنجليزي الممتاز (18)
- الدوري المصري (18)
- بث مباشر (388)
- دوري أبطال أسيا (3)
- دوري أبطال أوروبا (30)
- دوري أبطال افريقيا (29)
Post a Comment