Amor e preconceito

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Thursday, March 14, 2013

Amor e preconceito



Portugal, 14 de Março de 2013



Todos nós, sócios ou não sócios, gostamos do Benfica. Uns com mais romantismo, outros com mais racionalidade, mas seguramente todos queremos o melhor para o clube. Como fazemos, como nos dedicamos, como queremos que seja o Benfica, isso é que nos divide. O que é natural. Somos um clube democrático, há diversidade de opiniões. E quando maior se é, mais diversidade existe. Nem todos a compreendem, mas as coisas são assim mesmo.


Vem isto a propósito dos modelos de jogo, ou melhor dizendo, dos preconceitos existentes na história do Benfica sobre alguns aspectos da forma de jogar do Benfica. Peguei na última entrevista que Mozer deu ao jornal Benfica (edição de 8 de Março) e tirei algumas conclusões. Mozer jogou no Benfica em dois períodos distintos: entre 1987 e 89 e mais tarde entre 92 e 95. Ao todo 5 épocas de águia ao peito. Ganhou 1 campeonato e 1 Taça de Portugal. Foi um dos grandes defesas centrais que jogou no Benfica, mas vejamos como ele traduz o pensamento benfiquista que faz escola na nossa cultura:


“Enquanto não marcássemos golo não parávamos, não sei se jogávamos bem, mas enquanto não marcávamos golo o adversário nunca respirava”


“Os jogadores sempre me disseram “aqui nós temos de começar a ganhar nos primeiros 15 mn, se não estivermos a ganhar em 15 mn está tudo estragado”. Eram os 15 mn à Benfica”.


Mozer dixit. Mas que ganhou Mozer no Benfica com os 15 mn à Benfica e o não parávamos enquanto não marcávamos um golo? Em 5 épocas, ganhou 1 campeonato e 1 Taça. Ou seja, pouco mais que zero numa altura em que a arbitragem não estava tão controlada como passou a estar depois da Liga sedeada no Porto, passar a organizar a principal prova do nosso calendário.


Se há exemplo que reflecte bem o profundo erro em que assenta a visão dos benfiquistas espalhados pelo mundo fora, e reflectidas nas análises que fazem nos mídia ou em espaços de opinião na Internet, aqui está um dos exemplos mais paradigmáticos. E se pensarmos bem o futebol como ele é, e não como já foi, com facilidade concluímos que quem joga 15 mn à Benfica, nos tempos que correm, sujeita-se a levar com 1 golo e a ter de correr atrás do prejuízo.


Os 15 mn à Benfica fizeram história nas campanhas europeias de 61 e 62, onde aproveitando-nos do factor surpresa (ninguém dava nada pelo Benfica) e da pouca cotação que o futebol português tinha no panorama europeu, um conjunto de dirigentes, técnicos e jogadores, dando o máximo que sabiam e com base no valor do conjunto (e pluribus unum), souberam tirar partido do favoritismo dos adversários para ganhar alguns (não todos) os jogos, com essa entrada de rompante. De que o jogo com o Nuremberga é fiel exemplo.

Mas nas finais com Barcelona e Real Madrid, não houve 15 mn à Benfica! Ninguém reparou, mas ganhamos! O mito dos 15 mn ficou e ainda hoje pagamos factura (na opinião), por esse facto. Que como referi aconteceu num contexto muito particular. Desde que o Benfica ganhou títulos e passou a ser favorito, acabaram-se os grandes títulos europeus. E quando assim acontece, há-de vir um José Augusto qualquer a dizer “bem, no meu tempo com os 15 mn à Benfica, era difícil parar-nos”. Tretas...


Devemos combater estes preconceitos se quisermos voltar à ribalta europeia. Porque temos equipa para andar pelo alto, mas para ganhar falta-nos saber ter paciência e esperar pelo erro do adversário.


Tal como o Benfica em casa do Shalke04, há 2 anos, ou em casa do Liverpool há 3 anos, onde entramos de rompante querendo recuperar a velha teoria dos 15 mn à Benfica (e saindo vergados a derrotas algo dolorosas), parece que o FCP ontem quis fazer o mesmo, a fazer fé nos relatos de alguns mídia: “Depois de 25 minutos muito fortes, o FC Porto baixou o bloco (fisicamente não havia outra solução)” – BOLA online 14-03, “A equipa de Manuel Pellegrini nem parecia que estava a jogar em casa ao ser totalmente dominada pelo conjunto de Vítor Pereira nos primeiros 15 minutos de jogo” – SAPO Desporto.


O resultado para o FCP foi exactamente o mesmo que o Benfica alcançou nesses 2 jogos: derrota. Com a diferença que tendo jogadores de muito menor valia técnica, acabou subjugado, individual e colectivamente, ao poder do adversário. 


Se gostamos do Benfica, devemos fazer tudo que pudermos para ajudar o futebol a ser melhor. E para isso, defender os 15 mn à Benfica é dar um tiro no pé.

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