Gaiolas e papagaios

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Friday, November 25, 2011

Gaiolas e papagaios

1. «Não se percebe o porquê da polémica já que em vários estádios por essa Europa fora, existe a tal 'caixa de segurança’». O parecer do insuspeito subintendente Costa Ramos foi apenas mais um a juntar a muitas outras vozes competentes. Evidentemente, face à pouca ou nenhuma objectividade da algazarra leonina resultam poucas certezas; uma delas que os corredores de Alvalade estão ainda bem vivos e continuam a atrofiar as direcções que ficam obrigadas a patentear uma conduta estapafúrdia com origem num anti-benfiquismo primário; outra, há efectivamente muito nervosismo (como aliás se pôde ler nas entrelinhas das declarações de Schaars); last but not the least, a relação privilegiada que o vizinho da 2.ª Circular tem com a imprensa, da qual põe e dispõe.

2. «Não gosto do Sporting»... Porque... «No meu bairro, era um clube de elite, da polícia, que não gostava das pessoas de cor, era racista». Critique-se ou não o timing das declarações de Eusébio, ponha-se ou não em causa a sua eloquência, o direito de opinião que lhe assiste até foi desta feita devidamente fundamentado. Contudo, muito por via da falta de arcaboiço dos sportinguistas que não aceitam as suas origens, a simplicidade das declarações do Pantera Negra foi mal aceite. É engraçado como após décadas de falácias em torno do tão propalado «clube do regime» com que sempre se justificou a hegemonia encarnada (e que os benfiquistas pouco amiúde decidiram contrariar), uma verdade dê origem a tanta celeuma, cuja aberração "Em matéria de estupidez, Eusébio é king" (do Duarte Moral do Correio da Manhã) apenas representa parte do desvario verde e branco que por aí anda.

Como escrevia brilhantemente Luis Fialho no jornal O Benfica de hoje; «Sporting sempre foi, de facto, um clube genericamente conotado com as elites económicas e políticas, nomeadamente durante o Antigo Regime, fosse em Moçambique, em Lisboa, em Évora, ou em Carrazeda de Anciães. Os primeiros estatutos do clube do Visconde de Alvalade apenas permitiam a adesão a "filhos de boas famílias", e ao longo dos anos, muitas vezes ouvimos sportinguistas manifestarem o legítimo orgulho de pertencer a um clube "diferente”, logo, elitista e restrito. Como será fácil de perceber, na África colonial dos anos cinquenta este elitismo andava frequentemente de braço dado com o preconceito racial. Nem é necessário trazer para aqui os vários dirigentes leoninos ligados à PIDE ou à Legião Portuguesa, nem o facto de os anos dourados do Sporting terem coincidido com os anos de maior vigor salazarista. Bastará, simplesmente, lembrar que a cor (e não só) do Benfica agradava pouco aos senhores do regime, facto que, desde logo, os empurrava para os braços do rival. Ao pendor democrático, popular e interclassista do nosso Clube, sempre se opôs o snobismo sportinguista. Quer queiram, quer não, é essa a matriz genética de cada um dos clubes, os quais, sem elementos geográficos que os possam diferenciar, ancoraram a sua identidade noutros factores - que lhes dão densidade, e os tomam muito mais do que simples abstracções desportivas. De resto, é assim também em Buenos Aires, em Atenas, em Roma, em Milão, em Manchester, em Liverpool, em Viena, ou em qualquer outra cidade futebolisticamente dividida.»

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