Fazendo uma análise da AG de ontem há muitos factores que têm que ser equacionados pela Direcção do Benfica e pelos sócios do clube.
Começando pelo óbvio, os resultados, que servirão de ponto de partida para esta análise. O orçamento do clube foi aprovado com 4499 votos a favor, 2294 contra e 784 abstenções. Ora isso dá um número total de votos de 7577 votos o que indica que percentagem de votos a favor do orçamento foi de 59,4%. O número de votos contra e abstenções chegou aos 41%.
O que isto demonstra é que a base de apoio desta Direcção está a sofrer uma forte erosão. Compare-se estes números com os que esta Direcção obteve em AGs anteriores e o que se verifica é que os "abutres" e "papagaios" já perfazem pelo menos 41% dos votos do Benfica.
E digo que perfazem 41% dos votos, porque em termos de número de sócios não tenho dúvidas que, pelo menos ontem, houve mais sócios a votar contra o orçamento que a favor. Qual teria sido o resultado da votação de ontem se tivesse decorrido segundo os antigos estatutos??
Porque é que o orçamento foi aprovado então? Graças aos novos estatutos anti-democráticos aprovados á três anos.
Segundo esses estatutos sócios com mais de 25 anos de filiação têm direito a 50 votos. Logo possuem um poder totalmente desproporcional comparativamente com sócios (comprovadamente benfiquistas) que têm mais de 15 anos de filiação. Estes estatutos promovem a desigualdade entre benfiquistas e permitem que uma minoria tenha um poder desproporcionado sobre os destinos do clube. Ora satisfazer uma minoria é muito mais fácil do que responder perante a maioria de benfiquistas claramente descontentes com o rumo do clube.
O que salvou efectivamente a Direcção ontem foram uns estatutos, que mais do darem estabilidade ao clube ofereceram protecção a quem pretende perpetuar-se no clube e se mostra claramente reticente em ser avaliado pelos seus resultados.
Porque é que digo isto? Porque se estes estatutos tivessem sido construídos para conferir estabilidade ao clube então:
- Não havia a mínima necessidade de conferir 50 votos a esses sócios, nem ás casas do clube,
- Nem definir que só sócios com mais de 25 anos de filiação se possam candidatar á Presidência do clube (são precisos mais anos de filiação do que anos de vida para se poder candidatar á Presidência da República),
- Definir que a data para as eleições de uma nova Direcção aconteça em Outubro já com o campeonato a decorrer. Faz isto mais sentido do que definir eleições para Maio/Junho onde se pode fazer o balanço de um mandato e dando tempo a uma nova Direcção para preparar a época?
Para compreender que estes estatutos não foram construídos com o intuito de conferir estabilidade mass servem para a perpetuação de quem lá está (ao bom estilo venezuelano) basta somar os votos da brigada do reumático e o facto de que as casas do Benfica apoiam Vieira numa recandidatura (quando como orgãos que representam o Benfica deviam era ser imparciais nas eleições ou manifestarem o seu voto contra ou a favor de Vieira conforme uma votação dos seus associados e isto se aparecer uma candidatura alternativa).
Quanto á data das eleições torna-se mais do que óbvio o motivo para tal escolha: basta analisar as capas de jornais que têm saído desde que o Benfica perdeu o campeonato sempre preenchidas com as próximas vedetas que o clube vai contratar para se compreender que o propósito será anestesiar os sócios com mais uma pré-época de sucesso carregada de muitos troféus em torneios que não contam para nada e novas estrelas como Ola John que custou 8 milhões, ou De Jong que pelos vistos custa 15 milhões. Onde é que um clube com mais de 400 milhões de passivo e pagando 21 milhões de juros vai buscar este dinheiro não faço ideia mas isso não interessa para manter o tacho.
Junte-se a isto os habituais começos de época bons de Jesus e temos a receita pronta para os benfiquistas ignorarem todos os erros e tiros nos pés neste mandato.
Voltando á AG de ontem, gostava de salientar o benfiquismo fervoroso dos atletas da secção de boxe do clube. Estavam lá claramente para demonstrar o seu apoio pelo clube.
Se a Direcção continuar a seguir por este caminho de hostilização dos sócios do clube vai chegar eventualmente a um ponto de não retorno (um ponto que não está longe). Um ponto que levará inevitavelmente a um afastamento de um número demasiado grande de sócios que mesmo os "fiéis" dos 50 votos não chegarão para contrariar a maré de benfiquistas descontentes.
Por isso mais do que andar a recrutar os atletas de boxe para actividades extra-desportivas, mais do que andar com truques estatutários para se manterem no tacho o que é necessário é uma limpeza dos parasitas profissionais e uma mudança de postura para uma postura de diálogo e negociação com os sócios descontentes. O verdadeiro inimigo está no Norte e o rival no outro lado da Segunda Circular, por isso ataquem esses em vez dos benfiquistas.
Alguém dúvida que se em vez de uma AG se as eleições tivessem decorrido ontem e com o consequente influxo de sócios descontentes esta Direcção já não estaria lá?
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