De mão estendida

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Wednesday, February 1, 2012

De mão estendida

A festa comemorativa dos 25 anos chegara ao fim. O convívio fora bonito e, depois de se despedir do último convidado, por sinal o de honra e de nome Fernandes, a nostalgia começou a apoderar-se de si. Era sua vontade que a noite jamais terminasse. Envolto em pensamentos, a custo trancou a porta e instintivamente meteu as chaves ao bolso, indo de encontro à carta recebida nessa tarde.

Sabia que eram más notícias e optara por deixá-las para depois da festa, não fossem as mesmas estragarem-lhe irremediavelmente uma noite de glória que se queria perfeita. Depois de um suspiro e alguma hesitação, virou costas e percorreu alguns trôpegos passos, optando por sentar-se à beira do passeio perante alguma incredulidade dos que ali passavam e se questionavam o que fazia aparente douta figura ali sentado.

O regozijo pela noite dera lugar a uma nítida preocupação. Alheio às impressões que o rodeavam, tão pouco lhe interessava estar a sujar o bonito fato comprado a crédito propositadamente para o evento. Era massajando o envelope e olhando para o infinito que os seus pensamentos o transportavam pelo tempo.

Recordava então erros outrora cometidos e quão míseras tinham sido as contrapartidas que advieram da sociedade com o amigo Costa, também ele a atravessar tempos difíceis mas ainda assim bem melhor na vida. De rosto fechado e sisudo, atropelado no raciocínio pelo verão de 93 no qual as suas atitudes deixaram o vizinho de rastos, deixava ainda assim escapar um sorriso ténue.

Talvez a estratégia não tivesse sido a melhor, pensava, enquanto recordava o acordo pecaminoso contra o tal vizinho entre o Roquete e o amigo Costa. Ciente que a guerra com o vizinho apenas o outro servira, baixou então a cabeça algo resignado, compreendendo finalmente que as energias dispendidas consumiram-no mais a si do que ao vizinho, capaz de trilhar o seu próprio caminho.

Revoltado consigo próprio, olhou uma última vez o envelope de forma frontal e, segurando-o com as duas mãos, decidiu-se finalmente por abri-lo...

Estava falido.

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