Aqui há uns tempos, a propósito da venda de Di Maria por valores elevadíssimos mas, ainda assim, inferiores ao valor da cláusula (o que revoltou muito boa gente neste blogue), gerou-se aqui uma acalorada troca de opiniões. Um dos escribas afirmava categoricamente na altura, que Luís Filipe Vieira NUNCA tinha vendido BEM um jogador do Sport Lisboa e Benfica.
Eu discordei, porque entendi que a opinião do escriba e de muitos outros Benfiquistas era influenciada decisivamente pelo termo de comparação errado – as vendas do FCP –, e não a realidade do Mercado Futebolístico Europeu.
Um dos meus argumentos na altura, lembro-me, foi perguntar então ao escriba quais eram as vendas de jogadores por Luís Filipe Vieira, que alguma vez teriam valido posteriormente mais dinheiro do que aquele que entrou nos cofres do nosso clube na altura da sua venda. Para mim, vender mal era vender por 10 aquilo que seis meses depois já valeria 20. Nunca poderia ser uma má venda, vender por 25 aquilo que nunca mais na vida viria a valer os mesmos 25. Claro que para alguns, vender bem era vender por 40 aquilo que só valia 20, pressuposto completamente errado na minha opinião.
O propósito deste post não é no entanto desenterrar debates antigos mas sim fazer uma analise mais abrangente àquilo que têm sido algumas vendas milionárias do futebol português por parte de Benfica e FCP, e que têm permitido equilibrar gestões altamente deficitárias.
A pergunta que importa fazer é como será possível a Benfica e FCP sobreviverem no futuro sem essas receitas, num país em que aquilo que é a GRANDE fonte de rendimento dos colossos europeus – as receitas televisivas – só rende neste momento ao Benfica a mísera quantia de 7.5 milhões de euros anuais, sendo uma fatia mínima do seu orçamento anual!
Isto numa altura em que o espetáculo futebol se tornou num entretenimento de sofá, com 4 ou 5 jogos diários a entrar-nos por casa adentro; numa altura em que ser-se sócio de um clube tem vantagens cada vez mais questionáveis numa cultura de futebol cada vez mais empresarial; numa altura em que a proliferação das casas de apostas desportivas (e outras milhentas fontes de entretenimento) ajuda a fazer do “ver o futebol no estádio” um acontecimento cada vez mais raro, algo que se faz apenas de vez em quando, bem longe do hábito semanal enraizado no adepto mais antigo que fazia do apoio no estádio quase um modo de vida.
Este é pois um futebol com receitas televisivas de terceiro mundo e receitas de bilheteira e quotização em declínio, pelo que não é preciso ser nenhum génio de contas para perceber que Benfica e FCP devem pois a sua sobrevivência recente às tais vendas extraordinárias que têm sido capazes de realizar.
A minha pergunta no entanto é: Por quanto mais tempo? Por quanto mais tempo continuaremos a ser capazes de enganar a Europa rica, com alguns flops que temos sido capaz de despachar por 25 e 30 milhões, saídos de um campeonato pobre onde dois clubes são capazes de completar quase uma volta de campeonato com apenas 4 pontos perdidos?!
Voltando um pouco atrás, quantos desses jogadores saídos do futebol português por verbas milionárias nos últimos 7 ou 8 anos, provaram mais tarde em campeonatos mais competitivos que o nosso, valer o que foi pago aquando da sua contratação? Assim de cabeça, lembro-me de 5 apenas: Ricardo Carvalho, Pepe, Deco, Falcão e Ramirez.
No FCP temos flops milionários de Paulo Ferreira, Bosingwa, Anderson, Cissoko, Maniche, Bruno Alves, Lisandro Lopes, Lucho (repatriado três anos depois da sua saída a custo zero!), Meireles, Quaresma e Hulk (o tal que valia 100 milhões e saiu por 40, e 4 meses depois ganha o estatuto de maior flop do futebol russo!).
E no Benfica temos alguns enganos também da parte de quem os comprou, ao deixarem em Portugal sacas de dinheiro para levar Coentrão e Di Maria (longe de serem figuras principais no Real Madrid), David Luís (uma desilusão no Chelsea, atacado constantemente pela critica e que agora procura reconquistar o seu espaço na equipa na posição de trinco), Javi Garcia (já hoje uma figura menor do Manchester City para ser despachada a curto prazo), e Witsel (ainda uma incógnita mas que vai ter de pedalar muito para algum dia voltar a valer os 40 milhões por que foi vendido. Salva-se Ramirez (jogador extraordinário, eleito recentemente para o 11 ideal da Liga dos Campeões), e Simão Sabrosa talvez, que ainda assim “só” saiu por 20 milhões de euros!
Quero salientar porém que os jogadores acima têm obviamente o seu valor. O que não valem é os 25 ou 30 milhões por cabeça, pelos quais miraculosamente temos sido capazes de os vender a esses 4 ou 5 clubes geridos à base de fortunas pessoais que fazem do futebol um jogo de Monopoly.
É que analisando aquilo que têm sido as contratações europeias dos últimos anos, é fácil constatar que extraordinariamente, Portugal tem sido o país europeu que melhores vendas tem feito, não havendo muitos craques no mundo a serem transacionados por valores acima dos nossos.
Recordo por exemplo que, enquanto nós discutíamos neste blogue há pouco mais de dois anos a péssima venda que seria despachar Cardoso por “apenas” 25 milhões, o super craque Luís Suarez, acabadinho de sair de um grande Mundial de futebol, chegava a Liverpool do Ajax por 22 milhões!
Não custa portanto perceber que o mercado português está de facto inflacionado comparativamente por exemplo com o holandês ou francês, e que duvido que mantenha essa tendência por muito mais tempo. A verdade dos factos é que não há nada que o justifique. Em primeiro lugar porque a Liga Portuguesa é uma Liga notoriamente falida a precisar urgentemente de euros como de pão para a boca (qualquer dia temos apenas Benfica, Porto e Braga a disputar uma liga com 30 jornadas e a 6 voltas!), e em segundo porque os craques saídos do nosso campeonato a justificar o valor da sua contratação contam-se pelos dedos de uma mão, desencorajando muita contratação futura, já que nem toda a gente anda a dormir!
E sem essas receitas, é possível aos "colossos cá do sítio" sobreviver ao mais alto nível?
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