A cena repete-se. De cada vez que o Benfica aparece interessado em algum jogador Sul Americano, Chinês ou Sérvio, aparecem os patriotas lusitanos para lembrar todos os craques portugueses que temos cá dentro e espalhados por esse mundo fora, à espera de uma oportunidade de brilharem.
A ideia que querem passar é que talento “Made in Escolas da Luz” não falta, o que falta é coragem de apostar neles. Eu, sinceramente, continuo curiosíssimo em saber onde anda esse talento. Tal como num post que escrevi aqui há tempos, continuo à espera que me digam o nome de UM jogador português que o Benfica tenha tido nos seus quadros nos últimos anos, dispensado por nós e que depois tenha singrado ao mais alto nível noutro clube.
Se os houvesse, então sim, teria de dar muito maior credibilidade às criticas do que defendem tais ideias, mas a verdade é que não há. NÃO HÁ UM! A não ser que um jogador jovem talentoso dos quadros do Benfica só possa singrar no Benfica. A não ser que jogadores como Nélson Oliveira, se são realmente os craques que muitos vaticinam, só estivessem destinados a ser craques se jogassem na Luz e não tenham obrigação de se impor num clube como o Corunha, aliás, para onde foi porque pediu.
Nada tenho contra o rapaz e continuo, claro, a desejar que o seu talento desabroche mas, às vezes é mesmo preciso ir buscar estes exemplos para que alguns críticos percebam que o defeito não estava cá dentro, quando estes “craques” jogavam menos do que os críticos julgavam que mereciam jogar. Foi assim com Nélson Oliveira, foi assim com Roderick, foi assim com Nuno Gomes, foi assim com Quim, foi assim com Moreira, foi assim com Ruben Amorim. Tão bons que eram e tão alvos de injustiças eram quando jogavam de vermelho, que saíram pois para outras paragens mas a sua sina não se alterou.
Mas quando o Benfica aparece interessado num jogador como Di Maria ou Djuricic aparece então a lenga lenga do costume: Ah e tal, não apostamos nos nossos jovens “craques” mas apostamos depois em jovens craques de outras paragens! É as comissões, sempre a merda das comissões! E é aí que estas criticas perdem toda a credibilidade: Porque esta gente quer comparar um jogador de 21 anos português que nem no Corunha consegue fazer um jogo a titular, com outro jogador de 21 anos já “figura” na sua equipa e presença habitual na seleção do seu pais, ou com um argentino que aos 18 anos já tinha 36 jogos jogados pelo Rosário Central.
É que muita gente não percebe que os tempos mudaram. Muita gente ainda vem para aqui lembrar os Chalanas e os Ruis Costas, como se, jogadores como esses não tivessem hoje oportunidade de jogar no Benfica. Pois claro que teriam, como oportunidade tiveram André Gomes, André Almeida ou Fábio Coentrão. O talento tem sempre oportunidade, o que não tem é de ser forçosamente português.
Esta gente é injusta e devia ser mais séria quando aborda tais temas e compara realidades incomparáveis. Porque esta gente sabe bem que há 20 ou 30 anos o Benfica era maioritariamente português porque assim TINHA de ser. Esta gente sabe bem que nesses tempos ainda não havia Lei Bosman! Esta gente sabe que no 11 do Benfica só podiam jogar 3 ou 4 estrangeiros e apenas 6 poderiam ser inscritos. MAS NÃO ERA ASSIM SÓ NO BENFICA. ERA ASSIM NA EUROPA TODA! Esta gente sabe que se o Eusébio fosse 60 anos mais novo a estátua não estava na Luz! Estava em Madrid!
Esta gente sabe que no passado, o máximo que um jogador português poderia aspirar era a fazer carreira num grande clube português. Esta gente sabe que a Europa do futebol só estava aberta aos jogadores realmente de eleição, ao contrario do que acontece agora, em que qualquer miúdo que dê meia dúzia de pontapés na bola, tem as portas abertas em qualquer clube do mundo.
E se aqueles que mais críticos são em relação a estes assuntos parecem ser quase sempre mais velhos que eu, parece-me mais grave ainda. Porque isto é gente que sabe que durante anos, a jogar na Europa rica do futebol só andava um português solitário de nome Paulo Futre, ao qual se seguiu um outro de nome Rui Barros. Antes tinha sido Chalana mas, os emigrantes acabavam aí. Eram dois!! Pois onde jogavam então os outros portugueses, os Paneiras, os Rui Águas, os Velosos ou os Jaimes Magalhães? Em Portugal evidentemente, pois onde raio poderiam eles jogar?
E por isso eu chamo de desonestidade intelectual querer misturar tempos tão diferentes em quase tudo. É que até parece que foi só o Benfica que se internacionalizou. Até parece que no Arsenal e no Manchester City jogam muitos ingleses ou que no Real Madrid jogam muitos espanhóis. Jogam alguns sim mas, são poucos e são a elite, porque de facto são clubes que podem segurar os seus melhores talentos, que não estão a pedir para sair para outras paragens assim que o primeiro avião carregado de euros lhes zumbe ao ouvido!
E não perceber isto, não perceber os sinais dos tempos, é não perceber porra nenhuma! Porque esta gente julga que um Nélson Oliveira é diferente de um Di Maria. Esta gente julga que o Nélson Oliveira, ainda que fosse o craque que ainda não mostrou ser, ficaria no Benfica toda a vida só porque o Benfica lhe corre nas veias! E é aí que está o engano, porque na hora em que os tubarões europeus apertam o cerco (que nem precisa de ser tubarão, basta ser um qualquer clubezito russo desde que "bata o carcanhol"), tanto faz chamar-se Nélson Oliveira, como Fábio Coentrão ou Di Maria... Ou Miguel, Manuel Fernandes, Hugo Leal, Tiago ou Edgar: Dão-nos um pontapé no cú à primeira oportunidade! Esta gente julga sempre que o clube deve tudo aos jogadores e os jogadores nunca devem nada aos clubes!
Se eu quero mais jogadores portugueses no 11 do Benfica? Claro que quero! DESDE QUE O SEU VALOR JUSTIFIQUE A SUA PRESENÇA. Se sentirem o Benfica desde pequeninos tanto melhor, mas tal não tem de ser obviamente um requisito.
É hora de perceber que os tempos mudaram. É hora de perceber que a cultura do Benfica é ganhar, bem mais do que a nacionalidade dos seus jogadores.
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