Continuação de “A Decadência do Futebol”.
Primeira nota prévia: Um abraço ao nosso querido Eusébio com o desejo de rápidas melhoras.
Segunda nota prévia: Ao visitante das 16:23, que teve o mau gosto de escolher para nick um nome que nos é caro, digo que é bem-vindo quando vier por bem, apesar de ser adepto do FCP. Creio no entanto que faz parte do “departamento de contra-informação Portista” que, infiltrando-se entre Benfiquistas, pretende lançá-los uns contra os outros bem como contra os seus Dirigentes, Técnicos e Atletas. A vossa retórica é como uma impressão digital. Capichi?
Agradeço a todos os restantes comentadores e desenvolvo mais um pouco:
Grande parte do que Declan Hill refere no seu livro “Máfia do futebol” não foi novidade para mim; na verdade, conheço muito bem, desde há muito, o fantástico trabalho de Marinho Neves na sua obra de ficção “Golpe de Estádio” olimpicamente ignorada pelas autoridades, quer judiciais quer desportivas, apesar das repetidas denúncias públicas que teve a coragem de fazer e que, alegadamente, lhe custaram umas valentes bordoadas no pêlo, sem que os seus autores, que eu saiba, tenham sido identificados, acusados, julgados e condenados. Também Hill esteve perto de ser abatido, tendo tido o sangue frio e a ajuda suficientes para escapar. Porém, nada o demoveu, apesar do medo. São pessoas como estas que me fazem acreditar que pode haver esperança.
Por outro lado, quem andou pelo Mundo, está habituado a ver futebol, sabe ler nas entrelinhas e sabe fazer contas elementares, percebe bem o que se passa desde há muito. A certeza da impunidade levou os “artistas” a desleixarem-se, ostentando despudoradamente e ironicamente as suas manobras saloias. A absolvição de alguns arguidos por desclassificação de provas e de testemunhos não impede a condenação pública; já dizia o poeta; “não há machado que corte/A raiz ao pensamento/Porque é livre como vento/Porque é livre…”
Efetivamente, o que pensar dos clubes A,B,C,D,E,F,G,H, habitualmente competitivos, quando, ao defrontar o clube Z, prescindem de atletas nucleares por pseudolesão ou ostensiva opção técnica dos seus treinadores, adotando, simultaneamente, táticas surpreendentes e inadequadas aos olhos de todos, resultando numa derrota aparentemente consentida? Por mim, começo a desconfiar!
Mas, se verifico que, após esses fatídicos jogos, aqueles clubes, começam a subir na tabela classificativa beneficiando aqui e ali - assim como quem não quer a coisa - dos inevitáveis erros humanos das equipas de Arbitragem, grosseiros ou não; aí, eu desconfio!
Porém, se por um qualquer acaso verifico que, entre tais clubes, todos eles em pré-falência, e o clube Z, no decurso ou no final da época, há transacções de atletas, resultando num financiamento líquido do segundo aos primeiros; aí, eu começo a suspeitar!
Não obstante, se acontece observar que os dirigentes desses clubes são aliados crónicos do clube Z nas instâncias desportivas e outras; agora, eu tenho fortes suspeitas!
Ao ver repetir-se este triste fado ano após ano, década após década, com os mesmos protagonistas, eu tenho a “certeza” de que há uma aliança entre estes clubes, que visa a obtenção de benefícios financeiros e desportivos de todos eles, com prejuízo dos restantes concorrentes “não alinhados”, os quais, sendo habitualmente vítimas dos “naturais” erros grosseiros das equipas de arbitragem vêm-se “gregos” para defenderem a manutenção ou lutar pelo primeiro lugar, acabando alguns mesmo por ser despromovidos.
Por outro lado, se verifico, que, ano após ano, década após década, as equipas de arbitragem que mais erros grosseiros “naturais cometem” favoráveis àquelas equipas, são as melhores classificadas no respectivo ranking; eu desconfio que o sistema de supervisão e classificação correspondente está adulterado.
E se, por um acaso acontece, que os responsáveis máximos das instituições desportivas tutelares, afirmam em pleno Tribunal, que nunca desconfiaram de nada porque raramente vêm pédibol; eu concluo que há conivência dos mesmos, por omissão.
Agora, digam-me os meus caros leitores o que hei-de pensar perante notícias de que “tal arguido”, com ligações aos clubes referidos, foi absolvido, tendo-se verificado alegada inabilidade do responsável pela acusação?
