A pouco mais de um mês das eleições do nosso clube preocupa-me este vazio eleitoral, a ausência de um programa alternativo, a ausência de um rosto capaz de criar entusiasmo e unanimismo em seu redor. Preocupa-me ainda mais porque este fim de mais um mandato de Luís Vieira não é propriamente um fim feliz, não é o fim de um mandato que tenha acrescentado muitas taças ao nosso museu, não é um fim sem dossiers muitíssimo importantes em aberto e a merecer um construtivo debate que provavelmente nunca irá acontecer (ex. Direitos Televisivos), não é o fim de um mandato imaculado em termos de erros, é até o fim de um mandato anunciado a seu tempo como o “Mandato dos Resultados Desportivos”, e que, muito claramente ficou aquém do desejado. E quando num contexto destes não aparece ninguém com vontade de dar a cara, preocupa-me realmente esta letargia a que chegou o meu clube, e que me leva a tirar uma de duas conclusões:
1. Ou a grande maioria desses tais potenciais candidatos está feliz com o atual estado do clube e não vê qualquer razão para debates ou mudança, opção essa na qual sinceramente não acredito;
2. Ou então sou obrigado a acreditar naquilo que muitos dos críticos da atual gestão foram apontando ao longo do tempo: que Luís Felipe Vieira tudo tem feito para se perpetuar no poder, através do apoio das Casas do Benfica e do tão polémico golpe dos estatutos, e qualquer potencial candidato sabe desde já que qualquer programa alternativo está derrotado à partida.
A razão deste meu texto não é propriamente condenar antecipadamente Luís Felipe Vieira e exigir outro presidente. O que eu gostava é que este fosse um tempo de debate e reflexão e que cada sócio em consciência tivesse a possibilidade de decidir entre pelo menos dois programas alternativos. Daria força a quem quer que fosse eleito.
Pessoalmente, não quero cair no erro de achar que LFV não tenha feito nada de bom pelo clube (fez, e muito ao longo de dez anos), mas entendo que Luís Felipe Vieira tem falhado redondamente nesta segunda parte do seu “reinado” – a parte em que terminou com sucesso a reestruturação do clube e anunciou que, agora sim, estavam reunidas as condições para se alcançar o sucesso desportivo.
A verdade é que estes últimos 4 anos de LFV, os tais em que o plantel do Benfica foi inquestionavelmente valorizado em termos de qualidade e que se iniciou com Quique Flores, campeonatos nacionais conta-se apenas um, Taças de Portugal contam-se zero, e Taças da Liga não aquecem nem arrefecem o coração de nenhum Benfiquista. O mandato do sucesso desportivo falhou claramente e, pior do que o falhanço, é não se pode poder dizer que os erros da direção não contribuíram decisivamente para esse insucesso.
Eu não creio sinceramente, que valha muito a pena falar do passado, falar por exemplo do segundo ano de Jorge Jesus no clube, no qual LFV veio justificar o seu insucesso com o mais puro amadorismo de terem passado demasiado tempo a festejar o título conquistado um ano antes. Ou falar do ano passado, quando, com o Benfica na frente com cinco pontos de avanço, LFV decide ser oportuno dar uma entrevista televisiva, entrevista essa totalmente fora de tempo, assim ao género de celebração antecipada de um título que nunca viria, para meter mais uma vez os pés pelas mãos ao anunciar que só voltaria a falar de arbitragem quando esta fosse profissional. A partir de aí foi comer e calar até ao descalabro final.
Falemos pois do presente e, quando se espera que, caramba, que esta gente que tem como única missão pensar o clube a tempo inteiro, seja capaz de aprender com os erros e tomar decisões que nos valorizem, chegamos então ao início de uma nova época na qual os erros grosseiros foram ainda mais grossos e chegaram ainda mais cedo do que em épocas anteriores!
A verdade nua e crua é que só um milagre de Jesus nos pode salvar. Se Jorge Jesus for campeão esta época será a prova inequívoca das suas capacidades, porque, independentemente dos defeitos que tem e dos erros que tem cometido, não foi Jorge Jesus que vendeu Coentrão, Di Maria, Ramirez, David Luís, Javi Garcia ou Witsel.
Não me parece que tenha sido JJ a avançar para a compra de Olá John se não tivesse sido a direção a contar já com a venda de Gaitan. E também não me parece que tenha sido JJ a chegar ao último dia do mercado de transferências e a “vender” – Sim, Sr. Rui Gomes da Silva, vender, e não OBRIGADO a libertar pelo valor das cláusulas ter sido depositado por inteiro no banco - os dois jogadores que eram o coração da equipa, sem ter hipótese de os substituir minimamente. Mais, com Airton e Rúben Amorim emprestados a outros clubes, e que resolveriam só por si metade dos nossos problemas. Foram 70 milhões em vendas?
Foram sim senhor e inquestionavelmente excelentes negócios. Mas num clube com esta grandeza não se pode ser apanhado descalço desta maneira. Isto é o mais puro amadorismo! Atirar com milhões aos olhos dos sócios, é como o governo anunciar reduções de deficit com pompa e circunstância quando os bolsos dos portugueses estão cada vez mais vazios! Os benfiquistas não querem milhões, querem títulos! Ou pelo menos querem milhões que sirvam para financiar uma estrutura de futebol competente e capaz de nos garantir esses títulos.
A sensação com que fico, é que apesar de erros evidentes do nosso treinador, é Jorge Jesus que tem suportado com pinças a direção do clube. Em primeiro lugar com um título nacional logo na estreia, ainda por cima com excelente futebol, e que a todos fez acreditar que o Gigante tinha finalmente acordado. E em segundo com 170 milhões em vendas de 6 jogadores, 3 deles que antes de Jorge Jesus já cá andavam e não valiam tuta e meia. Continuou a falta de títulos mas vieram os milhões, muitos milhões mesmo, que têm no fundo suportado toda a máquina desportiva do clube e que nos permitiram competir finalmente com o FCP em alguma coisa – no campeonato dos Euros.
Chegamos então a esta época com um médio defensivo no clube, Matic, que nem por si é extraordinário jogador, nem está imune às lesões numa época que tem mais de sessenta jogos! Talvez JJ opere um milagre e, como Benfiquista tenho de ter essa esperança e acreditar ser possível. Mas, infelizmente, acredito pouco ou nada, porque até no futebol os milagres são cada vez menos. E ainda que o milagre aconteça, terá sido, mais uma vez, um título esporádico, um coelho da cartola de Jorge Jesus, e não um título sustentado pelo acerto das decisões desportivas desta direção.
Em breve estaremos novamente a falar de arbitragens para justiçar azares, das Direções da Liga e da mania da perseguição mas, a verdade nua e crua é que falhámos mais uma vez, e ao fim de tantas vezes, no nosso trabalho de casa. E é por isso que, neste contexto, me preocupa de facto esta falta de projetos alternativos em vésperas de mais um período eleitoral. Mas, caramba, será o Benfica de hoje a imagem do pais? Acomodado, sem rumo e sem ideias?
by REDMOON
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