Javi Garcia era um dos atletas emblemáticos do Benfica; pela postura, pala garra, pela competência, pela eficácia, pela coragem, pelo amor ao clube que deixava transparecer, víamos nele um dos pilares da reconstrução da velha “mística” Benfiquista, tão necessária ao sucesso desportivo do nosso clube. Não o esqueceremos tão cedo, desejamos-lhe o maior sucesso, mas sabemos que deixa uma lacuna na equipa difícil de colmatar e, sobretudo, ficámos afetivamente “amputados” e por isso, tristes.
Axel Witsel é um atleta de eleição, fortíssimo; fisicamente, tecnicamente e taticamente. Corajoso e cordial também. Mais um atleta à Benfica que daria contributo decisivo na conquista das vitórias porque ansiamos e de quem começávamos a gostar. A sua saída abriu novo “buraco” na equipa e no nosso afeto.
Lembro os casos de David Luís, Ramirez, Di Maria, Coentrão, muito semelhantes e que prosseguem as suas carreiras noutras paragens com relativo sucesso.
Além dos prejuízos desportivos óbvios para o nosso clube, as inevitáveis consequências afetivas dos adeptos para com o clube, poderão ser severamente afetadas no futuro com a sucessão destes casos. A ligação afetiva dos sócios, adeptos e simpatizantes ao seu clube “do coração”, sendo decisiva para a subsistência e desenvolvimento do mesmo, materializa-se nos atletas mais emblemáticos, que seriam recordados com alegria e saudade por muitas décadas, constituindo o património imaterial, porventura o mais relevante de todos, enquanto gerador de sonhos e motivação de novas façanhas.
O ser humano é um mecanismo extremamente complexo e, muitas vezes, incontrolável. A expetativa de “amputação afetiva” sucessiva, inevitavelmente, conduzirá, compulsivamente, silenciosamente, o adepto, a relativizar, aligeirar, essa relação com o seu clube o qual, progressivamente, perderá a identidade tradicional, podendo, eventualmente, cair nesse vazio afetivo, sem o qual, julgo eu, a magia da arte futebolística desaparecerá. Emergirá uma nova identidade igualmente poderosa, substituta da atual? Qual? De momento, não tenho resposta para esta pergunta, só sei que já não existem os pressupostos do passado que fizeram do Benfica aquilo que é hoje e que é melhor olharmos em a frente, procurando os caminhos do futuro num contexto completamente diferente dos do passado.
O grande capital e a globalização, associados à insaciedade da FIFA, da UEFA, das federações, ligas nacionais e dos clubes mais poderosos da europa, estão a conduzir o futebol a um estado de total descontrolo, perante a passividade “criminosa” da UE, que a tudo assiste com olímpica indiferença. Sucedem-se as competições desportivas, atropelando-se umas às outras, apenas pela necessidade de gerar receitas para sustentar toda esta loucura incontrolável. Hipocritamente, regulamenta-se e impõe-se o fair-play financeiro aos clubes, implementando em simultâneo calendários desportivos inviabilizantes de qualquer racionalidade na gestão clubística. Perante “o cheiro do graveto” nada nem ninguém resiste! De nada valem contratos, nem cláusulas de rescisão, nem “sinceras”juras de amor pretéritas.
Noutros tempos, quando os clubes eram “donos” da carteira desportiva dos atletas, era comum ouvir estes indignarem-se com a mercantilização de que eram vítimas por parte daqueles, hoje, não só não se indignam, como a desejam! Afinal, salvo honrosas exceções, o clube que todos amam é o “faz-me rir”.
O campeonato nacional já vai na terceira jornada, com dois atletas estruturais a menos, de que serviu o planeamento desportivo efetuado? E que justiça desportiva, e, portanto, idoneidade, tem a competição? Porque é que a UEFA e a FIFA não proíbem a transação de jogadores de clubes cujos campeonatos já estejam em curso? Vale tudo? E que poderá fazer o Benfica para evitar estas situações?
A não ser que a UE aprove regulamentação apropriada, o Benfica deve ter acesso aos mercados de todos os seus pares; Espanhóis, Ingleses, Franceses, Alemães, Italianos, etc. Tal só é possível participando em competições europeias transnacionais onde tenha acesso às receitas correspondentes. Não falo da atual Liga dos Campeões, mas de campeonatos europeus de dois ou três níveis. Simultaneamente, pôr-se-ia fim a provas inúteis, como a Taça de Portugal, a Taça da Liga e a Supertaça. Em cada país organizar-se-iam campeonatos com os restantes clubes em contexto a estudar; profissionais, semiamadores e amadores.
Sei que temos bons atletas no plantel que poderão minimizar as perdas; sei que se abriu espaço para as jovens promessas da formação, oxalá os nossos Técnicos os possam otimizar. Recomendo à Direção que use os 40 ME da venda do Witsel para amortizar o passivo e que mantenha a todo o custo um núcleo de atletas icónicos portadores da temível mística Benfiquista. Refiro-me ao Luisão, ao Máxi, ao Aimar e ao Cardozo, a que se poderão juntar muito em breve, o Artur, o Garay, o Carlos Martins, o Rodrigo, o Sálvio e o Melgarejo. Teremos que ser capazes de o fazer, cultivando sempre o estilo “perfumado” do nosso futebol.
AB
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