De quando em vez o fantasma de Vale e Azevedo volta a pairar sobre o Benfica, e especialmente neste blogue é uma delicia quando tal acontece. É a altura em que os ânimos aquecem, numa relação de amor e ódio sentida de forma bem particular por cada um.
No seguimento do excelente post do Shadows, Vale e Azevedo voltou, mas Damásio nunca saiu de cá, quero saudar mais uma vez alguém que há muito faz parte deste blogue com os seus deliciosos comentários, o Conde de Vimioso, com quem nem sempre concordo, mas um daqueles que leio sempre com especial atenção. Sem o conhecer pessoalmente parece-me um Puro Sangue, com o enorme mérito de dizer sempre aquilo que pensa (tão raro nos dias de hoje) e de ser incisivo nas suas opiniões. Para alem de, obviamente, conhecer mais dos meandros da bola do que alguma vez eu poderei conhecer.
E eu, sem ter dados para julgar a veracidade daquilo que escreve e vai dizendo, quem sou eu também para negar o que diz? Como posso eu negar ou contradizer alguém que aparentemente esteve tão dentro dos assuntos enquanto eu me limitei a observar de fora? Por isso, para que fique claro, neste assunto não julgo ninguém, limito-me a ler aquilo que se vai escrevendo, independentemente de ser o Conde a defender o ex-presidente ou outro qualquer a atacá-lo.
Mas sobre este assunto, gostaria também de adicionar o meu quinhão à festa, e o meu quinhão é analisar este assunto de uma outra perspetiva. É que eu, se calhar na minha ignorância, acho que sempre que se fala do assunto Vale e Azevedo se faz de uma perspetiva errada. É que passa sempre a ideia, pelo menos por parte daqueles que defendem o ex-presidente, que foi o Sistema que derrubou Vale e Azevedo, que foi a justiça, bem ou mal exercida por quem de direito, que tirou Vale e Azevedo do Benfica. E é aqui que a teoria falha na minha opinião, porque se bem me lembro, os problemas de Vale e Azevedo com a justiça atingiram o seu ponto alto quando os sócios do Benfica já tinham eleito outro Presidente, ou seja, Vale e Azevedo já não era o presidente do nosso clube. Foram os sócios que tiraram Vale e Azevedo do Benfica, não foram os tribunais, não foi o Sistema. Bem ou mal, foram os sócios. Aquilo que se passou depois, no que ao caminho que o Sport Lisboa e Benfica seguiu daí em diante diz respeito, é completamente irrelevante. Só é relevante para a vida de Vale e Azevedo.
E se eu aceito, que nessa célebre eleição, talvez tenha havido uma certa influência dos jogos de poder, uma certa campanha mediatizada pela comunicação social para que fosse Vilarinho o novo presidente, há algo que apesar de tudo me parece absolutamente inegável: É que Vale e Azevedo só caiu, ou melhor, caiu principalmente, porque qualquer Presidente corre o sério risco de cair quando os seus resultados desportivos foram durante três anos pouco mais do que miseráveis. E essa é para mim a verdade, embora saiba que alguns defensores do ex-presidente queiram por vezes passar a imagem contraria, de que o Benfica era uma equipa fortíssima, cheia de brilhantes jogadores, que nunca tinha perdido com o FCPorto em casa e réu téu téu pardais ao ninho.
O percurso de Vale e Azevedo nos seus três anos do Benfica é este, para que conste:
1997/1998
Campeonato: Segundo classificado a 9 pontos do FCPorto
Taça de Portugal: Derrota na ½ final com o Braga 2-0
Taça UEFA: Eliminação na primeira ronda com o Bastia
1998/1999
Campeonato: Terceiro Classificado a 6 pontos do Boavista e a 14 do FCPorto.
Taça de Portugal: Derrota nos 1/16 de final em casa com o Setúbal 0-2.
Liga dos Campeões: Eliminação na fase de grupos
1999/2000
Campeonato: Terceiro classificado a 4 pontos do FCPorto e a 8 do Sporting
Taça de Portugal: Derrota nos 1/8 com o Sporting 3-1
Taça UEFA: Eliminação na Terceira Ronda com o Celta Vigo (7-0 e 1-1)
Este era pois um Benfica futebolisticamente medíocre, um Benfica dirigido por Vale e Azevedo que falhara nos seus objetivos desportivos, com uma imensidão de sócios que, tal como acontece em qualquer situação semelhante, estava ávida de mudança, ávida de sucesso desportivo, e Vilarinho foi por assim dizer uma alternativa que apareceu, que prometeu Jardel e não cumpriu, mas que representava isso para os Benfiquistas: novamente a esperança e uma nova luz ao fundo do túnel.
Claro que me recordo bem desses tempos, da catadupa de capas de jornais sempre cheias com calotes ou dívidas que o Benfica não pagava, lembro-me de como os jornais passavam a ideia de um Benfica sem credibilidade nem dignidade, lembro-me até da minha meninice, nas discussões de futebol com amigos Lagartos ou Tripeiros na escola, em que até já eu dizia, pois que mais poderia eu dizer, que todos as dívidas que eles inventavam para nos denegrir ou humilhar, não eram problema nenhum pois o Benfica simplesmente já decidira que não pagava. E se não pagava era como se não houvesse dívidas nenhumas. Pois que mais poderia um Benfiquista dizer nessa altura, se não brincar com as situações?
E essa é para mim a verdade. Vale e Azevedo caiu porque desportivamente falhou, e aliado a isso tinha associada a si a imagem de um Benfica profundamente ferido nos seus valores e na sua dignidade, que ainda assim não teria peso nenhum na cabeça dos sócios, fosse o Benfica da altura um clube ganhador. Caiu como tantos outros Presidentes caíram, e o que o tornou figura incontornável na história do clube foi o que se passou depois, os seus problemas com a Justiça que o tornaram numa espécie de mártir e no fantasma que há-se sempre surgir de vez em quando na mente de cada um, quando alguém quiser invocar um momento específico que tenha mudado o curso da nossa história.
E o fantasma é esse: é que para os defensores de Vale e Azevedo, o futuro do Benfica com Vale e Azevedo seria sempre brilhante, algo que será sempre facílimo de dizer, visto não haver qualquer hipótese de contraditório.
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