E se o acusador, perante um processo de crime punível com pena de prisão superior a cinco anos, envolvendo arguidos dos clubes “beneficiados”, para o qual as escutas telefónicas legais servem como prova, resolve dividir o processo em dois, reduzindo-se consequentemente, para cada um deles, a pena de prisão aplicável para três anos, invalidando as irrefutáveis escutas disponíveis e inviabilizando assim a condenação dos arguidos, o que hei-de eu pensar?
E, que hei-de pensar se, no meio de tudo isto há notícias; de forças de segurança que não notificam testemunhas de acusação apesar de estas residirem nas suas moradas oficiais, de suspeitas de fugas de informação aos arguidos do interior da polícia de investigação, de suspeitas de apoio de magistrados a fugitivos das autoridades, de suspeitas de bloqueio de investigações por parte de magistrados que frequentam regularmente camarotes presidenciais, de testemunhas de agentes da autoridade abonatórias dos “líderes” de grupos de agressores dos seus próprios colegas, apoio público a arguidos em cerimónias hipócritas, com declarações de admiração de altas figuras da cena nacional, tendo algumas das quais desempenhado altos cargos públicos?
Um alto magistrado disse um dia: “A justiça julga os casos e os casos julgam a Justiça”. Pois eu acho, que os casos subjacentes, condenaram a justiça no Tribunal da opinião pública e com ela, a Democracia, tal como aos autoproclamados democratas desta arruinada terceira República.
O que Hill trouxe de novo, foi a informação da amplitude e profundidade do arranjo de jogos ao serviço do jogo ilegal com origem na China, a estrutura fortemente organizada, hierarquizada e implacável das redes de corrupção, as verbas astronómicas que movimentam - talvez superiores às do próprio futebol -, a capacidade de adulteração de um jogo de um Mundial de futebol ou da Liga dos Campeões ou outro por dois “chungosos”, a partir de uma qualquer taberna de Singapura, o envolvimento de grandes clubes e atletas europeus como os casos referidos do Manchester United do Liverpool e outros, em esquemas de corrupção num passado tido por glorioso e os detalhes; nomes dos envolvidos, entrevistas com os mesmos, casos concretos, métodos utilizados e tratamento estatístico na Universidade de Oxford da informação recolhida e as suas conclusões.
Nas páginas 164 e 165, refere-se ao caso de Portugal onde, em geral, diz o que já sabemos; Refere-se a Pinto da Costa, como: “ um fenómeno Português, tão desagradável, tão poderoso e, aparentemente, tão natural ao ambiente, que parece inspirar um orgulho perverso e conformado”. Faz referência ao envolvimento de Carolina Salgado e à sua afirmação segundo a qual: “ comparado com o mundo do futebol Português, No Calor da Noite, o mundo da noite e do Alterne é quase como um jardim infantil povoado de inocentinhas criaturas”. Elogia o “Golpe de Estádio” de Marinho Neves, alude à prisão de Vale e Azevedo: “por fraudes relacionadas com o futebol”, refere a intervenção de Fernando Barata por alegada corrupção do respectivo árbitro em favor do Porto do jogo da meia-final da Taça das Taças de 1984 com o Aberdeen treinado na ocasião por Alex Ferguson (esta é que eu não sabia; daí a conhecida alusão deste à compra de títulos no supermercado pelo Porto), cita a alegada afirmação do Capitão do FCP, segundo a qual: “Pinto da Costa era um grande Presidente com grandes valores éticos”, faz referência ao Presidente da APAF Vitor Reis por alegadamente ter afirmado: “É já tempo de saber, de uma vez por todas, quem no futebol tem ética e quem não tem” e conclui concordando com este, opinando que: “Infelizmente, isso parece não ser possível”.
Quantas vezes sonhei com o grande Buffon para a baliza do nosso Benfica! Guardo Canavaro no meu imaginário como um dos melhores centrais de sempre! Admiro a tenacidade de Gatuso, uma referência do meiocampo do recente Milão! Afinal, heróis de papel, cuja ambição destruiu para sempre o seu legado de atletas de referência histórica, fazendo-nos temer o pior por receio da vulgarização da trafulhice e, finalmente, contaminando o nosso inocente prazer de disfrutar dos jogos futebol.
Perante tudo isto, resta-nos, finalmente, o regresso às origens; à profunda e simples emoção de ver os nossos atletas de vermelho e branco, no fascinante relvado, deliciarem-nos e aos nossos contrários, com a arte do jogo como fizeram ontem, respeitando público e adversário; a esperança de nunca vermos o nosso querido clube envolvido em tais indignidades; e o sonho, porventura utópico, de que, um dia, haveremos de conseguir acabar com esta vergonha, que radica na imaturidade cívica e cultural crónicas de grande parte da população, patentes também noutros sectores da sociedade portuguesa.
Um abraço a todos
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