Moro em Inglaterra, país do futebol puro. Torço pelo Arsenal de Londres, essencialmente por duas razões:
Em primeiro lugar porque me apaixonei pelo Arsenal de Wenger, com Hleb, Flamini, Nasri, Fabregas e Van Persie, uma equipa de miúdos que jogava um futebol fabuloso.
Em segundo porque achei que não tinha piada vir para Inglaterra torcer pelo Manchester United, o clube da maioria.
Na verdade, o meu clube do coração é e sempre será o Benfica, e admito que em Inglaterra sou um pouco troca tintas. Quando Mourinho cá estava torcia pelo Chelsea; esta época por exemplo tenho uma costela do Tottenham, fruto da presença de Vilas Boas.
E se há alturas em que gostava de sentir em Inglaterra um clube como meu para dar mais calor à coisa, outras há em que agradeço essa bênção, já que há algo de muito saudável em apreciar apenas futebol, e analisar tudo com alguma distância e fair play.
Dito isto, aqui há uns meses estive em Manchester e tinha, claro, de ir a Old Trafford, a casa do United. Um estádio magnifico, com uma atmosfera extraordinária. E fiquei rendido à grandeza de tão incrível clube. Paguei 25 libras para ir numa excursão e visitar aquele templo, e admito que me senti pequeno lá dentro. Estive no balneário que parecia um santuário, estive sentado nas cadeiras almofadadas do banco de suplentes, fiz o percurso desde o balneário até ao relvado ao som do hino do clube, um hino que relembra conquistas antigas e que toca ali mesmo sempre em dias de jogo, apenas naquele túnel que dá acesso ao teatro dos sonhos, hino esse que serve para inspirar os jogadores da casa e intimidar logo ali os adversários.
Eu já estive no Louvre em Paris ou no Museu da História Natural em Nova Iorque. Já vi a Mona Lisa, já estive em Notre Dame, já visitei a Casa da Ópera em Sidney. Já fui a alguns sítios de visita e tive de “consumir cultura”, porque achava quase criminoso estar nas cidades e não visitar alguns sítios pitorescos e de passagem obrigatória em todos os roteiros turísticos. Mas entre estar duas horas na fila para tirar uma fotografia àquela merda da pintura da Mona Lisa ou visitar o museu do United, eu sei o que prefiro.
Do que eu gosto mesmo é de ver a camisola do Roy keane, da gola alta do Cantona, do cheiro do George Best, das chuteiras do Ronaldo ou das luvas do Schmeichel. Gostei de ver as Taças dos Campeões Europeus (exceto aquela conquistada contra o meu Benfica), gostei do respeito e veneração com que os guias da excursão falavam de Ryan Giggs, gostei de ouvir falar dos rituais dos jogadores, gostei dos vídeos gloriosos nos ecrãs, gostei da homenagem aos jogadores falecidos na Tragédia de Munique de 1958, gostei do clube que se ergueu das cinzas, gostei do orgulho na história e da glória que se respira por entre aquelas paredes, gostei do respeito pelos seus adeptos. Gostei dos cabelos brancos e das rugas daquele treinador escocês, história em movimento, vejo nele a mística e os valores que sempre me lembram de Bobby Robson, o único “lagarto” que me fez ir a Alvalade só para tirar uma fotografia com ele.
A receção que Ronaldo teve esta semana em Manchester é algo que só pode acontecer num clube extraordinário onde os valores que fazem parte do seu ADN estão sempre presentes, quer se ganhe ou se perca. Adeptos que cantaram o nome de Mourinho nas bancadas, apesar dos títulos que este lhes roubou ao serviço do Chelsea. Ryan Giggs que fez o seu milésimo jogo com a camisola Red Devil aos 39 anos, nos quartos de final da Liga dos Campeões frente ao poderosíssimo Real Madrid. O mesmo Giggs que foi ao balneário do Real Madrid no fim do jogo, para levar a sua camisola no milésimo jogo, assinada por todo o plantel, para oferecer a Cristiano Ronaldo... Isto é o futebol em todo o seu esplendor...
Como sempre disse, e tal como a grandeza dos homens não se reflete na sua conta bancária, também a dos clubes não se faz apenas de vitrinas e latão, mas de gestos e de valores. E nesse aspeto, o exemplo do United transporta-me ao meu Benfica, que esta semana teve mais um gesto que mostra que, em matéria de valores, também estamos e temos de estar sempre na linha da frente.
Para recordar o gesto magnífico que o meu clube teve para com Fábio Faria... Para recordar a Fundação Benfica, a solidariedade imediata após a tragédia da Madeira... Para recordar o esforço feito na construção do novo museu para que o passado seja sempre lembrado com a grandeza que merece... Para recordar o falecimento de Fehér, e o comportamento extraordinário do presidente do meu clube que lidou com aquela perda como se de um filho se tratasse... Para recordar Mantorras, a quem a sorte atraiçoou em tenra idade mas a quem o meu clube nunca deixou cair... Para recordar a gala do Eusébio, que teve uma homenagem em vida que a todos dignificou...
Estas não são conquistas com direito a taça mas, são momentos que nos engrandecem e que honram o amor que sinto por tão magnífico clube... E eis um Presidente que em diferentes ocasiões, mostrou saber honrar a nossa história e não esquecer nunca as nossas raízes.
E Pluribus Unum...
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