Sem rodeios há que assumir: Era um jogo decisivo e foram dois pontos perdidos. Bardamerda para a conversa de que eram só três pontos e que na frente continua tudo na mesma. Não, não continua tudo na mesma. Num campeonato fraquíssimo em que dois clubes conseguem completar uma volta de campeonato com apenas 4 pontos perdidos (descontando o jogo entre si), só um tolinho não entende que os 6 pontos em disputa nos confrontos diretos entre Benfica e Porto são absolutamente decisivos. E por sabermos isso, sabemos também todos desde já que estamos obrigados em teoria a ir pelo menos empatar ao Covil do Dragão para manter as contas na mesma.
Ora, como todos sabemos, embora já lá tenhamos conseguido alguns bons resultados, sempre que jogamos naquele Covil, psicologicamente entramos sempre a perder. Aliás, até na Luz entramos já sempre a perder, sempre com um terrível complexo de inferioridade, como se inconscientemente na cabeça dos jogadores haja o pressentimento de que do outro lado está uma locomotiva a larvar carvão e pronta a carregar em cima deles.
E neste aspeto, e desculpem-me aqueles que não perdoam a um Benfiquista um elogio ao adversário mas, nestes jogos a doer, o FCPorto consegue mostrar quase sempre onde está a equipa dos homens e onde está a equipa dos meninos. É nestes jogos que se vê quem assume e quem se esconde do jogo, quem mostra os dentes e quem está com medo de levar uma pazada e fazer dói-dói, sabendo nós que os jogadores oriundos daquele covil jogam sempre na base da intimidação.
Daí, claro, as palavras irritadas de Vítor Pereira sobre Maxi Pereira, porque, de facto, estes tripeiros não estão habituados a ver os adversários jogarem com as mesma armas deles. Porque Maxi Pereira é daqueles que cerra os dentes e não se esconde, nem perde para ninguém em rispidez nem no ímpeto com que disputa cada jogada. Fossem todos assim, porque é aí que o Porto ganha quase sempre, é os jogadores portistas a mostrarem os pítons e os benfiquistas a encolherem-se, não sendo raro chegar ao fim dos jogos e perguntarmos: “Foda-se, mas nós estivemos em campo?”
Explicar este complexo de inferioridade que revelamos quase sempre nestes jogos seria conversa para especialistas mas, tem de estar forçosamente relacionado com três décadas de derrotas copiosas (umas mais justas que outras) e ainda com o sentimento inconsciente de que mesmo dentro do campo, as regras não são iguais para todos.
Nem no campo nem fora dele. Alguma vez o Benfica vai jogar ao Dragão sem pedradas às vidraças da camioneta, sem barulho à porta do hotel ou envolvido em clima de terror desde que entra até que sai daquele estádio? Alguma vez os nossos jogadores se passeiam pelo Porto em tranquilidade como os jogadores do Porto fazem em Lisboa, ou se vê Luís Filipe Vieira a ver o jogo tranquilo no camarote como Pinto da Costa o faz na Luz? Tudo isto são pormenores que explicam muita coisa, e que mostram claramente que para vencer aquela gente não é possível sermos sempre “bons rapazes”, é preciso jogar com as mesmas armas.
Mas sobretudo, é preciso primeiro derrotar estes pequenos estigmas mentais e este medo que o nosso leitor Conde de Vimioso um dia inteligentemente definiu como uma doença do cérebro, para formar uma mentalidade realmente campeã. É preciso os jogadores encherem-se de brio e disporem-se a morrer em campo, e ir de facto com tudo para cima deles! Porque estas manobras paralelas ao jogo que a nós sempre diminui, ao nosso adversário parecem sempre dar-lhe ainda mais força! E isso faz uma diferença de todo o tamanho!
E por isso discordo mais uma vez da análise demasiado simplista do meu colega de blogue Shadows. Porque para ele isto é sempre culpa do treinador. Resume-se tudo a isso. Resume-se à tática, como ele diz, ao 4-4-2, porque era preciso colocar mais um homem no meio campo. Ok, então e entre os 65 minutos e os 90, sem Lima e com Aimar e Carlos Martins em campo, passámos porventura a dominar o jogo?
Isto faz-me lembrar Scolari e o Europeu 2004. Diziam os críticos que foi preciso perder com a Grécia no primeiro jogo para o Brasuca apostar finalmente no meio campo do Mourinho que nos levaria ao Olimpo. Pois bem, e quando perdemos a final com a mesma Grécia, não estava já em campo Maniche, Costinha e Deco?!
É que quando o Shadows refere que Jorge Jesus mostra medo (argumento que não aceito porque mostrar medo era alterar um modelo de jogo consolidado em função do adversário), ou que Jorge Jesus não sabe o que é o Benfica, apetece-me perguntar-lhe em que mundo vive ele. Porque o Shadows, não tenho duvidas nenhumas, viveu tardes gloriosas a assistir a vitórias épicas do nosso clube, vitórias essas que eu, em função da idade, não tive oportunidade de assistir.
Mas esse Benfica não existe mais caro Shadows. Eu acho que tu hoje, e isto sem ofensa, é que não sabes o que é o Benfica. Porque o Benfica de hoje não é o mesmo de há 40 anos, por muito que isso te custe. O Nothingham Forest também foi Bi-Campeão europeu e hoje joga na segunda divisão. A hegemonia do FCPorto não começou com Jorge Jesus caro Shadows. A hegemonia dura há 30 anos!
Se vens explicar com Jorge Jesus os erros individuais que cometemos sempre contra o Porto, as tremideiras do Artur, do Garay, do Roberto ou do David Luís, então caro Shadows, vais continuar a contratar camiões de treinadores sem chegar nunca à raiz do problema. Porque não duvides, vais continuar a perder!
Ou se vais continuar a publicar dois e três posts por dia, a invocar o sistema, os penaltys fantasma sobre o Yebda, os foras de jogo do Maicon, as amarelinhas e os cozinhados da Liga Portuguesa, para depois, quando perdemos (ou não ganhamos) um jogo, esqueces todos esses posts e deixa de haver equipas levadas ao colo e outras que têm de lutar contra toda uma série de coisas, para passar a ser tudo culpa do treinador, mais uma vez, vais continuar a disparar tiros à toa sem acertar nunca no porta-aviões.
Porque o Sporting este ano, por exemplo, também foi capaz de anular o Benfica durante a primeira parte. Mas na segunda já não foi capaz, porque ninguém aguenta correr durante 90 minutos como os lagartos correram nos primeiros 45. Tu é que falas na amarelinha, mas de facto, se aquilo é só preparação física tiro o chapéu à equipa técnica do Porto, porque Fernando, João Moutinho, Lucho e Mangala pareciam toiros possuídos a correr sem o mínimo sinal de desgaste.
Uma palavra final para Matic, que grande jogatana do Sérvio. O tal, que à semelhança de Lima, Olá John, Enzo Péres ou Jardel por exemplo, por aqui foi arrasado bem antes de ter tido oportunidade de mostrar o que valia. Este era o tal que não era 6 nem era 8 e era um erro de casting de todo o tamanho.
Felizmente aí está mais um para provar que ainda há Benfica para além dos blogues.
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