Já todos perceberam por posts anteriores a admiração que nutro por Jorge Jesus. Não será por vencer eventualmente este campeonato ou a Liga Europa que irei admirar mais, tal como não será por vir eventualmente a perder tudo que irei admirar menos. O trabalho feito leva-me acreditar que nos últimos quatro anos, apesar de não termos ganho tanto como gostaria, dificilmente algum outro treinador (acessível ao Benfica) teria feito melhor.
Bem sei que alguns benfiquistas não gostam do homem, e estão, claro no seu direito, mas a verdade é que ele lá vai, devagar devagarinho, batendo recorde atrás de recorde.
E quando as pessoas batem recordes como Jorge Jesus tem batido, claro, será sempre possível arranjar forma de desvalorizar esses feitos. Alguns dirão, como não haveria ele de bater recordes se esteve lá 4 anos e os outros só estiveram 6 meses? Ou como não haveria ele de bater recordes se pode comprar jogadores com que outros só puderam sonhar?
Tretas é o que digo, é ter duas palas à frente dos olhos! Se lá esteve 4 anos é porque a grande maioria dos sócios esteve sempre do seu lado e nunca deixou de acreditar no trabalho que estava a ser feito. Se não acreditassem, era igual aos outros, vinham os assobios, os grafittis e os lenços brancos, e teria seguido o caminho daqueles que antes dele foram entrando e saindo a um ritmo vertiginoso.
E aqueles que se desculpam com a qualidade dos jogadores contratados, com o dinheiro despendido, mais uma vez tretas, já que no fim de cada época de Jorge Jesus o Benfica vendeu sempre mais do que o que gastou. Se calhar antes é que era bom, gastava-se 5 vezes menos mas em cada final de época o “deve” era sempre maior que o “haver”, porque não havia ninguém para vender.
Não, Jorge Jesus não é um bom falante, não fala inglês e dá calinadas no português. Ainda assim é aquele que dá as conferências de imprensa mais interessantes. Durante anos era foi visto como um cigano no futebol, alguém esquisito, porque tinha o cabelo comprido e passou demasiado tempo sempre vestido de negro depois do falecimento da mãe. Não é bom falante como Quique Flores, não tem a postura de um Vilas Boas ou a inteligência de Mourinho, é fácil ver nele um pacóvio saloio, e atribuir à sorte a mestria que demonstra dentro do campo.
Mas goste-se ou não do estilo, convençam-se de que este Jorge Jesus é um grande treinador. Um bom treinador vê-se na cultura de exigência, vê-se na crença e na mentalidade dos seus jogadores, vê-se no conhecimento que cada jogador tem do seu papel e da sua missão dentro do campo, vê-se no comportamento tático das equipas, vê-se na qualidade do futebol demonstrado, vê-se numa equipa que acredita no trabalho e desconfia da sorte, vê-se na galvanização dos adeptos, vê-se na percentagem de acertos dos jogadores que se contrata, vê-se na valorização dos jogadores que passam pelas suas mãos, e claro, vê-se nos resultados. E vê-se em algo, que tão pouca gente valoriza: saber construir um plantel disciplinado em que ninguém é insubstituível, jogadores que sabem que o treinador é soberano e que será sempre capaz de sobreviver à insubordinação (e à ausência) de qualquer jogador.
Repito aqui aquilo que há muito digo: Jorge Jesus foi o melhor que poderia ter acontecido ao Benfica e a Luís Filipe Vieira. Jorge Jesus salvou a Direção e o Benfica do abismo financeiro, numa altura em que LFV colocou toda a carne no assador e precisava de alguém que não falhasse (como falhou Quique Flores), alguém que trouxesse ao Benfica dimensão, galvanização, alguns resultados desportivos, receitas de Champions League e rentabilização de ativos.
Que grande época tem feito o Benfica este ano! Com dois médios absolutamente fundamentais, Matic (o tal que não era 6 nem era 8) e Enzo, espremidos até ao tutano, aqueles que por tanta gente foram apontados como erros colossais do homem esquisito! E como correm os jogadores, jogadores esses que segundo alguns faziam parte de um balneário completamente arrebentado pelo tal homem esquisito que não sabe motivar nem ter uma conversa séria com ninguém.
Este treinador, futebolisticamente falando, tem mãos para treinar e ganhar em qualquer grande clube do mundo. Este treinador com um plantel de luxo era rei.
Este treinador, tivesse ele a sorte do Benfica ser um clube que não precisasse de vender para sobreviver, tivesse ele a hipótese de ter um plantel com alguns jogadores que hoje tem, juntando a outros que entretanto se viu obrigado a perder como David Luís, o Fábio, o Di Maria, o Ramirez, o Witsel ou o Javi Garcia, e meus amigos, não duvido de que estaríamos a lutar palmo a palmo pelas grandes conquistas internacionais, e com um plantel de baixíssimo custo se comparado aos grandes colossos da Europa.
No Real e no Manchester é fácil. Em cada ano mantém-se o que de melhor se tem e reforça-se com aquilo que de melhor os outros têm. E por isso acho sempre que querer comparar Jorge Jesus com um Mourinho ou um Ancelotti é tão estúpido como querer comparar Messi a Ronaldo. Os meios que cada um tem ao seu dispor são completamente diferentes.
Pelo que vou percebendo, aqui de longe, num país diferente, parece que agora todos de repente acordaram e perceberam que é hora de valorizar tudo o que de “bom” já temos e deixar de lamentar tanto aquilo que ainda nos falta. Parece que agora já todos acham que o “tal burro velho que não aprendia línguas”, afinal também aprende com os seus erros e tem sabido evoluir e refinar as suas competências.
Alguns que hoje tanto o elogiam, aliás os mesmos que há um ano tanto o criticavam, aliás os mesmos que há três anos tanto o elogiavam, aliás os mesmos para quem a competência das pessoas muda da noite para o dia conforme as bolas batem ou não nos postes, talvez tenham percebido tudo um pouco tarde demais.
Eu não ficaria pois surpreendido se fosse o próprio Jorge Jesus a exigir para si mesmo a oportunidade de provar a alguns “iluminados” que é tão bom como os melhores, e mostrar num outro clube e num outro país, que ensinar miúdos a correr atrás de uma bola ainda é uma arte ao alcance daqueles que falam mal português e apenas frequentaram a Universidade da Vida. Tenho a certeza que para alguns, o grande desalento seria perceber que, se calhar, para Jorge Jesus, o Benfica não tem forçosamente de ser o ponto mais alto da sua carreira.
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